No blog do Sakamoto
Jair Bolsonaro ostenta 26% na pesquisa Datafolha, divulgada nesta sexta (14), sendo que 75% de seus eleitores afirmam que não irão mudar de voto. Na declaração espontânea, chega a 22%. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Após o abominável atentado contra sua vida, ocorrido na quinta (6), o candidato ganhou 5 pontos na pesquisa espontânea, divulgada na segunda (10), e mais 2 pontos na pesquisa desta sexta (14). Ao mesmo tempo, ganhou 2 pontos na estimulada de segunda (10) e mais 2, na desta sexta (14).
Enquanto isso, sua rejeição, a maior entre os candidatos, oscilou de 39% (22/8), para 43% (10/9) e 44% (14/9). Hoje alcança 49% entre as mulheres (o mesmo nível de 10/9) e 38% entre os homens (37%, em 10/9). O Datafolha aponta que apenas 2% das pessoas decidiram trocar de voto por conta do atentado. Ou seja, ao que tudo indica, os efeitos da comoção popular foram limitados.
Independentemente do que aconteça de agora em diante, Bolsonaro já é vitorioso. Conseguiu agregar em torno de si um campo da sociedade brasileira – que inclui parte do antipetismo, mas não se esgota nele. Deu uma cara à extrema direita, que esteve envergonhada desde o processo de redemocratização na década de 80 e ressurgiu para o debate público nos últimos anos. Teve o mérito de assumir, na política partidária, a consolidação dessa narrativa.
Nesse um quarto do eleitorado, estão incluídos setores linha-dura de corporações, como as polícias e as Forças Armadas, parcelas do agronegócio, parte do empresariado que defende a ampla desregulamentação da relação capital-trabalho, grupos que representam um fundamentalismo religioso, pessoas que se sentiram prejudicadas após perderem privilégios diante de minorias que lutavam por direitos e grupos de extremistas variados.
Mas seria um erro crasso afirmar que todo seu eleitorado é de extrema direita Muitos de seus eleitores foram atraídos pelo seu discurso de ordem uma vez que estão assustados com a violência e com a instabilidade política e econômica. Não compartilham necessariamente do conservadorismo pregado pelo candidato, mas acha que ele seria uma quebra necessária na política vigente.
Perdendo ou ganhando, Bolsonaro já criou um núcleo em torno de si que carregará depois das eleições. Seu programa de governo não é o que está escrito naquela publicação com jeitão de PowerPoint que seu partido divulgou. Mas é o discurso conservador em costumes e que, de forma contraditória, se afirma liberal economicamente, apesar de ter demonstrado, até aqui, uma trajetória corporativista, nacionalista e estatista. Um discurso que mira no presidente norte-americano Donald Trump, mas deságua no primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e no presidente filipino Rodrigo Duterte.
Ao mesmo tempo, o Datafolha mostra uma tendência consistente de crescimento de Fernando Haddad, que passou de 4% (22/08), para 9% (10/9) e, agora, 13% (14/9), resultado da transferência de votos do ex-presidente Lula. Cresce a chance de um segundo turno entre ambos.
Se Bolsonaro perder para Haddad por uma votação apertada num hipotético segundo turno, ele pode se tornar uma força de oposição a partir de 2019. No Congresso, isso dependerá de quantos deputados conseguirá eleger – lembrando que seu apoio vai muito além do PSL e do PRTB. Mas seu principal potencial como oposição se dará junto à sociedade, liderando esse naco que compartilha com ele do mesmo pacote ideológico. É importante que não se subestime o poder de construção simbólica disso. Ao mesmo tempo, se ele ganhar, o PT finca o pé à frente da oposição, no Congresso Nacional e na rua. Em ambos os casos, o PSDB pode se tornar um ator coadjuvante – o que torna desesperadora a situação dos tucanos até 7 de outubro.
O ingresso de Geraldo Alckmin no segundo turno pode ser questão de sobrevivência partidária. Até porque, em uma disputa entre Haddad e Bolsonaro, a parcela social-democrata do tucanato deve apoiar o PT, enquanto os mais conservadores, como o ex-prefeito João Doria, pode pular na trincheira do capitão.
Se esse prognóstico se confirmar, teremos o segundo turno mais polarizado da Nova República. Não será apenas uma discussão entre antipetismo e antibolsonarismo, mas um embate entre a esquerda/centro-esquerda e a extrema direita em um país politicamente deflagrado e que não dialoga com o outro lado, apenas xinga.
Esse será, provavelmente, o argumento usado por Ciro Gomes – 13% das intenções de voto em 10/9 e 13%, em 14/9, e Geraldo Alckmin – 10% (10/09) e 9% (14/9) – para convencer o eleitorado a evitar o segundo turno entre Bolsonaro e Haddad.
Ciro tem afirmado que conta com mais chances de vencer Bolsonaro (ele tem 45% contra 38% do ex-capitão, na simulação de segundo turno). Alckmin afirma o mesmo sobre a possibilidade de derrotar o PT (hoje, ele tem 40% contra 32% de Haddad).
As posições podem mudar nas próximas três semanas, até porque a trégua dada pelos candidatos a Bolsonaro por conta da facada acabou e uma mais eleitores têm acompanhado o horário eleitoral no rádio e na TV em comparação à eleição passada – o que ajuda o ex-governador paulista, que conta com um latifúndio de tempo dado o tamanho de sua coligação. Os números vão sugerindo, contudo, um novo panorama político, sem a dualidade entre petistas e tucanos – que dominou o cenário nacional no último quarto de século.
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Imagem: IHU