Debate sobre desafios, fortalecimento e conquistas da Educação Escolar Indígena no estado de Roraima marca o primeiro dia da 23ª Assembleia Estadual da OPIRR

Por CIR

Com a apresentação cultural dos grupos “Donos da Terra e Brilho da Natureza”, da região Surumu, formado pelos alunos indígenas, o primeiro dia da 23ª Assembleia Estadual da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) foi marcado pelo debate sobre os desafios, fortalecimento e conquistas da Educação Escolar Indígena no estado de Roraima. A Assembleia iniciou nesta terça-feira, 7, na comunidade indígena Canauanim, Terra Indígena Canauanim, região da Serra da Lua, município de Canta.

O evento reúne mais de 1600 participantes, entre, professores, alunos, gestores, coordenadores regionais, tuxauas, mulheres, jovens indígenas de das regiões, Serra da Lua, Amajari, Tabaio(Taiano), Murupu, Serras, Surumu, Baixo Cotingo, Raposa, Ingaricó, Wai-Wai, Yanomami e Ye`kuana, além, de representantes das organizações indígenas, entidades sociais e instituições públicas.

assembleia roraima

O primeiro dia da Assembleia teve como cunho de debate, o marco histórico da Educação Escola Indígena do Estado de Roraima feito pelos professores e lideranças indígenas pioneiros na construção de uma educação específica e diferenciada, Enilton André (Wapichana) e Sobral André (Macuxi).

Enilton André fez um breve histórico a partir do marco histórico da Educação no estado de Roraima desde o ano de 1985, quando houve um debate nacional, entre, a Secretaria de Educação e as lideranças indígenas, ficando marcado como o “Dia D”, até a criação da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) e do Instituto Insikiran, antes, Núcleo Insikiran, em 2001, a partir da Carta de Canauanim, quando se discutiu e reivindicou formação específica para os professores indígenas.

Concluiu falando da importância de conhecer a história, saber das lideranças que contribuíram no processo da educação escolar indígena e pediu que, informações como essas, tão importantes, venham se tornar material didático, servido como fonte de ensino escolar específico e diferenciado.  “Espero que todas essas informações se tornem um material didático, para que ninguém fique repetindo essas informações outras vezes, porque precisamos conhecer o passado e de como as lideranças contribuíram com esse processo de educação, devemos falar pouco e tentar fazer alguma coisa a mais.”

Mesmo com muitos avanços na educação escolar indígena, Sobral André, também contribuiu refletindo sobre a participação das organizações indígenas, dos professores em tantas conquistas, porém, refletiu também que é necessário resgatar, abraçar o início da história, porque, segundo ele, ainda não está do jeito que querem. “A nossa educação avançou bastante, abrimos espaços para que todos pudessem participar nessa discussão e buscar a educação, mesmo passando por muitas dificuldades dentro dos Departamentos do estado, assim como, na busca pelas parcerias com a Universidade Federal de Roraima para o ingresso de professores indígenas e dessa forma trabalhando o ensino especifico diferenciado, mais ainda não está do jeito que nós esperamos.”

assembleia roraima2Outro momento marcante do primeiro dia veio com o tema sobre “As organizações indígenas como instrumento de controle social: avaliando a situação da educação escolar indígena no estado de Roraima”. Essa mesa contou com a presença das organizações indígenas, Conselho Indígena de Roraima (CIR), Aliança de Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (ALIDCIR), Conselho do Povo Ingaricó (COPING), Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação do Povo Indígena Ye`kuana do Brasil (APYB), Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), Associação de Desenvolvimento e Qualidade Ambiental do Povo Indígena Taurepang, Wapichana e Macuxi(TWM), Associação dos Povos Indígenas de Roraima(APIRR) e a Organização dos Professores Indígenas de Roraima(OPIRR).

O Conselho Indígena de Roraima (CIR), organização indígena pioneira na criação do movimento indígena em Roraima, desde 1970, tendo como principal bandeira de luta, a luta pela terra, em seguida, a luta pela garantia dos direitos básicos como saúde, educação e sustentabilidade, também é a organização indígena espelho para muitas conquistas na área da educação escolar indígena, a partir da discussão e decisão dos Tuxauas e demais lideranças indígenas de base, que lutaram historicamente pelas conquistas de hoje.

O coordenador geral do CIR, Mario Nicacio, jovem liderança, resgatando os processos também fez um breve histórico das conquistas e dos desafios superados em relação a formação dos professores indígenas, magistério, técnico, superior, bem como, a grade curricular, os espaços nas instâncias governamentais, até mesmo, a recente conquista da aprovação do Plano Estadual de Educação(PEE), mas também refletiu sobre o fortalecimento de alguns espaços construído, são os centros regionais e a própria Organização dos Professores Indígenas (OPIRR). “Um dos desafios é o fortalecimento da OPIRR, precisamos unificar a mesma cada vez mais”, contribuiu Mario Nicacio.

Misaque Antone, coordenador da OPIRR, falou das dificuldades superadas pela organização nos últimos anos, principalmente, em relação ao controle social da política que atende a educação escolar indígena do Estado, discussão sobre o ensino municipal, a federalização das escolas indígenas, criação das instâncias de educação gerenciada pelos indígenas, além, dos problemas como a falta de atendimento básico às escolas indígenas, merenda escolar, material didático, e entre outras situações, abordadas pelo coordenador.

Para concluir, reforçou dizendo que para os avanços também é preciso cada vez mais o fortalecimento das organizações indígenas e lembrou-se da última mobilização em defesa da educação escolar indígena, ocorrida no mês de agosto de 2015, em Boa Vista, tornando-se mais um marco histórico na luta e conquista dos povos indígenas de Roraima.

assembleia roraima3A programação do dia encerrou com a pauta sobre a avaliação da atuação e os espaços políticos conquistados pela OPIRR. Participaram desse momento, o professor Euclides Pereira, José França, Tereza Pereira, Tino Yanomami, Rosilda Silva, Gleide de Almeida e Ineide Izidório Messias. Em seguida, o debate sobre a indicação para a chefia da Divisão de Educação Indígena (DIEI), da Secretaria de Educação do Estado de Roraima e a comemoração dos 30 anos da DIEI.

A Assembleia continuará nesses próximos dias, 8 e 9, com debate voltado para a discussão sobre os limites e possibilidades de um sistema próprio de Educação Escolar Indígena, com a presença de representantes da Secretaria de Educação do Estado de Roraima, Fundação Nacional do Índio(Funai), Conselho Nacional de Educação, Conselho Nacional de Política Indigenista e outras instituições de ensino.

Como fonte de resgate de história, luta e de caminhada, a Assembleia também fez memória aos professores (as), já falecidos, que contribuíram na consolidação de uma educação especifica e diferenciada, mesmo com muitas falhas ainda. Entre as professores (as), Lindalva Macuxi, Zenaide Martins e Natalina da Silva Messias, mulheres indígenas guerreiras que muito superaram para conquistar e garantir direitos específicos e diferenciados, hoje, deixados para a futura geração.

Fotos: Mayra Wapichana 

Comments (1)

  1. Parabenizo pelo registro de um momento importante para o Estado de Roraima como um todo, sobretudo ao se tratar de Educação Escolar Indígena na perspectiva e/ ou nas perspectivas dos povos indígenas. Parabéns!

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