Alunos denunciam preconceitos e abusos em colégios militares do Brasil

Nota: de ontem, 29, para hoje, a página foi retirada do ar, sem maiores informações. A matéria abaixo será mantida, por motivos óbvios. (TP)

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Relatos anônimos publicados em uma página na internet expõem problemas nas instituições ao falar sobre racismo, machismo e homofobia

Por Carolina Samorano, no Metrópoles

Desde a terça-feira (27/12), alunos e ex-alunos de colégios militares de todo o Brasil têm usado uma página no Facebook para expor situações constrangedoras (e até criminosas) vividas dentro das dependências da instituição.

A página, batizada de No Meu Colégio Militar, recebe relatos por e-mail e via formulários e os publica de forma anônima. Em dois dias, conquistou mais de 5 mil curtidas. Segundo estudantes, escolas mantidas pela instituição em todo o país, inclusive a de Brasília, enfrentam problemas como racismo, machismo, intolerância religiosa e homofobia.

Entre os desabafos enviados por brasilienses, uma psicóloga é acusada por um dos alunos de dizer que “não se cumpre código de ética” no Colégio Militar. Um deles conta que uma professora o chamou de “incompetente” em sala de aula, pois ele não “prestava nem para se matar”. O garoto havia tido uma crise de depressão.

Outra publicação trata de uma certa “orientação” dada a meninas da cavalaria para que não usassem o uniforme “apertado demais” ou alguns tipos de calcinha para não chamarem a atenção de homens e superiores.

Cinco alunas denunciaram a ordem. “Pediram que meninas da cavalaria não usassem calcinha que aparecesse no culote (calça de montaria) porque chamava a atenção dos militares”, escreveu uma delas.

A publicação teve quase 400 curtidas. Nos comentários, as pessoas se dividiam entre o espanto e a acusação. “Bizarro”, comentou uma usuária. “Quem é criado com muita frescura não estuda em colégio militar”, desdenhou um dos internautas. Há quem questione a intenção da página:

Sobre intolerância religiosa, alguns alunos contam que são obrigados a marcharem debaixo do sol caso não queiram assistir a nenhum dos cultos e reuniões religiosas.

Alguns relatos vindos da capital federal ainda dão conta de ofensas racistas relacionadas a cabelos black e tranças. “Um dia eu estava no pátio da cantina e um oficial veio falar comigo, perguntou como me deixavam ter esse cabelo de pavão no colégio”, conta um aluno.

Ao Metrópoles, um dos administradores da página, que não quis se identificar, disse ter ingressado na instituição em 2011, mas sem informar em qual estado. Ele afirma ter presenciado cenas como as relatadas pelos alunos na página. “Passamos por várias situações abusivas nos colégios, em que nada foi feito pela instituição, mesmo após termos recorrido aos setores quer seria, destinados justamente a nos ouvir”, relata.

A reportagem procurou o Colégio Militar de Brasília e o Centro de Comunicação Social do Exército. A instituição está ciente da existência da página, mas, até a publicação da matéria, não se posicionou sobre o assunto.

 

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