No Brasil de Temer, meio milhão vende comida na rua para sobreviver, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

O IBGE já havia divulgado que a esmagadora maioria das vagas geradas no setor privado no Brasil, até outubro do ano passado, eram informais. Agora, um dado novo divulgado pela Folha de S.Paulo mostra que 11% desses novos postos de trabalho precários são de pessoas que resolveram vender comida na rua para sobreviver.

Eram 253,7 mil pessoas trabalhando nessa atividade no terceiro trimestre de 2016. E 501,3 mil no mesmo período de 2017.

Desses, 414,3 mil trabalhavam por conta própria. Alguns ultraliberais otimistas certamente enxergarão nesse copo quase vazio de direitos um vasilhame quase cheio de possibilidades. Torço para que todos que optaram pelo desafio de empreender tenham sucesso, cresçam e sejas independentes. O problema é que isso não é o resultado de um movimento empreendedor voluntário, mas uma forma de buscar sobrevivência diante da falta de oportunidades, como afirmou o coordenador para a área de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, na reportagem.

Ou seja, a grande maioria trocaria isso por um emprego formal, com todos os direitos, rapidamente.

É de um vendedor de tapioca que perdeu emprego em um restaurante, aliás, uma frase que traduz bem essa realidade remediada: ”Este é o lado bom de trabalhar com comida: se não vender, a gente come. De fome a gente não morre”.

Para o IBGE, vagas informais vão desde empregos sem carteira, passando por pessoas que resolveram se virar por conta até trabalhadoras empregadas domésticas sem contrato. O desemprego foi de 12,2% no trimestre que terminou em outubro de 2017, ou seja, 12,7 milhões de pessoas. Até aquela data, houve um aumento de 2,4% de trabalhadores sem carteira.

Como já escrevi aqui, é claro que, para um trabalhador em situação de necessidade, trabalho precário é trabalho mesmo assim e ajuda a pagar as contas no final do mês e sustentar a família. Mas esse tipo de serviço não garante o pacote básico de proteção para ele e sua família, mantendo-os em um grau preocupante de vulnerabilidade social e econômica.

Até agora, a retomada dos empregos tem ocorrido através de postos de trabalho precarizados, que não garantem férias remuneradas, 13o salário, descanso semanal, licença maternidade, limite de jornada, enfim, nenhum dos direitos mais básicos que não foram sustados pela Reforma Trabalhista realizada pelo governo. Esse crescimento na informalidade pode ser uma etapa anterior à geração de empregos formais. Mas nada de muito bom pode ser construído alijando uma massa de trabalhadores de um patamar mínimo de dignidade.

Por fim, com a crise, aumentou a procura por comida mais barata do que a servida em lanchonetes e restaurantes, afirmou Cimar Azeredo. Daí, percebendo isso, a população desempregada tratou de se arrumar e correu para garantir oferta de alimentos mais baratos aonde havia demanda para tanto.

Dessa forma, através da precarização de parte da mão de obra (os ambulantes de comida), garante-se que o custo de vida de outra parte dos trabalhadores possa se ajustar a uma realidade de crise. Ou seja, com menos dinheiro disponível.

Por isso, nas eleições no ano que vem, não caia no discurso enganoso de membros do governo Michel Temer e de sua base de apoio, que chamarão para si e para seus candidatos os louros de alguma melhoria na economia.

Agradeça aos trabalhadores que, através da perda de seus direitos e empregos, comem o pão que o diabo amassou para que o país possa se levantar do tombo.

Foto: Antonio Lacerda/EFE

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