No RN, bancada ruralista tenta se “renovar” a partir das mesmas três famílias

Entre os clãs Alves, Maia e Rosado, políticos novatos passam para o lugar de pais investigados e velhos nomes procuram no Congresso o foro privilegiado

Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

Dos oito deputados federais do Rio Grande do Norte (RN) , quatro são ruralistas com registro na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Dois deles (Zenaide Maia e Jácome) querem ser senadores, em disputa com Garibaldi Alves, e dois querem voltar para a Câmara (Beto Rosado Segundo e Walter Alves). Mas tudo em uma lógica de rodízio. A política potiguar gira em torno de três poderosas famílias: os Alves, os Maia e os Rosado.

Candidato à reeleição no Senado, Garibaldi Alves Filho (MDB) é primo do famoso Henrique Eduardo Alves (MDB), ex-presidente da Câmara no ostracismo após a Operação Lava Jato. E pai do candidato a deputado Walter Alves Filho (MDB), um dos integrantes da Garibaldi, que também pertence à frente de defesa do agronegócio, é primo do candidato ao governo Carlos Eduardo Alves (PDT).

Carlos Eduardo Rosado, o Kadu (PP), é vice na chapa do xará Carlos Eduardo Alves. Ele se tornou uma opção do clã porque sua mãe Rosalba Ciarlini, atual prefeita de Mossoró, e o seu pai, Carlos Agusto Rosado, estão com problemas na Justiça Federal. O pai é réu na Operação Sinal Fechado, que descobriu um esquema de lavagem de dinheiro na contratação da inspeção veicular para o governo do estado durante a gestão de Rosalba.

Os Rosado descendem de 21 irmãos. Em outro braço da família, Betinho Rosado lançou para a reeleição o nome de seu filho Beto Rosado Segundo. Betinho está com um problema semelhante ao de seu irmão Carlos Eduardo. Tornou-se ficha suja após suas contas à frente da secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte terem sido reprovadas.

A ligação atual dos Maia com o grupo vem dos Rosado. Carlos Augusto tem como companheiro de processo na Justiça Federal o empresário José Bezerra Júnior, o Ximbica, que foi suplente de senador de José Agripino Maia. O próprio senador virou réu no processo, em junho.

EFEITO AÉCIO: AGRIPINO DESISTE DO SENADO

Nestes tempos turbulentos, os Maia estão mais prudentes. O senador José Agripino (DEM) prefere disputar a Câmara. É um caso bem semelhante ao do ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB), em Minas Gerais, que também decidiu trocar o certo pelo duvidoso. Mas com uma consequência indigesta para a oligarquia.

Filho do ex-governador Tarcísio Maia, Agripino é réu duas vezes. A última decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) envolve os Rosado. O senador teria recebido R$ 1,15 milhão em propina no caso da inspeção veicular. O outro escândalo é o da construção da Arena Dunas, sede de quatro jogos da Copa do Mundo. Agripino teria recebido mais de R$ 600 mil para atuar em favor da construtora OAS no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

A troca do Senado pela Câmara como meta fez Agripino sacrificar a reeleição do filho, o deputado federal Felipe Maia, que não se candidatou. Os dois estão preocupados em diminuir a visibilidade dos seus bens. Suas concessões de TV e rádio estão sendo transferidas. Por enquanto, as duas fazendas em nome de Agripino, cujo patrimônio soma mais de R$ 10 milhões, devem ficar com a família.

Enquanto isso, João Maia (PR) também disputa a Câmara. Ele tem uma fortuna mais discreta: R$ 2,5 milhões. Sua irmã Zenaide Maia (PHS) tenta o Senado. Ela é uma ruralista sem terra declarada. Desta vez a médica está escondendo o sobrenome em sua propaganda: aparece como Doutora Zenaide. É que ela se entrincheirou no lado oposto da família, apoiando a senadora Fátima Bezerra (PT) para o governo.

A família tem parentes importantes no Rio, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Apesar de Zenaide não indicar nenhuma propriedade rural ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de João Maia, o primo, declarar apenas sítios, os Maia têm uma fazenda, a São João, que já foi ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Segundo o MST, a ocupação ocorreu por causa das críticas de José Agripino à reforma agrária, em 2003, e de outras posições políticas como o apoio do senador à reforma da previdência. Improdutiva, de acordo com os camponeses, a fazenda fica em Mossoró, onde reinam os Rosado.

JERÔNIMO ROSADO TEVE 21 FILHOS

Jerônimo Ribeiro Rosado foi um farmacêutico paraibano que viveu a partir da segunda metade do século 19. Teve três filhos com a primeira mulher. Após tornar-se viúvo, casou-se com a irmã mais nova de sua esposa, Isaura, com quem teve outros 18 filhos. A família cresceu em Mossoró, onde seus descendentes ampliaram a disposição política do pai.

Entre os 21 filhos, Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia – o décimo sétim0- foi governador. Jerônimo Vingt Rosado Maia, o vigésimo, deputado federal. O décimo oitavo, Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia, senador. Do terceiro filho até o décimo, os números incorporados aos sobrenomes são em português, como em Isauro Nono Rosado Maia. A partir do 11º, exceto o 12º filho, todos ganharam numerais em francês. A maioria deles, Jerônimo ou Isaura.

Os Rosado não começaram como fazendeiros. Mas a ascensão política e econômica do velho Jerônimo, que atendia pessoas carentes de graça em sua farmácia, está completamente ligada ao domínio dos grandes proprietários rurais. Ao longo dos anos, as propriedades foram surgindo.

Filho de Dix-Sept, Betinho Rosado tem 685 hectares em fazenda no município que leva o nome do seu pai, vizinho de Mossoró. Marido de Rosalba e pai de Kadu, Carlos Augusto Rosado também tem 599 hectares em Governador Dix-Sept Rosado, na Chapada do Apodi.

Mais dois integrantes da família, sem terras declaradas, disputam as eleições. A deputada estadual Larissa Rosado (PSDB) tenta a reeleição na Assembleia. O médico Bernardo Rosado (PP) é candidato a segundo suplente de Garibaldi Alves, que também já foi presidente do Senado.

ENTRE OS ALVES, PROBLEMAS NA JUSTIÇA

Enquanto os Maia e os Rosado têm braços claros no universo ruralista, os candidatos da família Alves não declaram bens rurais, embora Garibaldi pertença à Frente Parlamentar da Agropecuária. O principal ramo do clã é a comunicação: os Alves têm participações em rádio, televisão e são proprietários do jornal Tribuna do Norte.

Em comum com as outras famílias eles têm as denúncias de corrupção. Sobrinho do ex-governador Aluísio Alves, Garibaldi tem R$ 1,1 milhão em patrimônio e está entre os denunciados, ao lado de outros senadores como Renan Calheiros (MDB), por desvio de dinheiro da Transpetro. As citações ao seu nome em delação da Odebrecht foram arquivadas.

Candidato a governador, seu primo Carlos Eduardo Alves tem um patrimônio de R$ 3,5 milhões. Está sendo investigado por suposto desvio de até R$ 23 milhões na Secretaria Municipal de Serviços Urbanos de Natal.

O mais rico é Henrique Eduardo Alves, com uma fortuna de R$ 12 milhões. Ele se livrou da prisão domiciliar, mas ainda responde ao processo envolvendo a Arena Dunas, onde figura também José Agripino Maia, amigo da família.

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