Bolsonaro quer Amazônia desmatada com exploração pelos EUA; Haddad, desmatamento zero

O candidato do PSL também defende aumentar número de hidrelétricas na região; Fernando Haddad (PT) propõe um modelo ecológico de desenvolvimento territorial

Por Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

As propostas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad em relação à Amazônia são opostas. O candidato do PSL defende a exploração da região, “em parceria com países democráticos, como os Estados Unidos”. Um de seus principais formuladores para a agropecuária considera um absurdo a proposta de desmatamento zero – meta defendida pelo candidato petista.

O militar falou publicamente sobre o assunto em várias ocasiões, embora seu programa de governo não traga detalhamentos. “A Amazônia não é nossa e é com muita tristeza que eu digo isso, mas é uma realidade e temos como explorar em parcerias essa região”, disse Bolsonaro em Natal, em maio de 2018.

Haddad propõe zerar o desmatamento líquido da Amazônia até 2022, que significa acabar com a diferença entre o desmatamento de novas áreas com “aptidão agrícola” e o reflorestamento de áreas já ocupadas sem aptidão agrícola.

TERRAS INDÍGENAS SÃO ASSOCIADAS A ‘NOVOS PAÍSES’

Em Manaus, em dezembro de 2017, Jair Bolsonaro afirmou que a exploração da Amazônia poderá ser feita principalmente por empresas mineradoras, inclusive em terras indígenas, que comparou a “zoológicos”.

Em abril de 2018, no programa do Agora é Domingo, da Band, o candidato do PSL voltou a associar terras indígenas à internacionalização da Amazônia, em uma conversa com o apresentador José Luiz Datena. “O primeiro mundo está de olho. Em breve, poderemos ter novos países dentro do Brasil”.

A proposta de exploração internacional do bioma é defendida pelo general Antônio Mourão (PSC), candidato a vice-presidente: “Ninguém pode temer investimento estrangeiro. Nós ainda estamos naquela de que vão tomar a Amazônia. Vão, porra, comprar as terras na fronteira, não podemos temer isso”.

As declarações de Mourão vão ao encontro da visão exposta pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército no governo Temer: “Comandante do Exército repete fala dos ruralistas sobre Amazônia“.

Um dos cotados para assumir o Ministério da Agricultura, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse em entrevista à Folha que há espaço para o desmatamento na região. Ele foi um dos coordenadores do plano de governo relativo à agropecuária. “Absurdo falar em desmatamento zero”, afirmou.

Além da exploração estrangeira, Bolsonaro defende a expansão das hidrelétricas na Amazônia e quer garantir que os licenciamentos sejam liberados em apenas três meses.

HADDAD QUER TRANSIÇÃO ECOLÓGICA PARA A REGIÃO

O programa do candidato Fernando Haddad (PT) propõe uma “transição ecológica” para a Amazônia, que representaria a liderança na criação de alternativas como um “modelo ecológico de desenvolvimento territorial mediado pela tradição, pela cultura e pela convivência harmoniosa com a floresta”.

A transição enfrentaria as atividades madeireiras e queimadas ilegais, a expansão desordenada da pecuária e da soja. Nesse contexto, Haddad propõe zerar o desmatamento líquido da Amazônia até 2022. Desmatamento líquido significa a diferença entre o desmatamento para exploração econômica e o reflorestamento de áreas degradadas.

Para Haddad, a Amazônia brasileira teria o papel de contribuir para integração sul-americana, com os países que fazem fronteira.

Em relação à população amazônica, o petista prevê o fortalecimento do Programa Reluz e a expansão do Programa Luz para Todos para as localidades isoladas, além da ampliação das políticas de saneamento rural.

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