Articular para funcionar: “Garantindo a defesa de direitos e a cidadania dos povos indígenas do médio rio Solimões e afluentes”

Da Cáritas e do CIMI de Tefé

Articular é unir diferentes partes de um corpo para um bom funcionamento do organismo. É com esse espírito de união e organização que acontecem as articulações nas aldeias dos povos que integram o projeto “Garantindo a defesa de direitos e a cidadania dos povos indígenas do médio rio Solimões e afluentes”, realizado pela Cáritas da Prelazia de Tefé e Conselho Indigenista Missionário (CIMI-Tefé), e financiado pela União Europeia e CAFOD, Agência Católica para o Desenvolvimento Internacional.

A viagem até as comunidades e aldeias é cansativa, mas “recheada de emoção”, diz o educador Fábio Pereira. “Apesar da longa jornada temos nossas recompensas ao receber um abraço e um ‘sorrisão’ de boas vindas de um povo simples, animado e acolhedor, que sabe partilhar aquilo que tem no seu jeito de ser indígena”. Para Fabio, que é missionário do CIMI há mais de 10 anos e nesse tempo vem presenciando e diagnosticando várias violações dos direitos indígenas, “mesmo com o histórico de violência e exploração, [os povos Deni e Kanamari] hoje, desfrutam de uma terra demarcada e protegida por lei, rica de fauna e flora, que é de onde tiram seu sustento”. A realidade de violação de direitos diagnosticada pelas equipes do CIMI ao longo dos anos são registradas, documentadas e entregues aos órgãos competentes através das atividades de incidência política apoiadas pelo projeto.

O mês de agosto foi destinado a essas viagens de articulação e o percurso foi traçado conforme a localização das aldeias ao longo do rio Xeruã, em Itamarati (AM): aldeias Morada Nova, Boiador, Terra Nova, Itaúba, Santa Luzia, Flexal e São João do Curabi, dos povos Deni e Kanamari. A equipe que seguiu para essa atividade é formada pelos educadores Fábio Pereira, Francisco Amaral e Raimundo Francisco.

Os assuntos compartilhados durante a articulação foram o planejamento e calendário das atividades do ano 3, entre elas a última etapa da Oficina Político-jurídica, e outros assuntos de interesse das comunidades, como o sucesso do manejo do pirarucu do povo Deni, apoiado pela parceira OPAN (Operação Amazônia Nativa); o cenário das eleições para o poder executivo e legislativo no Brasil e as candidaturas indígenas; a etapa local da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena; Assembleia da ASPODEX (Associação dos Povos Deni do Rio Xeruã); Festejo de 60 anos da paróquia São Benedito em Itamarati; 5ª Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base da Prelazia de Tefé e, por fim, as informações do Boletim Huhuride nº 5, que traz o trabalho realizado no ano 2 do projeto.

Foram três dias de andanças, conversas, risos, animação, mas muita seriedade para acertar os calendários das atividades do ano 3 e, nelas, poder reunir e unir os indígenas em defesa dos seus direitos, seu território e suas vidas. Para a equipe, os momentos passados na aldeia vão além do trabalho. São momentos de (re)encontro, partilha, alegria, confraternização e construção de conhecimentos. Para os indígenas, que recebem a equipe lá no porto da comunidade, “a chegada dos companheiros é motivo de festa, muito estudo e planejamento”, como diz o tuxaua da aldeia Flexal, Marawe Juracir Kanamari.

Ao final do dia, “quando o sol vai saindo de cena e a lua vai tomando sua posição lá no céu”, diz Fábio, “a imagem que fica na mente e no coração é um leve contraste das pessoas e da natureza embrenhando-se um no outro”.

Imagem: Aldeia São João do Kurabi. Indígenas recebendo os educadores que chegam à aldeia. Foto Fábio Pereira.

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