Haddad desiste de Constituinte e isola Dirceu em nome de frente democrática. Por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Apesar de ter ido visitar Lula na Polícia Federal, em Curitiba, nesta manhã de segunda (8), Fernando Haddad (PT) citou o ex-presidente apenas uma vez na entrevista coletiva que concedeu num hotel da cidade – longe da sede da PF e não deve voltar lá até o final da campanha. Já está contatando e recebendo lideranças de outros partidos e modulou o discurso. À noite, deu dois acenos ao centro do espectro político no intuito de obter apoios para o segundo turno – mostrou que está disposto a mudar o programa de governo e deu um chega pra lá público em José Dirceu, figura importante do seu partido. Disse estar ao lado da social-democracia. São passos para a criação de uma frente democrática contra Bolsonaro.

Terá que suar a camisa para trazer outros adversários derrotados para perto, conversar com o empresariado, com movimentos e organizações sociais, além de ganhar as ruas. E melhorar – e muito – sua comunicação via redes sociais e WhatsApp, que vem levando um banho da concorrência.

Tanto Jair Bolsonaro quanto Haddad garantiram que não irão propor uma ampla revisão da Constituição Federal, caso eleitos, em entrevista à TV Globo, na noite desta segunda. Com apenas duas perguntas bem focadas para cada, mais do que uma entrevista, o que o Jornal Nacional cobrou deles foi um atestado de que defenderiam a atual Carta Magna.

Haddad afirmou que desistiu da ideia presente em seu programa de governo de convocar uma Assembleia Constituinte e deve solicitar mudanças via propostas de emendas ao Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, desautorizou José Dirceu, que havia falado sobre um projeto de tomada de poder. Haddad disse que o ex-ministro não faz parte de sua campanha e nem fará parte do governo.

Já Jair Bolsonaro desautorizou o candidato a vice em sua chapa, o general Hamilton Mourão, duas vezes: primeiro, sobre sua ideia de substituir a atual Constituição por um texto feito por um grupo de ”notáveis”, que não precisariam ser eleitos, ao contrário do que acontece em uma Constituinte. E por Mourão ter defendido a hipótese de um ”autogolpe” de um presidente apoiado pelas Forças Armadas caso considere que a situação social ficou anárquica. ”Ele é general e eu sou o capitão, mas eu sou o presidente”, disse.

Interessantemente, ele confundiu o nome do vice, chamando-o de ”Augusto Mourão” duas vezes. Augusto Heleno é outro general da reserva, filiado ao PRP, que Bolsonaro convidou para vice, mas seu partido rejeitou uma coligação.

Bolsonaro segue dando acenos à governabilidade e, contraditoriamente, alertando para o risco de caos. As repetidas declarações sobre a lisura do processo eleitoral, levantando suspeitas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, tem desagradado ministros do Supremo Tribunal Federal e atiçado sua militância, que organiza protestos contra a Justiça Eleitoral. Isso vai no sentido contrário a outra declaração que deu à Globo, de que quer ”um governo com autoridade e sem autoritarismo, por isso nos submetemos ao sufrágio popular”. Esse tipo de questionamento não combina com alguém que está muito perto da Presidência da República.

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