Manifesto: “Governo e ruralistas se unem contra o futuro do país”

Entidades se unem e assinam carta contra medidas propostas pelo Governo Federal, que violam direitos humanos e colocam em risco a proteção ambiental

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“Nos últimos anos, as agendas socioambiental, de direitos humanos e de trabalhadores do campo têm sido alvo de ataques sistemáticos por grupos de interesse instalados no Congresso Nacional e no Executivo Federal. Nem mesmo direitos garantidos pela Constituição estão a salvo.

Atualmente estes ataques ganharam uma nova dimensão. Em meio ao caos político que assola o país, a bancada do agronegócio e o núcleo central do governo federal fazem avançar, de forma organizada e em tempo recorde, um pacote de medidas que inclui violações a direitos humanos, “normalização” do crime ambiental e promoção do caos fundiário. Se aprovadas, tais medidas produzirão um retrocesso sem precedentes em todo o sistema de proteção ambiental, de populações tradicionais e dos trabalhadores do campo, deixando o país na iminência de ver perdidas importantes conquistas da sociedade ocorridas no período democrático brasileiro.

Às tentativas de aniquilação das políticas de reforma agrária e do uso social da terra, contidas na Medida Provisória (MP) 759, somam-se iniciativas de extinção de Unidades de Conservação, a facilitação e legalização da grilagem de terras e os ataques contra direitos e territórios indígenas. Em conjunto, tais investidas buscam disponibilizar estoques de terras para exploração desenfreada e também para serem negociadas através do projeto que libera a venda de terras para estrangeiros.

A lista de retrocessos segue com as tentativas de enfraquecimento do licenciamento ambiental e da fiscalização sobre a mineração; a liberação do uso e registro de agrotóxicos, inclusive daqueles proibidos em diversos países do mundo; a ocupação de terras públicas de alto valor ambiental; a concretização das anistias a crimes ambientais e o ataque a direitos trabalhistas e sociais de populações camponesas e de trabalhadores rurais.

Para o avanço rápido desta agenda, governo e parlamentares armam tramitações expressas no Congresso e fazem uso desmedido de medidas provisórias, inclusive para temas que já se encontram em debate no legislativo, excluindo assim a possibilidade da participação da sociedade e de estudiosos dos temas.

Além de colocar em risco a nossa própria soberania e segurança alimentar, a aprovação de tais medidas resultará em maior concentração fundiária; na inviabilidade econômica de pequenos produtores rurais e da agricultura familiar, dos quilombolas e povos indígenas; no aumento da violência e da disputa por terras; no beneficiamento da grilagem de terras públicas e na mercantilização dos assentamentos rurais e da reforma agrária.

O desmatamento será impulsionado de forma decisiva, colocando por terra todo o esforço da sociedade que levou à redução do desmatamento na Amazônia em cerca de 80% entre os anos de 2004-2014, nos afastando do cumprimento de compromissos internacionais assumidos em convenções sobre clima e sobre biodiversidade, de direitos indígenas e direitos humanos. Este conjunto de fatores poderá potencializar as dinâmicas das mudanças climáticas, impondo graves prejuízos à economia, aos produtores rurais e à toda população do campo e das cidades.

A participação do governo na ofensiva orquestrada contra os direitos, territórios da diversidade e meio ambiente revela um retrocesso político histórico: além da renúncia à obrigação constitucional de tutela dos direitos difusos e de minorias, escancara uma concepção de País calcada no desprezo pela natureza e pelo conhecimento sobre ela em função de interesses econômicos imediatos, reproduzindo o modelo excludente de expansão do agronegócio e facilitando a implementação de projetos frequentemente ligados a esquemas de corrupção e má-gestão dos recursos públicos.

Diante do exposto, as organizações e movimentos dos mais diversos campos de atuação abaixo assinados se unem para denunciar e resistir à perversa agenda de desmonte das conquistas socioambientais, e convidam a população e demais setores organizados da sociedade a somarem esforços no sentido de impedir tais retrocessos.”

