‘Agricultura e cultura no nosso quilombo é a mesma coisa’

Por Fernanda Couzemenco, Século Diário

“Agricultura e cultura no nosso quilombo é a mesma coisa”, afirma Gessi Cassiano, liderança quilombola na comunidade de Linharinho, em Conceição da Barra, norte do Estado, e coordenadora geral da Associação de Programas em Tecnologias Alternativas (APTA), voltada para o fortalecimento da agroecologia no Espírito Santo.

A interdependência entre cultura e agricultura é uma característica importante do seu povo, conta Gessi, e reflete diretamente no seu modo peculiar de produzir alimentos e de reproduzir hábitos e identidades.

Essa tradição, porém, tem se perdido devido à fragmentação do Território Quilombola do Sapê do Norte, a demora do Estado em regularizar a titulação das terras e ao grave estado de degradação ambiental em que se encontra a região, devido principalmente aos monocultivos de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano.

A criação de uma Associação Cultural de Conceição da Barra, reunindo mestres e jongueiros do município, tem essa intenção principal e vai ser apresentada para autoridades acadêmicas e governamentais, além de ONGs e outros parceiros cativos da comunidade quilombola, em busca de apoio, durante a III Oficina Direitos Culturais, Educação e Projetos Comunitários, que acontece no próximo dia dois de setembro, na comunidade de Linharinho.

O evento vai reunir todos os grupos de Jongos da região norte capixaba, representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), secretarias estadual e municipais de Cultura, professores quilombolas, e membros do Programa Jongos e Caxambus no Espírito Santo, iniciado em 2012 na Universidade Federal do Espírito Santo.

Um dos objetivos da oficina é o lançamento do livro Jongos e Caxambus: Culturas Afro-Brasileiras no Espírito Santo, organizado pelos professores Aissa Afonso Guimarães e Osvaldo Martins de Oliveira, como forma de devolutiva para as comunidades jongueiras envolvidas na pesquisa feita pelo Programa.

‘Juntamento’

“É um evento pra discutir a cultura e a agricultura no município”, enfatiza Gessi. Essa mesma pauta foi apresentada à prefeitura de Conceição da Barra, em reunião realizada no último dia nove de agosto, quando as principais lideranças quilombolas do Sapê do Norte reafirmaram suas necessidades ao Poder Público, considerado ausente no Território Tradicional.

“Agricultura sem cultura está perdida no ar”, poetizou, na ocasião, a coordenadora da APTA. “Na época do meu pai, do meu avô, do meu bisavô, quando plantava, ao final do dia, tinha lá a sua ladainha, o seu samba, a sua roda de jongo … Então eu vejo que a agricultura e a cultura têm que caminhar juntas. A ladainha era o meio de agradecer a Deus, o mesmo o jongo. O samba, o jongo, era o meio de festejar e também de agradecer. Era o ‘juntamento’, juntava todo mundo da comunidade para trabalhar. Vejo que se perdeu isso aí”, relatou.

A programação diurna da Oficina será reservada aos convidados e, à noite, uma Roda de Jongo será aberta ao público em geral, a partir das 19h.

Serviço:
Evento: III Oficina Direitos Culturais, Educação e Projetos Comunitários, com Roda de Jongos do Norte do Espírito Santo
Data: 02 de setembro
Local: Comunidade quilombola do Linharinho, em Conceição da Barra

Imagem: Reprodução do Século Diário.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

2 + quinze =