Capoeira, trabalho social e cidadania

por Alenice Baeta, para Combate Racismo Ambiental

Ocorreu no dia 22 de Dezembro no município Sarzedo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o “Segundo Encontro Nacional de Capoeira Unidos pela Paz” organizado pelo Mestre Edvaldo Gregório do grupo “Guerreiros do Ser” que atua nos municípios Ibirité, Sarzedo e Itatiaiuçu em Minas Gerais. Nesta oportunidade foi feita a troca de cordas de crianças, jovens e idosos.  

Estiveram presentes os Mestres da Bahia: Regis e Alegria; Mestre Nelsinho, de Nanuque, vale do rio Doce, além dos Mestres Binha, Taisson, Garnizão e Zui de Belo Horizonte.

O que mais chamou atenção no evento foi constatar o belíssimo trabalho social do Mestre Edvaldo; que iniciou na Capoeira ainda jovem em Nanuque, sua terra Natal, sendo que seu primeiro Mestre foi Emm, Emmanuel Nascimento, do grupo ‘Capitães de Areia’, em 1986. Mesmo vindo para Belo Horizonte e em seguida para Ibirité onde se instalou em 1994, sempre teve em mente o dever de formar cidadãos capoeiristas.  Ele conta com emoção a sua trajetória de capoeirista até se tornar Mestre. Fala com orgulho que continuou a sua formação em Belo Horizonte junto ao famoso Mestre Binha no grupo ‘Capoeira Sinhá’ tendo sido o primeiro graduado a Mestre por suas mãos.

Todavia, ele pondera que não basta ser reconhecido pelas autoridades da Capoeira… por mais respeitadas que elas possam ser.  O que mais importa ao Mestre Edvaldo é dar um bom exemplo de cidadania aos seus alunos e ser reconhecido pela sociedade por seus projetos sociais e culturais junto à população carente.

É também na roda da capoeira que funciona a afirmação e respeito mútuo entre o grupo e os indivíduos componentes, reativando os laços de solidariedade e a ajuda aos iniciantes na prática da capoeira, inclusive entre as crianças, mulheres e idosos. Ele faz um importante trabalho social com as crianças da creche e do Centro de Libertação da Mulher Trabalhadora-CLMT.  Desde 2012 desenvolve também um projeto modelo junto a pessoas da terceira idade, sendo que muitos já demonstraram melhoras clínicas de suas doenças e de autoestima ao fazer as atividades físicas e de harmonização.

Mestre Edvaldo e seus discípulos contam a experiência de trazer para o mundo da capoeira muitos jovens envolvidos com drogas ou com os inúmeros perigos da rua.  Segue assim o seu projeto de resgate social, por isto reforça a ideia da Capoeira ser um esporte educativo voltado a formação do cidadão. A Artefactto está desenvolvendo um pequeno vídeo sobre a história de vida e da obra do Mestre Edvaldo buscando registrar e valorizar o seu trabalho. Em breve este material será divulgado.

O Ofício de Mestre de Capoeira e da Roda de Capoeira foi considerado oficialmente como Patrimônio Cultural pelo IPHAN/Ministério da Cultura desde 2008 – importante conquista dos capoeiristas e de suas organizações. Em 2014 a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda aprovou, em Paris, a Roda de Capoeira, como um dos símbolos do Brasil mais reconhecidos internacionalmente, portanto, adquiriu o status de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Apesar destes títulos e reconhecimentos em nível nacional e internacional os Mestres contam que a Capoeira e os capoeiristas sofrem ainda muito preconceito e incompreensão por parte do poder público sendo pouquíssimos os incentivos e investimentos em todas as instâncias, inclusive das prefeituras. Faz-se necessária uma política cultural integrada na prática que garanta o pleno desenvolvimento de projetos educativos que envolva a arte-capoeira-cidadania…  “Você não sabe o valor que a capoeira tem…”

Imagem: Segundo Encontro Nacional de Capoeira ‘Unidos pela Paz’, em Sarzedo, Minas Gerais – Foto: A. Baeta.

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