Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi
Conhecido e tido como uma pessoa tranquila pelos moradores de Caarapó, cidade a 273 km de Campo Grande (MS), Alexander Claro Guarani e Kaiowá foi alvejado por dois tiros, na manhã do último dia 5, numa rua em que costuma trafegar diariamente. Diagnosticado com esquizofrenia, o indígena teria entrado em surto e dois policiais militares decidiram alvejá-lo para que pudessem imobilizá-lo.
Um disparo o atingiu na coxa, fraturando o fêmur, e o outro no quadril. “Vamos encaminhar a situação para a Corregedoria da Polícia Militar porque consideramos a ação abusiva”, explica o coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Dourados, Vander Nishijima. Morador do tekoha – lugar onde se é – Tey Kue, o Guarani e Kaiowá, conforme dados do boletim de ocorrência, de vítima acabou virando o principal agressor.
O indígena é acusado de homicídio simples na forma tentada – em dois artigos do Código Penal – dano, resistência, desobediência e dano qualificado – aquele praticado contra o patrimônio público. Encaminhado ao Hospital da Vida, em Dourados, Alexander Claro precisou passar por cirurgia e segue internado. Está sob custódia da Polícia Militar, e deverá ser encaminhado ao presídio quando receber alta.
As autoridades públicas sabiam do transtorno psíquico do Guarani e Kaiowá, que trabalha como auxiliar de serviços gerais. Em 2011, Alexander cometeu um delito e foi preso. Durante o julgamento, o indígena foi diagnosticado pela primeira vez como esquizofrênico. A juíza do caso o encaminhou para tratamento. Em 2013 um novo laudo atestou o transtorno.
“Em novembro do ano passado houve uma nova determinação para que ele seguisse para tratamento. Então estamos traçando essa linha para mostrar que os policiais atiraram em alguém enfermo, de porte físico totalmente imobilizável”, afirma Nishijima. Em entrevista ao portal de notícias Midiamax, o delegado do caso Ricardo Meirelles Bernardinelli considerou a possibilidade de excessos na abordagem policial.
Conforme o boletim de ocorrência, o Guarani e Kaiowá portava um pedaço de madeira e ameaçava transeuntes quando os policiais chegaram – chamados por um homem que teve o carro atingido pelo objeto. Ao tentar controlar o indígena, os policiais teriam sido atacados – momento em que o primeiro disparo atingiu o fêmur de Alexander. Sem o efeito desejado, os policiais atiraram contra o quadril. Então conseguiram imobilizá-lo.
“Vamos relatar o caso ao Ministério Público Federal (MPF). Muitas perguntas precisam ser respondidas. Como dois policiais só o conseguiram imobilizar depois de o atingirem com dois tiros? O indígena estava com um pedaço de madeira, não arma de fogo. A primeira saída deles foi a de atirar”, enfatiza Nishijima. Sem um procurador disponível na Funai, o indigenista analisa formas de interceder judicialmente pelo Guarani e Kaiowá.