Debate e Atividades Marcaram o IV Encontro do Plano Popular para as Vargens

Juliana Torres – RioOnWatch

No dia 12 de agosto, ocorreu o IV Encontro do Plano Popular para as Vargens, na Zona Oeste, para debater as mudanças urbanísticas na região, que possui ampla cobertura vegetal e é fortemente rural, contendo parte da população voltada à atividades agrícolas.

O encontro foi organizado por um grupo de articuladores atuante e foi realizado no Colégio Estadual Teófilo Moreira da Costa em Vargem Grande. O evento tinha vários ambientes de participação simultâneos, coordenado por uma rede de integrantes socioambientais da região que articularam os espaços e demonstraram tecnologias sociais como a compostagem, separação do lixo e reaproveitamento de material, técnicas voltadas para a agricultura urbana realizada em pequenos espaços e protótipo de captação de água das chuvas.

Atividades no evento

As atividades infantis que ocorreram na quadra poliesportiva foram organizadas por Mariana Bruce. Socióloga e professora do colégio, ela enfocou a importância da introdução das crianças em espaços de discussões político-sociais para desde cedo auxiliar na formação de opinião e conscientização. Mariane afirmou: “Nos comprometemos a organizar um espaço dedicado às crianças em todos os eventos, marchas e acampamentos. O movimento é resultado e prática da luta das mulheres”. Além de oferecer auxílio às mães que querem participar dos eventos e precisam levar seus filhos, Mariana é integrante do Coletivo Hortelã, organização de mulheres que trabalha com múltiplos temas geradores de diálogos, tais como: redes de fofoca, horta coletiva e plantas medicinais, educação e saúde. “Discutimos todos os temas da autogestão de nossos territórios feministas fazendo enfrentamento a todas as violências cometidas contra as mulheres”, ela disse.

A Feira da Roça de Vargem Grande esteve presente com uma barraca expondo frutas orgânicas cultivadas pela rede de agricultores e produtos artesanais com propriedades medicinais, desenvolvidos por Maraci Soares, moradora do Quilombo do Camorim, que também oferece oficinas de sabonetes naturais e uso de ervas. Maraci enfatizou a importância do artesanato como sendo uma “forma de resistência das mulheres das Vargens e do Comitê Popular das Mulheres da Zona Oeste. O artesanato contribui para o enfrentamento ao desemprego e as injustiças derivadas do capital. Fortalecer as práticas de economia popular e solidária também é construir nossas organizações feministas“.

A Rede Ecológica–movimento social que visa fomentar o consumo ético, solidário e ecológico articulando um coletivo de compras de produtos agrícolas orgânicos–esteve presente representando o movimento pela alimentação saudável e consciente. Integrante da Rede Ecológica, Annelise Fernandes apresentou as diretrizes do movimento: “devemos nos perguntar quando consumimos um produto: a quem estamos empoderando? Não devemos financiar monopólios que exploram agricultores e degradam o meio ambiente utilizando agrotóxicos. Devemos pensar em todo o ‘roteiro sustentável’ da origem ao fim do ciclo alimentar”.

Debate

A mesa redonda foi iniciada por Elizabeth Bezerra, moradora e representante das lideranças da comunidade Novo Palmares. Elizabeth destacou que os encontros deveriam enfocar a regularização de terra: “o pequeno agricultor quer apenas produzir o seu alimento, garantir a sua subsistência”. Elizabeth acompanha as mudanças urbanísticas que vêm contrariando a Constituição e o direito à moradia. “Urbanizam sem dar título de propriedade, moro onde tem CEP mas ainda assim, o correio não chega. Há comunidades que pagam IPTU e ainda carecem de serviços de infraestrutura pública“, disse Elizabeth.

Giovanna Berti, uma das articuladoras, moradora de Vargem Grande e mãe de alunos do colégio, compôs a mesa e destacou o adensamento e o modo que está sendo feita a urbanização das Vargens: “vemos edificações para fins de especulação imobiliária. Não vemos escolas ou postos de saúde serem implementados. É sempre para o setor privado”.

Carlos Motta, professor do colégio e pesquisador, enfocou as dificuldades enfrentadas devido aos meios legais: “Vivemos em um país burocrático onde o que menos vale é a palavra. Dependemos de papéis sem ter certeza de deixar bens que conquistamos para nossos filhos”, disse ele. Carlos afirmou que não podemos mudar sem criar uma consciência e sem nos empoderar. Para ele “as comunidades estão cheias de jovens com potenciais, a juventude é um verdadeiro campo fértil que está vazio”. Carlos também pontuou as dificuldades encontradas por movimentos sociais: “O Movimento Por Uma Universidade Popular (MUP) sumiu junto com o avanço das milícias. As comunidades vivem o voto de cabresto. As favelas são palcos de curral eleitoral”.

O professor e pesquisador do Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ, Fabrício Leal de Oliveira, ressaltou um ponto positivo na crise econômica brasileira e, em especial, no Rio de Janeiro por frear o avanço da especulação imobiliária na região. “Estamos vivendo uma época de pequena calmaria por conta da baixa do setor imobiliário que vem expulsando agricultores e proprietários de sítios e terras verdes preservadas para dar vez à condomínios concretados”, disse Fabrício. O professor ainda questionou a posição de órgãos públicos de fiscalização ambiental que multam os condomínios por infrações ambientais como despejo irregular de resíduos e desmatamento, mas que ainda assim não impedem que eles sigam instalados.

Para finalizar Maraci Soares, do Quilombo do Camorim, ressaltou a estratégia da agroecologia dando continuidade à luta pelo direito à terra. Para ela a agroecologia gera “o resgate das nossas culturas, reconquista e afirmação da nossa resistência, pois a agroecologia é muito vasta e permeia todos os campos, mesmo fora do corredor verde sem acesso à água”.

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