STF manda prender Maluf, o político que fez da mentira um objetivo de vida, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin determinou que Paulo Maluf (PP-SP) comece a cumprir pena em regime fechado. Decidiu também que ele perca o mandato de deputado federal.

Paulo Maluf é um dos grandes comunicadores da história do país. Calhou de ser um dos mais políticos mais corruptos também, o que para muitos eleitores de São Paulo que são seus fãs é apenas um mero detalhe. A defesa de Maluf diz que vai recorrer à Presidência do STF.

Questionado sobre suas contas no exterior, que receberam milhões desviados dos cofres públicos de São Paulo, sempre repetiu por sua própria boca ou pela de seus assessores uma frase que se tornou icônica: ”Paulo Maluf não tem nem nunca teve conta no exterior”.

Não importa que aparecessem testemunhas, documentos estrangeiros, batom na cueca, foto de saque em caixa eletrônico fazendo sinal da vitória. Por anos, Maluf entregou a mesma frase com tanta frequência e eloquência que, por vezes, parecia rir junto dos repórteres diante daquela insólita situação. Em outras, incorporava tão bem o papel de acusado injustamente que, para aqueles que curtem um autoengano, passava a imagem de um santo injustiçado.

A cadeia não será exatamente novidade para Paulo Maluf. Entre setembro e outubro de 2005, ele amargou uma temporada de 40 dias na carceragem da Polícia Federal na capital paulista. Na época, chorou em entrevista à rádio Jovem Pan. Disse que esperava ser recompensado ”no outro mundo”, pois não merecia aquele sofrimento. Chamou a si mesmo de ”preso político”.

Não me importa se as lágrimas dos políticos são falsas ou verdadeiras, mas qual tipo de psicopatia está relacionada a alguém que comete crimes em série e não encara as consequências de cabeça erguida? Como alguém que ocupa cargos importantes e tem sido sistematicamente envolvido em casos de corrupção pode apelar a um expediente tão patético?

Mas talvez resida exatamente aí sua resistência e durabilidade. Afinal, em uma guerra nuclear, apenas os animais mais adaptados, que fazem o que for preciso ser feito, sobrevivem ao final. E Maluf é talvez o animal político que mais roubou para si mesmo na história recente do país. Sistematicamente. E durante um longo tempo.

Em 2004, quando a imprensa noticiou que a Suíça enviara provas de suas contas, informando sobre um depósito de US$ 154 milhões, Dr. Paulo não se deu por rogado: ”Vou mandar providenciar num cartório em São Paulo uma escritura pública de cessão de direitos. Tanto não tenho contas, que vou passar uma escritura. O primeiro que encontrar a conta, o dinheiro é dele.” Gênio.

O dinheiro vem sendo repatriado. Mas Maluf continuou se elegendo, mantido por liminares, apesar da Lei da Ficha Limpa.

Após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal, em maio deste ano, a sete anos, nove meses e dez dias de prisão, além de multa e perda do mandato pelo crime de lavagem de dinheiro, o deputado federal recorreu. E, agora, perdeu.

”Determino, pois, o imediato início da execução do acórdão condenatório com a extração de carta de sentença. Delego competência para os atos de execução ao Juízo das Execuções Penais do Distrito Federal”, proferiu Edson Fachin.

Na última eleição, Maluf foi o oitavo candidato a deputado federal mais votado em São Paulo, com 250.296 eleitores depositando nele sua confiança.

Parte do eleitorado brasileiro já provou que escolhe heróis em todos os partidos políticos, da esquerda à direita, e segue com eles até o fim – independente dos fatos. Basta que esses heróis reafirmem suas narrativas com um mínimo de convicção. Convicção que vem de treino, mil vezes em frente ao espelho se for preciso, para que, diante de provas, possam repetir, sem piscar, acreditando no que dizem e não se importando com o que o mundo inteiro pense. Mesmo que isso soe ridículo.

Comparado com o montante que Paulo Maluf mandou para contas na Suíça e na Ilha de Jersey, desviado da Prefeitura de São Paulo, as cadernetas de Eduardo Cunha, as malas de Geddel Vieira Lima, as joias de Sérgio Cabral e as vacas de Renan são pó. Estima-se em mais de US$ 1 bilhão degredados pelo ex-prefeito e ex-governador agora na berlinda.

Alguém que faz expoentes do PMDB parecerem mirins, seja em mentiras, sejam em desvios, merece que seu funeral político tenha pompa, com uma lápide à altura:

”Aqui jaz a carreira política de Paulo Maluf. Ou não.”

Foto: Bruno Poletti/Folhapress

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