Quem manda no meu cabelo sou eu!

Por Viviana Santiago – Palavra de Preta

Essa nossa vida de gente preta não fácil, se for mulher então: pior ainda.

Tudo que diz respeito a nossa existência tende a ser capturado, dominado, estereotipado, animalizado e mesmo quando pensamos que estamos sendo apoiadas é preciso atenção: nem tudo é o que parece ser.

Ultimamente muito tem-se falado sobre cabelo crespo, a mídia já descobriu o nosso potencial de consumidoras e temos visto até mesmo tutoriais de marca famosa de shampoo com dicas para cabelo crespo, mas ai é onde começa a minha provocação: De que cabelo estamos falando?

Não nos esqueçamos de que vivemos numa sociedade marcada pelo racismo, o padrão de beleza é eurocêntrico e tudo que se afaste muito desse padrão é considerado como feio. E é assim que toda vez que a mídia e as empresas falam sobre o cabelo crespo, a gente tem a impressão de que não é do cabelo crespo mesmo que estão falando e sim de “um determinado tipo de cabelo” que a gente pode usar porque é mais palatável para a branquitude, aquele crespo que é exótico, quase branco e ai.. lo siento… mas eu realmente vou precisar falar dessa onda da veneração dos cachos.

Hoje em dia existe uma normatização para as pessoas de cabelo crespo: seu cabelo tem que formar cachos perfeitos, tem que ter um certo nível de soltura e de balanço. Se não for assim não é bonito. E eu me pergunto o que nós mulheres negras ganhamos nós com isso?

Ganhamos uma prisão diferente da que tínhamos antes, mas se a gente sabe que gaiola bonita não dá de comer a canário, a ditadura do cabelo cacheado soltinho como padrão de beleza também não emancipa e dificilmente agrega a todas nós mulheres negras.

Sejamos mais! Reconheçamos as tentativas sutis de aprisionamento e percebamos que a nossa negritude é múltipla, existem múltiplos tipos de cabelos, existem muitas mulheres que inclusive decidem raspar a cabeça, outras que possuem pouco ou nenhum cabelo… não seriam essas mulheres negras por isso? Seriam menos bonitas? Percebe a armadilha? O essencialismo captura a possibilidade de singularidade. Foram os padrões que nos retiraram a condição de humanidade e beleza, não nos iludamos, não será um novo padrão que nos devolverá.

Não nos esqueçamos jamais: No nosso cabelo mandamos nós. No meu cabelo mando eu.

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