Para Paola Estrada, as concepções de que governos latino-americanos são ditaduras é fruto dos interesses financeiros
José Eduardo Bernardes, Brasil de Fato
Ao contrário do tratamento dado para alguns governos latino-americanos, o quarto mandato da chanceler, Angela Merkel, não levantou questionamentos de críticos e veículos da imprensa acerca da existência de uma “ditadura” na Alemanha.
Para Wilbert Villca, sociólogo boliviano e doutorando da Universidade de Sorbone Paris 3, o que garante a permanência de Merkel na presidência alemã sem qualquer pecha ditatorial é o bom momento econômico do país.
“A chanceler alemã com certeza está sendo vista, avaliada, porque é uma pessoa que favorece aos interesses do capital financeiro e industrial. Então, quando a economia está em uma bonança econômica, mesmo que seja uma ditadura, as pessoas têm uma tendência a acreditar na continuidade desse governo”, disse.
Prestes a realizar um plebiscito para saber se a população deseja sua reeleição, o governo do boliviano Evo Molares se vê na mesma situação do ex-presidente Hugo Chávez, quando o consideraram um ditador por encabeçar uma campanha por sua reeleição.
Para Paola Estrada, da Articulação dos Movimentos Sociais da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), as concepções de que governos latino-americanos são ditaduras é fruto dos interesses financeiros propagados por grupos midiáticos.
“Na grande mídia oligopolizada a nível internacional, ela vê que ela tem posição política e tem lado nas várias disputas políticas, tanto internamente nos países, tanto internacionalmente, nos diversos conflitos geopolíticos. A gente vê de um lado a grande mídia acusando os governos de Maduro e Chávez, por exemplo, de governos autoritários. Alguns chegam até dizer o absurdo de que é uma ditadura, e ao mesmo tempo celebrar a vitória de Merkel na Alemanha, que está há mais de 16 anos consecutivos no poder”, criticou.
Segundo Villca, governos que avançam em direitos sociais pagam pelo enfrentamento da luta de classes. O sociólogo lembra que, no caso boliviano, não há menções na grande mídia aos avanços populares do governo de Evo Morales.
“Paralelamente, há direitos econômicos, como na questão da Bolívia. Por exemplo, ninguém vai dizer que, nesse momento, a Bolívia tem o maior crescimento do PIB que os outros países latino-americanos. Não, ninguém vai parabenizar Evo Morales. Qualquer um que questionar Evo Morales dirá: manutenção é caminho para a ditadura”, disse.
Integrante do partido alemão União Democrata Cristã (CDU), Merkel recebeu pouco mais de 33% dos votos nas eleições realizadas no domingo (24).
Mesmo dispondo de prestígio global, Angela Merkel e seu partido perderam votos para a legenda de extrema direita, a Alternativa para a Alemanha (AFD) e terão que buscar alianças no parlamento alemão, o Bundestag, para formar uma maioria que a garanta na presidência.
Edição: Simone Freire