“Ken Saro-Wiwa, presente!”. Em SC, defesa de tese começa com filme e discute arte, ativismo e racismo ambiental

Tania Pacheco

Na próxima sexta-feira, 28, a Universidade do Estado de Santa Catarina será palco de uma defesa de tese diferente: duas horas antes das formalidades da banca acadêmica, haverá o lançamento do filme “Ken Saro-Wiwa, presente!”.

Para o seu doutoramento em Artes Visuais, Elisa Dassoler optou por estudar a trajetória do escritor e ativista nigeriano que, no final do século XX, liderou um movimento de resistência pacífica contra práticas de racismo ambiental e genocídio de minorias étnicas na região do Delta do Níger. O assunto foi pesquisado durante uma bolsa-sanduíche na University of the Arts London (UAL), em 2015, e resultou na tese – que dialoga com conceitos centrais nos dias atuais, como o de descolonialismo – e no filme. Como ela explica:

“Em 1995, [Ken Saro-Wiwa] foi morto por conta de sua militância contra a exploração abusiva de petróleo operacionalizada por corporações multinacionais em conluio com as elites do governo nigeriano. Através de entrevistas com artistas, ativistas e familiares, o documentário apresenta sua história, os impactos causados pela exploração de petróleo no Delta e a relevância política e cultural de projetos artísticos em Londres dedicados à sua memória”.

O filme de 82 minutos será apresentado a partir das 13h30, no Auditório do CEART (Centro de Artes) da UDESC. A partir das 15h30, Elisa defenderá a tese “Ken Saro-Wiwa, presente!”: discussões sobre arte, ativismo e racismo ambiental, orientada pela professora Célia Maria Antonacci Ramos.

O texto abaixo é um Resumo da Tese de leitura incomumente agradável e dá mais informações a respeito:

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“Ken Saro-Wiwa, presente!”: discussões sobre arte, ativismo e racismo ambiental

Ken Saro-Wiwa foi um reconhecido escritor, produtor e ativista nigeriano que dedicou a maior parte da sua vida à luta contra a marginalização de grupos étnicos minoritários em seu país e a exploração abusiva de petróleo no Delta do Níger, operacionalizada desde o final dos anos 1950, por empresas multinacionais em conluio com as elites governamentais dos maiores grupos étnicos da Nigéria.

Em 1990, em Ogoni, sua terra natal, Ken Saro-Wiwa articulou o Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni (MOSOP), um ativismo de insurgência indígena contra o colonialismo energético que, em 1993, expulsou a Shell de seu território após uma manifestação histórica com trezentas mil pessoas.

Identificado como figura chave e porta-voz do movimento, Ken Saro-Wiwa foi preso várias vezes. Em 1995, ao lado de mais oito ativistas do MOSOP, Ken Saro-Wiwa foi julgado por um tribunal militar fraudulento e condenado à pena de morte. Rememorado como mártir e símbolo do movimento de resistência pacífica em Ogoni, sua história de luta contra o genocídio e as práticas de racismo ambiental no Delta do Níger permanece viva, presente.

Com o objetivo de investigar o legado de Ken Saro-Wiwa, realizei. em 2015, um estágio sanduíche em Londres onde pude participar e documentar uma intensa movimentação artística em sua homenagem e em solidariedade à resistência do povo ogoni. Como resultado, apresento um trabalho artístico audiovisual, o documentário longa-metragem “Ken Saro-Wiwa, presente!”, e este estudo, escrito a partir de uma perspectiva teórico-metodológica interdisciplinar, construída em grande medida no diálogo com autores dos chamados estudos pós-coloniais e do pensamento descolonial.

Na primeira parte deste trabalho, exponho o conceito de racismo ambiental e contextualizo a história de Ken Saro-Wiwa, do MOSOP e da exploração de petróleo no Delta do Níger. Na segunda parte, discuto a relevância política e cultural de projetos artísticos dedicados à memória de Ken Saro-Wiwa em Londres. Reconhecendo as interdependências entre os lugares e, especialmente, o lugar que Londres ocupa nas geopolíticas neocoloniais de exploração de petróleo, os projetos artísticos apresentados nesta tese denunciam práticas abusivas por instituições públicas e privadas na exploração de petróleo, colaboram no processo de reivindicação por políticas de reparação às vítimas dessa “guerra silenciada” e, sobretudo, mostram que a arte pode exercer pressão política por mudanças sociais.

Imagem do documentário “Ken Saro-Wiwa”.

Comments (1)

  1. Esta defesa acadêmica será, com certeza, um belo momento de reflexão em torno de uma questão que ainda é bastante atual, em muitos lugares do mundo.
    O esforço da autora nesse produto intelectual, sob olhares transdisciplinares a partir da sua formação em Geografia e Arte é, a meu ver, consequência de uma crescente maturidade profissional.
    Vale a pena conferir!
    Parabéns à doutoranda e sua orientadora.

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