CIR capacita projetistas indígenas regionais

Conselho Indígena de Roraima – CIR

Com a iniciativa de capacitar projetistas indígenas regionais, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) iniciou na quarta-feira, 15, o Curso de Capacitação para Projetista Indígena Regional. A atividade acontece na sede do CIR, em Boa Vista, até o dia 21.

Participam da capacitação 14 cursistas indicados por suas regiões, Serra da Lua, Amajari, Serras, Surumu, Raposa, Tabaio, Murupu e Baixo Cotingo, a maioria, jovens, com um perfil de formação bastante diversificado. Uns possuem o ensino médio, outros nível técnico, superior e até já cursando pós-graduação, perfis que são necessários, porém, não obrigatórios, para obter um bom desempenho na capacitação e conseguir atingir a meta que é elaborar projetos para as suas comunidades indígenas, regiões e até compor a sonhada equipe de projetistas indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Para a capacitação foi elaborada uma metodologia acessível para a compreensão dos cursistas indígenas. Inicialmente, um formulário sobre elaboração de projetos com perguntas básicas, o que é um projeto, para que serve, o que se entende sobre objetivo, justificativa, metodologia, cronograma, orçamento, bem como a expectativa dos cursistas sobre a capacitação.

No primeiro dia, com a presença da coordenação geral e coordenação do departamento Ambiental e Territorial do CIR foi feito um diagnóstico dos cursistas, escolaridade, experiência e escrita, além da apresentação da experiência do CIR na elaboração e execução de projetos, tendo como exemplo, os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), uma das iniciativas mais bem sucedidas nos últimos cinco anos.

O segundo dia teve a apresentação da estrutura de projetos, utilizando os objetivos dos projetos dos planos de gestão, assim como o conhecimento sobre metodologia. O terceiro dia, já foi um dia mais intenso, onde os cursistas exploraram o tema justificativa e seguindo a linha de elaboração, pesquisa, escrita, problematização, orçamento e cronograma.

A finalidade da capacitação é a elaboração de um projeto e para essa atividade prática, foram formados grupos para que os cursistas trabalhem coletivamente na produção. Um dos cursistas é o jovem, David Mota Constantino, 20 anos, da etnia Macuxi, da comunidade Barro, região Surumu, Técnico em Agropecuária, formado pelo Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), turma de 2015, que atualmente acompanha a turma de seis estudantes do Centro que fazem intercâmbio na comunidade indígena Aningal, região Amajari, desde o mês de outubro.

Apesar de ser um período curto, mas a expectativa é “implementar a experiência adquirida no Centro e que possamos levar para a nossa região, porque o curso vai servir tanto para nós quanto para região elaborar e executar os seus projetos” disse David entusiasmado em aprender mais sobre projetos.

David também destacou que o curso não é só uma atividade para aprender fazer projetos, mas também envolver e valorizar os jovens que estão nas suas comunidades, regiões, muita das vezes sem ocupação, principalmente, para os que terminam uma formação. Para ele, Técnico em Agropecuária, a capacitação o ajudará a dar o retorno a sua região, que o indicou e apoia nesta iniciativa. “Pretendo levar essa formação para a minha região, mas também para outras regiões, como estou fazendo na região do Amajari, ajudando na implementação do PGTA e assim, cumprir com o meu compromisso junto às lideranças da minha região e comunidade” frisou David.

Outro projetista indígena, Alexandre Apolinário Viriato, 33 anos, etnia Macuxi, da comunidade indígena Boqueirão, região Tabaio, formado em Gestão Territorial Indígena, pelo Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR), atuou como consultor do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da terra indígena Manoá – Pium, 2014 a 2015 e, atualmente, participando do projeto de piscicultura da comunidade Boqueirão, além de ser indicado pela região para ser o coordenador dos operadores indígenas em direito.

“Aprimorar os conhecimentos, chegar para a minha região e dar atenção às demandas das comunidades indígenas, porque nós temos muitas e às vezes, a gente não sabe bem por onde começar, colocar no papel o que a gente quer nas nossas comunidades indígenas” destacou Apolinário a sua expectativa junto ao curso.

Apolinário apontou como um grande projeto que as comunidades indígenas têm é o projeto de gado. “Um dos grandes projetos que temos nas nossas comunidades é o projeto de gado, então estamos buscando fortalecer, porque sentimos uma certa fragilidade devido ao conhecimento que a gente não teve no início, mas que estamos buscando fortalecimento e não só para o projeto de gado, como também para o projeto de piscicultura, uma das maiores procuras das nossas comunidades atualmente” considerou Apolinário.

A capacitação também envolve a participação de mulheres indígenas, jovens, preocupadas com o bem viver das suas comunidades indígenas, principalmente, o das mulheres. Norma Mailey Tavares dos Santos, 32 anos, da comunidade indígena Guariba, região Amajari, professora, formada em Pedagogia, cursa Enfermagem e faz pós – graduação em Psico-pedagogia, além de ser coordenadora local da Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), é o exemplo da atual geração de mulheres indígenas que conquistam espaço se dedicando dia a dia em busca de conhecimento para a sua comunidade e região.