Assinam:

  1. 350.org
  2. Abraço Guarapiranga
  3. ABONG/Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
  4. Actionaid
  5. AdT/Amigos da Terra
  6. AFES/Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade
  7. Aldeia Guarani Kalipty – Parelheiros
  8. Aldeia Guarani Tenondé Porã – Parelheiros
  9. ANA/Articulação Nacional de Agroecologia
  10. Amazon Watch
  11. APIB/Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
  12. Apremavi/Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida
  13. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  14. Associação Coletivista Dom Helder Câmara
  15. Associação Mico-Leão-Dourado
  16. BVRio
  17. Bicuda Ecológica
  18. Cáritas Nacional
  19. Casa Ecoativa – Ilha do Bororé
  20. CEBES/Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
  21. CBJP/Comissão Brasileira Justiça e Paz
  22. CEBI/Centro de Estudos Bíblicos
  23. CDDHEP/Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre
  24. CIMI/Conselho Indigenista Missionário
  25. Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil
  26. Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
  27. Comissão Pró-Índio de São Paulo
  28. CONAQ/Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
  29. Conectas Direitos Humanos
  30. CONTAG/Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
  31. Coração Amazônico
  32. Cooperapas/Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais de Água Limpa -SP
  33. CNS/Conselho Nacional das Populações Extrativistas
  34. Consulta Popular
  35. CPT/Comissão Pastoral da Terra
  36. CUT/Central Única dos Trabalhadores
  37. Engajamundo
  38. Escola de Ativismo
  39. Espaço de Formação Assessoria e Documentação
  40. FAOR/Fórum da Amazônia Oriental
  41. FASE/Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
  42. Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
  43. FURPA/Fundação Rio Parnaíba
  44. Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
  45. Greenpeace Brasil
  46. Grupo Carta de Belém
  47. IBASE/Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
  48. ICV/Instituto Centro de Vida
  49. IDESAM/Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas
  50. IDS/Instituto Democracia e Sustentabilidade
  51. IEMA/Instituto de Energia e Meio Ambiente
  52. Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
  53. IMAFLORA/Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
  54. Imargem – Arte, Meio Ambiente e Convivência
  55. IMAZON/ Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
  56. INESC/ Instituto de Estudos Socioeconômicos
  57. International Rivers Brasil
  58. Instituto Pólis
  59. Instituto Avaliação
  60. ISA/Instituto Socioambiental
  61. Justiça nos Trilhos
  62. Liga Brasileira de Lésbicas
  63. Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
  64. MAB/Movimento dos Atingidos por Barragens
  65. MAM/Movimento pela Soberania Popular na Mineração
  66. MCP/Movimento Camponês Popular
  67. Marcha Mundial do Clima
  68. MMC/Movimento de Mulheres Camponesas
  69. Mogave/Movimento Garça Vermelha
  70. MNCCD/Movimento Nacional Contra Corrupção e pela Democracia
  71. Movimento Contra o Aeroporto de Parelheiros
  72. Movimento Aeroporto de Parelheiros NÃO!
  73. Movimento Social Via do Trabalho – BahiaMPA/Movimento dos Pequenos Agricultores
  74. MST/ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
  75. MTST/Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
  76. Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos – Diversitas/USP
  77. Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ambiente, Socioeconomia e Agroecologia/NUPEAS-UFAM
  78. Observatório do Clima
  79. Observatório de Favelas, da favela da Maré, Rio de Janeiro
  80. OCCA/Observatório dos Conflitos do Campo – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
  81. ONG Coração Amazônico
  82. Organon/Núcleo de estudo, pesquisa e extensão em mobilizações sociais da UFES
  83. PAD/Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiro
  84. PHS/Hospitais Saudáveis
  85. PFDC/Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do MPF/Ministério Público Federal
  86. PJR/Pastoral da Juventude Rural
  87. Plataforma Operária e Camponesa para Energia
  88. Polo de Unidade Camponesa – Bahia
  89. RAMH/Rede Acreana de Mulheres e Homens
  90. RBMA/Conselho Nacional Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
  91. Rede Brasileira de Informação Ambiental
  92. Rede GTA/Grupo de Trabalho Amazônico
  93. Rede ODS Brasil
  94. SAVE Brasil
  95. Sinfrajupe/Serviço InterFranciscano de Justiça, Paz e Ecologia
  96. SBE/Sociedade Brasileira de Espeleologia
  97. SNE/Sociedade Nordestina de Ecologia
  98. SOS Mata Atlântica
  99. Toxisphera Associação de Saúde Ambiental
  100. UBM/União Brasileira de Mulheres
  101. Uma Gota no Oceano
  102. UNALGBT/União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
  103. Via Campesina
  104. WWF Brasil

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