Nota da RBJA: Jean Pierre, um mestre das lutas sociais  

A Rede Brasileira de Justiça Ambiental perdeu hoje um de seus fundadores e figura de referência das lutas socioambientais no Brasil. Jean Pierre Leroy, hoje falecido, esteve ao lado dos movimentos populares desde sua chegada ao Brasil em 1971, quando, como ele dizia, após reflexão profunda, decidiu “enraizar-se junto aos oprimidos”. Ao desembarcar no aeroporto de Caiena, “com a floresta equatorial bem próxima, com seus odores, sua humidade, seus ruídos” – lembrava ele, sentiu-se “invadido pelo novo mundo”.

Já em suas primeiras ações junto aos pescadores da região paraense do Salgado, sensibilizado com a acolhida que então recebera, começou a pensar que « o Brasil seria o seu novo país ». Iniciou então uma longa viagem pelo chão do Brasil, trocando conhecimentos com o povão, aprendendo com suas festas e suas lutas, tendo por fundo uma sinfonia de tracajás, maruins, curupiras, piracaias e sairés, mas também vivendo a pressão e a opressão das queimadas, dos cercamentos, grilagens e assassinatos de lideranças. Tornou-se grande conhecedor das paisagens e da geografia simbólica dos lugares, vistas por quem veio da tradição do pé na terra do campo francês e chegou aos igarapés e capoeiras amazônicos, ao cerrado mineiro e à mata de araucárias paranaense.

Paralelamente, acompanhou ativamente as várias formas de militância em diferentes conjunturas políticas, interagindo com as múltiplas lutas sociais e democráticas vistas, por ele, a partir ou ao lado das bases. Ao longo dos quinze anos de existência da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Jean Pierre compartilhou com seus companheiros e companheiras toda a sua competência de educador popular, assim como sua sensibilidade para com os sujeitos das lutas socioambientais, as organizações dos trabalhadores, do campesinato, das comunidades indígenas e tradicionais e dos moradores das periferias das cidades. A crítica que ajudou a formular de um modelo de desenvolvimento que produz ao mesmo tempo desigualdade social e degradação ambiental seguirá orientando as ações da Rede e a confiança na força coletiva transmitida por Jean Pierre permanecerá, entre seus membros, sempre presente.

10 de novembro de 2016

Rede Brasileira de Justiça Ambiental

 

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