Ao falar de Luciano Huck, tucanos e petistas mandam recado a João Doria, por Leonardo Sakamoto

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Ao afirmar ”não sou candidato a presidente da República”, em texto publicado pela Folha de S.Paulo, neste domingo (14), o apresentador e empresário Luciano Huck não apenas deixou claro que está à disposição, como confirmou que pode ser uma pedra no caminho de João Doria, caso o prefeito queira concorrer ao Planalto em 2018.

Este blog apurou junto a correligionários do ex-presidente que Fernando Henrique Cardoso não se esqueceu da resposta atravessada que recebeu de João Doria, um novato em termos de tucanato, em março. Ao afirmar, em uma entrevista ao jornal O Globo, que nem todos os gestores viram líderes e que liderança leva tempo para ser construída, em uma referência ao prefeito, FHC ouviu de Doria – também via imprensa – que o ex-presidente havia errado duas vezes: ao dizer que ele não venceria as prévias do partido e que não ganharia a eleição.

O troco veio com a análise de Fernando Henrique, em outra entrevista, na semana passada, sobre quem representaria o ”novo” na política nacional. Ele poderia ter jogado luz apenas sobre a estrela ascendente de seu partido. Mas preferiu equiparar João Doria e Luciano Huck, mandando um recado: novato por novato, há outro nome com ”charme” popular. Um plano B, por assim dizer.

De acordo com um dos tucanos ouvidos pelo blog, foi um aviso de que o partido tem comando e que Doria não terá vida fácil sem a benção dos líderes maiores. Segundo esse tucano próximo ao governador de São Paulo, uma candidatura passaria por diálogo e muita negociação e não seria escolhida através de constrangimentos digitais ou por exclusão de quem não estivesse ferido pela Operação Lava Jato.

Nesta semana, durante viagem de trabalho a Nova York realizada ao lado de Geraldo Alckmin, o prefeito deixou de lado seu cuidado habitual ao tratar da eleições do ano que vem e afirmou que ”será candidato do PSDB aquele que tiver melhor posição perante a opinião pública”. E completou: ”Para ser competitivo, para vencer as eleições, vencer o PT, vencer o Lula”.  Poderia ter dito também ”e não aquele que os caciques do PSDB apontarem”, mas não era necessário. Tanto Alckmin quanto Doria defendem prévias no partido.

Em Brasília e em São Paulo, tucanos mais antigos ouvidos por este blog, mesmo aqueles que não estão envolvidos em denúncias, temem ser colocados de lado dentro do próprio partido com a ascensão meteórica do prefeito paulistano. Um político que tem como um dos principais apelos o fato de não ter histórico de vida partidária, em um momento de descrença na política institucional. Mas isso também representa uma de suas maiores fraquezas, considerando que partidos são importantes para candidaturas majoritárias de nível nacional.

João Doria vem sendo agressivo em suas críticas ao PT a fim de garantir o posto de anti-Lula no cenário político. E com exceção do próprio Lula que, quando fala à militância não consegue se controlar e acaba caindo nas provocações do prefeito, há membros do Partidos dos Trabalhadores que vêm defendendo que se evite a polarização com ele. Alguns, como a ex-presidente Dilma Rousseff, até desviaram suas críticas a Luciano Huck. Dessa forma, atuam para relativizar a importância do prefeito – que tem crescido com o antagonismo aos petistas na bolsa de apostas para 2018

A indefinição sobre a presença de Lula nas eleições presidenciais do ano que vem, que depende da inegibilidade que seria trazida por uma condenação em segunda instância na Justiça, mantém em compasso de espera a esquerda não-petista e mesmo as correntes petistas insatisfeitas que desejam alternativas a ele. Ninguém acredita em uma candidatura viável à esquerda tendo Lula como adversário. Com isso, debates ocorrem timidamente nesse campo, inclusive sobre a necessidade de reconstruir uma narrativa e ter um projeto para o país. Tudo muito lentamente. Como afirmou uma pessoa ligada ao PSOL, Lula é fortaleza e prisão da esquerda ao mesmo tempo.

Se ele for candidato, muito provavelmente teremos uma eleição polarizada entre Lula e mais alguém. Com Aécio Neves pensando em tentar a Câmara dos Deputados para manter o foro privilegiado e José Serra tendo que responder às delações e cuidar de problemas de saúde, sobraria um caminho livre para Geraldo Alckmin – se as delações não corroerem mais sua popularidade.

Nesse sentido, há espaço para um nome novo. Que se vier com muita sede ao pote, atropelando, pode acabar abatido em pleno voo por fogo amigo. Lembrando que os piores inimigos, seja em qualquer partido, são aqueles que chamamos de ”correligionários”.

Se a ação de caciques tucanos vai enquadrar Doria ou se ele vai ser aclamado pela base dos eleitores como candidato, isso depende os resultados de seu mandato como prefeito, dos resultados da economia até lá, das decisões judiciais e, principalmente, de quem será o candidato do outro campo. Afinal, torna-se menos necessário um anti-Lula se Lula não for candidato.

Ainda não é possível afirmar quando a internet será mais relevante que a TV para a decisão do voto. Mas, tomando como base opiniões de pesquisadores que se debruçam sobre o tema, deve ser em algum momento entre 2018 e 2022. Durante este período de transição, candidatos terão que dominar as duas plataformas ao mesmo tempo.

O que é o caso de Doria e Huck: Enquanto Doria conta com quase 2,7 milhões de seguidores no Facebook e 419 mil no Twitter, além do apoio de movimentos pró-impeachment, como o MBL, e – mais recentemente – de algumas igrejas, Luciano Huck tem mais de 16,7 milhões o Facebook, outros 12,7 milhões no Twitter e, o principal: a Rede Globo. Claro que os índices deve ser lidos junto com a capacidade de cada um dos dois de ativar redes, mas se Doria larga na frente por ter passado por uma eleição e ter o que mostrar (ou não), Huck tem um potencial midiático gigantesco.

Diante do cenário, a especulação envolve, inclusive, nomes de outros partidos menores pelos quais os dois poderiam sair caso queiram se candidatar e não consigam legenda pelo PSDB.

Pois independentemente da força das redes sociais e da TV, e a despeito de todos os problemas estruturais que apresentam, é difícil imaginar que a eleição de presidentes prescinda do suporte de grandes partidos. Seus parlamentares, governadores, prefeitos e vereadores ainda são base para garantir capilaridade a uma candidatura.

Mesmo neste cenário de negação da política, com sua perigosa sugestão de que é necessário um ”salvador” que nos livre de tudo isso o que está aí.

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