Desemprego cai puxado pelo aumento da informalidade. Setor privado patina. Por Leonardo Sakamoto

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O aumento no número de pessoas que trabalham por conta própria, de empregadas domésticas (principalmente sem carteira assinada) e de empregados do setor público foi o responsável pela leve redução da taxa de desocupação de 12,7% (no trimestre entre março e maio) para 12,1% (no trimestre entre junho e agosto). Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE foram divulgados nesta sexta (28). No mesmo período no ano passado, a taxa estava em 13,1%. Segundo o instituto, o país conta com 12,7 milhões sem trabalho.

Em outras palavras, o setor empresarial continua não gerando postos de trabalho em quantidade suficiente para reduzir o desemprego no país. Ao mesmo tempo, o trabalho por conta própria, como vendedor ambulante de comida ou motorista de aplicativos, segue em alta. O serviço doméstico em sua vertente mais precária, que havia conhecido uma redução anos atrás, também volta a crescer com o retorno de mulheres para contribuir com a sobrevivência da família

O contigente de empregados no setor privado com carteira assinada (excluindo trabalhadoras domésticas) manteve estabilidade em relação ao trimestre anterior, com 33 milhões de pessoas. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o número é 1,3% menor (menos 444 mil). Os empregados no setor privado sem carteira assinada também manteve estabilidade em relação ao trimestre anterior, com 11,2 milhões – mas aumentou 4% em relação a um ano atrás (mais 435 mil).

Já a categoria de trabalhadores por conta própria, com 23,3 milhões, aumentou 1,5% em relação ao trimestre anterior, acréscimo de 341 mil pessoas. O total é 1,9% superior (mais 437 mil) ao mesmo período no ano passado.

O mesmo ocorreu com o total de trabalhadoras empregadas domésticas, estimadas em 6,3 milhões, que aumentou 2,7% em relação ao trimestre de março a maio. Desse total, houve aumento de 2,5% com carteira assinada (mais 44 mil) e 2,8% sem carteira assinada (mais 121 mil). No total, E 3,1% em comparação ao ano passado – 1% com carteira e 4% sem carteira.

Por fim, os empregados no setor público (incluindo concursados e militares) aumentaram 2% em relação ao semestre anterior (mais 233 mil), totalizando 11,7 milhões. O número é 2,2% maior que no mesmo período no ano passado.

Dados do IBGE, publicados pelo jornal Valor Econômico, em agosto, mostram que áreas como alimentação e transporte foram destino de muitos que perderam o emprego. Com isso, já contam com mais trabalhadores do que no início da crise. Na comparação entre o segundo trimestre deste ano e o de 2014, o setor de ”alimentação e alojamento” teve aumento de 1,1 milhão de pessoas (alta de 26%) e o de ”transporte, armazenagem e correio”, 409 mil (+9,6%). Some-se a isso outros também conhecidos pela informalidade, como o ”serviço doméstico”: aumento de 234 mil (+4%) e ”outros serviços” (que inclui manicure, cabeleireiro, manutenção, entre outros), com uma alta de 607 mil (15%).

Com a crise, aumentou a procura por comida mais barata do que a servida em lanchonetes e restaurantes. Daí, percebendo isso, a população desempregada tratou de se arrumar e correu para garantir oferta de alimentos mais baratos aonde havia demanda para tanto.

Enquanto a economia não der sinais resistentes de melhora e a confiança dos empresários aumentar, a geração de empregos com carteira assinada (postos de trabalho de melhor qualidade, maior renda e direitos garantidos) também vai continuar derrapando na indústria e construção civil.

Avançar no corte de direitos dos trabalhadores a fim de agilizar contratações de mão de obra, como sugerem alguns, apenas fragiliza ainda mais os mais vulneráveis. Afinal, não é que o emprego formal não será viável se a crise persistir. O país como um todo é que não será viável.

Trabalhar para si mesmo pode ser uma benção quando é o resultado de um movimento empreendedor voluntário e não como uma forma de buscar sobrevivência diante da falta de oportunidades. Ou seja, quando a corda aperta no pescoço e o desespero aparece.

Poderíamos dizer que a retomada dos empregos tem ocorrido através de postos de trabalho precarizados, que não garantem férias remuneradas, 13o salário, descanso semanal, licença maternidade, limite de jornada, enfim, nenhum dos direitos mais básicos que não foram sustados pela Reforma Trabalhista capitaneada por Michel Temer, mas foram criticados pelo general que é candidatos a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro. E que esse crescimento na informalidade é uma etapa anterior à geração de empregos formais. O problema é que, escavando mais a fundo, verifica-se que não está havendo uma retomada na velocidade que o país precisa.

Outro dado preocupante da pesquisa é que o número de pessoas que desistiram de procurar emprego por desalento continua estável em 4,8 milhões, em comparação ao trimestre passado. Esses contingente está fora da força de trabalho por não acreditar que exista oportunidade ou espaço para no mercado, não contar com experiência ou qualificação, ser considerado muito jovem ou muito idoso, não encontrar serviço no local de residência ou não ter conseguido trabalho adequado. No mesmo período de 2017, eram 4,2 milhões – ou seja, alta de 13,2%.

O desalento da falta de emprego está relacionado ao desalento da política. A sensação é de que boa parte da população, aturdida, está deixando de acreditar na coletividade e buscando construir sua vida tirando o Estado da equação.

O que deixa o Estado livre para continuar servindo à velha política e a uma parte do poder econômico e abrindo as portas para autointitulados ”salvadores da pátria” cujas propostas superficiais para o combate ao desemprego passam pela retirada de mais direitos trabalhistas.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

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