Dez dicas para não pagar mico ao repassar áudio sobre “intervenção militar”, por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Você recebeu um áudio ou um texto, na lista de WhatsApp, de alguém que se diz um militar anunciando que uma intervenção/golpe militar é iminente. Antes de passar adiante algo que tem enorme chance de ser falso, seguem dez humildes sugestões. Isso pode ajudar você a não virar motivo de piada entre os amigos e amigas nas redes sociais. Tragédias acontecem, conspirações ocorrem e democracias vão para o saco? Claro. Mas ajudar a criar pânico desnecessário em uma população que já está à flor da pele após uma longa greve de caminhoneiros é muita sacanagem. 

1) Antes de mais nada, não passe adiante uma informação que parece bombástica sem checar qual a fonte da informação.

2) Um “cara gente boa”, sua mãe e seu “Best Friend Forever” não são, necessariamente, fontes confiáveis de informação. Não confunda ligação afetiva com informação objetiva. E mensagens “apócrifas”, sem fonte clara, jamais devem ser aceitas como instrumento de checagem ou comprovação.

3) Cheque o nome do militar que ”assina” tal declaração. Use o Google. Veja se a pessoa existe, onde está lotada e se é realmente quem diz que é.

4) Verifique se algum veículo de comunicação conhecido tratou do áudio ou do texto (normalmente, essas informações correm rápido). Procure em sites e páginas que você conhece se elas confirmaram essa informação – prefira sites e páginas que mostrem que são seus responsáveis, com endereço e telefone de preferência. Muitos se escondem porque temem ser processados em caso de divulgar informações falsas. Se divulgar um áudio com uma declaração como essa, veículos e sites sérios procurariam e ligariam para o militar para checar a informação.

5) Não repasse o áudio ou texto só porque você não gosta de determinado político ou acha que está tudo um droga e que algo deveria mudar. Ou que desejaria que aquilo fosse verdade, mesmo tendo a desconfiança de que não é. A disputa entre posições políticas deve ser baseada em um jogo limpo e não em mentiras.

6) Não é porque está todo mundo comentando sobre um áudio ou texto no seu grupo de WhatsApp que ele é verdadeiro. Da mesma forma, um número grande de likes e compartilhamentos não transformam uma mentira em uma verdade.

7)  Todos gostamos de ser os primeiros a dar uma informação bombástica, porque isso cria reconhecimento público. Mas se a informação é mentirosa, ela só vai servir para gerar pânico. Ou seja, você vai estar ajudando a atrapalhar a vida dos outros. Há outras formas de afagar o ego.

8) Se você perceber que um áudio ou texto tem grandes chances de ser falso ou tem evidências disso, não fique em silêncio com medo de ser o chato ou a chata do grupo. Avise os demais para tomarem cuidado com o conteúdo e que ele pode ser falso. Se te chamarem de ”defensor de bandido” ou ”estraga prazeres”, não esmoreça. Quando colocada contra a parede, uma pessoa não tem muito conteúdo ataca o interlocutor e não o argumento.

9) Se descobrir que compartilhou um áudio ou texto falso, avise isso ao seu grupo rapidamente. Não tenha vergonha de reconhecer o erro. Todo mundo erra, mas apenas os fortes reconhecem isso e pedem desculpas.

10) Na dúvida, não compartilhe textos e áudios que trazem notícias como golpes militares, desabastecimentos em massa ou conflitos sociais sem checar. Isso é equivalente a gritar ”fogo!” em um teatro lotado sem ter certeza disso, o que pode criar problemas.

Caminhoneiros fazem barricada na BR-116, perto de Embu (SP), nesta terça. Foto: Everaldo Silva/Futura Press/Folhapress

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