Esquecidas pelo poder público há 46 anos, comunidades poderão ser removidas pelo setor privado; Em troca, moradores receberão apartamentos em área nobre, mas novos vizinhos repelem a mudança
Por Talita Bedinelli, no El País Brasil
Em algumas áreas da Favela da Linha, na zona oeste de São Paulo, é sempre noite. Quando do lado de fora amanhece, do lado de dentro o sol não entra. As improvisadas construções de mais de um andar, feitas dos dois lados da viela, quase se encontram no topo e criam um túnel que impede a passagem da claridade. Ali, cada centímetro é ocupado, ainda que isso signifique uma circulação de ar diminuta e um constante cheiro de mofo misturado ao de esgoto e ao de diferentes refeições em preparo. A maioria das casas, construídas parede com parede, não tem janela. Mas nas em que há mais condições, tudo é arrumado: dos pisos revestidos de cerâmica e paredes com textura ao conforto dos aparelhos eletrônicos, ligados à uma rede conectada por gatos, que às vezes faíscam e pegam fogo. Quando acontece é preciso recomeçar as casas outra vez. (mais…)