Idealizadora do projeto da cultura das pimentas tradicionais, executado na comunidade indígena Guariba, iniciativa executada com recurso próprio das mulheres da comunidade, apresentou como resultado do projeto a produção da jiquitaia, tipo de pimenta moída. “Temos o projeto da pimenta que deu bastante certo, deu um resultado que para nós é muito gratificante, porque começamos o projeto com recurso próprio, não recebemos parceria de ninguém” destacou Norma, autora do projeto.

“Eu vim para aprender um pouco mais sobre projeto, porque não sei de tudo, e a cada dia que passa, vamos aprendendo algo mais para levar as nossas comunidades indígenas, pois não adianta falarmos em projetos, se a gente não coloca em prática” pontou Santos demostrando a sua experiência na elaboração e execução de projetos, “um desafio”, conforme mencionado por ela também.

 A ideia da pimenta, segundo Norma, foi uma ideia interessante que surgiu com a participação das mulheres em curso oferecido pelo Instituto Federal de Roraima (IFRR), onde todas as mulheres plantavam pimenta, todas queriam, mas não dava certo, porque eram iniciativas individuais. Então, Norma, resolveu reunir todas as mulheres, para elaborarem o projeto e assim, conseguiram elaborar o projeto da pimenta.

Com uma área de 30/20, inicialmente, as mulheres plantaram 300 mudas de pimentas, deu certo, mas veio o inverno e perderam grande parte da produção. Porém, não desistiram e, ano passado, retornaram com o projeto e hoje, concretamente, tem o resultado.

Foram plantadas 23 variedades de pimentas, tendo, inclusive, algumas pimentas desconhecidas, segundo Norma. As mudas são da própria comunidade Guariba, mas também de outras que fazem a troca. A produção já é comercializada para o mercado local e o recurso, utilizado no próprio projeto, um projeto que tem apenas um ano de execução.

Para a capacitação dos projetistas indígenas, o CIR conta mais uma vez com os professores, Sandra Rodrigues da Silva, formada em Ciências Sociais, especialista em Gestão para o Etnodesenvolvimento e mestranda em Antropologia Social e Daniel Bampi Rosar, formado em Ciências Sociais, mestre em Agroecossistema e atualmente é professor no curso de Gestão Territorial Indígena pelo Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR), ambos, já participaram de outras capacitações prestadas pela organização.

Rodrigues conhecedora do movimento indígena de Roraima refletiu um pouco sobre o protagonismo indígena na elaboração dos seus projetos. “Antigamente, as lideranças tinha e tem a força e a união para lutar pelos seus direitos e agora, os indígenas, precisam e já estão adquirindo conhecimentos, sendo protagonista dos seus próprios projetos” refletiu Sandra.

Disse ainda que a tendência é capacitar os indígenas. “ A tendência é exatamente essa, capacitar os indígenas, alunos, lideranças, retornarem as suas comunidades,  junto elaborarem os próprios projetos e retornarem ao CIR para unificarem, se for o caso, trazer para lançarem aos editais, ou projetos maiores” completou Sandra sobre a iniciativa.

Para o coordenador geral do CIR, Enock Taurepang, que também é resultado de formação de projetistas já realizada pelo CIR, anos anteriores, os que se destacarem poderão atuar na organização indígena como atores principais dos grandes e futuros projetos que o CIR irá executar e, consequentemente, fazer parte do departamento de Projetos.

“Os que se destacarem que venham trabalhar aqui com a gente, para que nos próximos grandes projetos, eles sejam os protagonistas, atores principais desses projetos, atuando dentro do departamento de projetos” disse o coordenador, considerando também, que será uma primeira capacitação e que depois ainda virão outras.

Considerou também que um dos maiores projetos dentro do Conselho Indígena de Roraima (CIR), são os alunos do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol. “O nosso maior projeto são os alunos do Centro de Formação, esses são os principais atores que atuam dentro das regiões” destacou Enock sobre um dos principais focos da atual coordenação, a valorização dos jovens indígenas.

Essa iniciativa é uma demanda apresentada pelas lideranças indígenas regionais que sentem a necessidade de ter na sua região, projetista que possam dar o suporte técnico as suas demandas, sobretudo suporte aos Centros Regionais que estão sendo construído nas regiões. Um projeto que vem da parceria entre o CIR e entidade apoiadora Embaixada da Noruega que atua como parceira dos povos indígenas de Roraima há mais de 15 anos.

Foto: Resultado da projetista Norma Mailey, comunidade indígena Guariba, região Amajari que executa o projeto da cultura da pimenta tradicional, produção de pimenta jiquitaia (Mayra Wapichana).

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