Josineide Costa, do MPA e da Via Campesina Brasil, aponta que é necessário fazer trabalho de base com o povo, explicando o que significa eleger Bolsonaro
Por Solange Engelmann, em Página do MST
No último dia 29 de setembro, o Brasil assistiu a uma mobilização histórica de milhares de mulheres, nas 26 capitais e no Distrito Federal. Reunidas em torno do #EleNão, as mulheres lutaram contra o avanço do fascismo, do ódio, do machismo, da misoginia, homofobia e das diversas formas de preconceitos e opressão pregadas pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
Em entrevista para a Página do MST, a coordenadora nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Via Campesina, Josineide Costa, faz um balanço sobre a importância das mobilizações e o processo de resistência organizada pelas mulheres, nesse momento histórico e crítico do país, em que se observa o avanço de um conservadorismo, aumento da opressão e violência contra as mulheres, negros, LGBTs e as ditas minorias sociais.
Josineide considera que o dia 29 de setembro representa um marco histórico no país, pela demonstração de força das mulheres brasileiras contra o projeto de violência desse candidato. “O significado desta luta nos traz esperança, de que juntas conseguimos somar forças contra um dos projetos de destruição da democracia do nosso país.”
Confira a entrevista na íntegra.
O que os atos das mulheres em todo país, no dia 29 de setembro, contra o fascismo e o ódio pregado pelo presidenciável Jair Bolsonaro do PSL, chamado de #EleNão, significou para a luta das mulheres no Brasil?
O dia 29 ficou marcado na história do nosso país, pela demonstração de força da mulher brasileira contra o ódio, o fascismo, o machismo e contra o “coiso’ [Jair Bolsonaro], que tem em suas ações e discursos todas as formas de preconceito e opressão que representam retrocesso para o Brasil.
Mostramos a unidade entre os diversos setores organizados, que fazem lutas no nosso país e também das mulheres autônomas, mulheres do campo e da cidade unidas contra o projeto do fascismo.
Qual o significado histórico dos atos #EleNão para a articulação política entre as mulheres do campo e da cidade?
O significado desta luta nos traz esperança, de que juntas conseguimos somar forças contra um dos projetos de destruição da democracia do nosso país.
Sabemos que nem todas as mulheres que se somaram nesta luta em todo o Brasil defendem os mesmos ideais ou as mesmas posições na luta. Porém, há um histórico de lutas das mulheres organizadas nos movimentos sociais e sindicais do campo e da cidade que sempre se somam nas lutas, porque nossos inimigos são os mesmos.
E esta conjuntura nos mostrou a necessidade das mulheres feministas se somarem apara combater a figura de Jair Bolsonaro, que representa um dos setores mais perversos do nosso país.
Dada a crise política e de representatividade, com o avanço do fascismo, machismo, a misoginia, homofobia, do conservadorismo e o ódio contra as minorias, qual importância dessa mobilização?
Este ato faz parte das ações em defesa de um país democrático. Começamos a nos mobilizar em defesa do direito da presidenta Dilma em governar de forma legítima e com apoio popular, porque foi eleita pela maioria do povo brasileiro.
Depois seguimos em luta pela defesa da liberdade do ex-presidente Lula e o seu direito de ser candidato à presidência. De forma injusta lhe negaram esse direto, sendo o candidato do povo Fernando Haddad e Manuela D’ávila.
Trago esse histórico para mostrar ao povo, que a classe trabalhadora nunca se omitiu em lutar para defender a democracia e os seus direitos, conquistados com muita luta. Portanto, não iremos sair das ruas até que os nossos direitos sejam retomados.
Após as declarações de Bolsonaro contra os direitos das mulheres, dos negros, LGBTs e os protestos #EleNão, qual a explicação para as mulheres ainda declararem voto no candidato?
Falta muita informação verdadeira para o povo. A tarefa das pessoas que entendem e tem acesso à informação é fazer o trabalho de base com o povo, explicando o que de fato significa eleger esse candidato.
Bolsonaro é contra os direitos trabalhistas das mulheres, afirma que temos que ganhar menos porque engravidamos. Nos ataca quando diz que a criança criada pela mãe e avó é uma fábrica de desocupados. Por isso e muito mais, as mulheres brasileiras devem se informar e não votar nesse tipo de candidato.
O voto das mulheres é decisivo para o futuro do Brasil, por isso não podemos titubear e votar incerto. Não devemos nos basear em ódio e rancor pregado pela mídia burguesa (Rede Globo, SBT, Record, grandes grupos regionais repetidores dessas redes, Grupo Folha de São Paulo, Estadão, Editora Abril, portal UOL, Terra, entre outros), para decidir nosso voto. Devemos votar por convicção, escolhendo quem está do lado das mulheres, quem nos representa na política e apresenta um projeto de futuro para o Brasil.
Como os atos do #EleNão repercutiram no cenário política eleitoral do país?
Conseguimos furar a bolha da mídia burguesa, mesmo a Rede Globo golpista não conseguiu invisibilizar as notícias da quantidade de pessoas mobilizadas em todo país.
Levamos a verdadeira informação do que representa o projeto do presidenciável Jair Bolsonaro, não só para as mulheres, mas para toda classe trabalhadora.
Sem dúvidas, foi um momento importante para o acúmulo de força da classe trabalhadora. De forma positiva, comunicamos sobre que projeto de sociedade defendemos e qual somos contra.
Por que votar na chapa Haddad e Manuela D’ Ávila? Qual a proposta do PT para melhorar a vida das mulheres brasileiras?
O voto na chapa Haddad e Manu nos possibilita trazer de volta a esperança de um Brasil feliz de novo. É uma forma de derrotar o golpe em curso no país contra a classe trabalhadora, mostrar o que Lula representa para o Brasil e garantir que o PT volte a governar nosso país, junto com o povo.
A proposta de governo do PT é de um Brasil onde o povo tenha seus direitos garantidos, como à educação, saúde, moradia, direito de produzir alimento saudável. Onde nossas riquezas não sejam privatizadas. Um Brasil com empregos, políticas públicas, universidades, entre outros. Um país em que o povo consiga ter vida digna e com qualidade.
Sabemos que as mulheres são obrigadas a assumirem sozinhas a responsabilidade familiar. Em um país onde o povo não tem as condições dignas de vida, somos nós mulheres que sofremos mais.
Lembro bem como era a nossa vida no sertão do Nordeste e o quanto melhorou no período do governo Lula, mas muito ainda falta a ser feito, principalmente no campo, onde a camponesa tem uma jornada enorme de trabalho.
Defendemos o direito de produzir alimento agroecológico, o direito de ter escolas do campo, de produzir nossas sementes crioulas, à moradia camponesa, e a criação de políticas públicas no campo para a permanência das mulheres e juventude. Por isso, o nosso voto é decisivo para um Brasil feliz e democrático, não podemos vacilar com a farsa do ódio e do medo disseminado por alguns candidatos na campanha eleitoral.
*Editado por Iris Pacheco
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Mulheres Unidas contra Bolsonaro no dia 29 de setembro. Foto: Midia Ninja