Secretário-geral das Nações Unidas se diz “horrorizado” com imagens que mostram negros sendo vendidos como escravos a 400 dólares no país africano. Para Guterres, caso pode ser considerado crime contra a humanidade.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou nesta segunda-feira (20/11) que os supostos leilões de refugiados africanos negros como escravos na Líbia devem ser urgentemente investigados como crime contra a humanidade. Ele se disse “horrorizado” com o caso.
“A escravidão não tem espaço no nosso mundo, e essas ações estão entre os mais graves abusos de direitos humanos e podem ser consideradas crimes contra a humanidade”, afirmou Guterres. “Eu abomino esses atos terríveis.”
O chefe da ONU ainda exigiu a “todas as autoridades competentes” que investiguem com urgência os supostos leilões, acrescentando que já pediu às devidas agências e autoridades das Nações Unidas “para que acompanhem a questão”.
Segundo Farhan Haq, porta-voz da organização, Guterres já teria mobilizado o enviado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, bem como a Organização Internacional de Migração (OIM), o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, responsável por tráfico humano, e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O escândalo na Líbia foi revelado na semana passada pela emissora americana CNN e chocou o mundo. Imagens feitas com celular mostram homens negros sendo apresentados a compradores do Norte da África no que seria um mercado de escravos próximo à capital do país, Trípoli.
No vídeo, ouve-se alguém dizer que os homens estão sendo vendidos por 400 dólares (cerca de 1.300 reais) cada. Eles são apontados como possível mão de obra para agricultura.
Neste domingo, o vice-primeiro-ministro do governo da Líbia reconhecido pela ONU, Ahmed Metig, garantiu que vai investigar as acusações. Já o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve realizar nesta terça-feira um debate especial sobre tráfico humano, focando-se em migrantes na Líbia.
As imagens ainda causaram indignação em vários líderes africanos, que também pediram por um inquérito urgente sobre o caso. O presidente da Guiné, Alpha Condé, que é também líder da União Africana (UA), descreveu os supostos leilões como um “comércio desprezível de outra era”.
Em abril deste ano, um relatório da OIM já havia denunciado a existência de migrantes africanos retidos no país de trânsito e submetidos a trabalhos forçados, violência e abuso sexual. O documento trazia, inclusive, testemunhos de refugiados mantidos nos chamados “mercados de escravos”, onde muitos são vendidos por um preço entre 200 e 500 dólares.
Para especialistas, a principal razão para o alastramento de fenômenos como o tráfico de pessoas na Líbia é a falta de impunidade dos traficantes, resultado do caos continuado no país e da falta de uma autoridade centralizada que combata esses crimes.
A Líbia é vítima do caos e da guerra civil desde que rebeldes apoiados pela Otan conseguiram, em 2011, derrubar o ditador Muammar Kadafi, no poder desde 1969. Hoje há, basicamente, dois centros de poder no país, ainda que nenhum deles detenha um controle efetivo nem mesmo sobre os grupos armados que os apoiam.
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Imagem: Na Líbia, “novos escravos” da crise migratória foram retratados por fotógrafo mexicano Narciso Contreras.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili.