Famílias produtoras do café Guaií sofrem ameaça de despejo

O julgamento tem data marcada para o dia sete (7) de novembro, no fórum de Campos Gerais

Por  Matheus Teixeira Batista e Geanini Hackbardt, da Página do MST

São 450 famílias, que vivem há mais de 20 anos na usina falida Ariadnópolis, em Campo do Meio, Minas Gerais. Atualmente a área é chamada de Quilombo Campo Grande, possui vasta produção de alimentos e colhe 410 toneladas de café por ano. As famílias moram em casas de alvenaria, construídas sem qualquer apoio de políticas públicas. A usina encerrou suas atividades em 1996, porém ainda possui várias dívidas trabalhistas.

No lugar onde se produzia somente cana de açúcar e álcool e gerava renda para um único proprietário, hoje gera emprego para quase 2000 trabalhadores. As famílias produzem sem o uso de agrotóxico, como orienta o MST. São hortaliças, cereais, frutas, fitoterápicos, leite e derivados, produtos processados como doces e geleias. Tudo isso produzido de forma agroecológica ou em transição.

Amancio de Oliveira nasceu em Campo do Meio, trabalhou a vida toda na usina Ariadnópolis e foi demitido durante o processo de falência da empresa. Conseguiu receber seus direitos após 24 anos de disputa judicial. “Campo do meio faliu por causa dessa Usina. Hoje a Campo do Meio está reerguendo graças aos assentados que compram na cidade. Toda hortaliça vende na cidade, colhemos café, torra e vendemos na cidade. Antes eu vivia trabalhando para fazendeiro, trabalhava cedo para comer de tarde, só tinha uma calça e uma camisa”, conta o agricultor.

O decreto 356 de 2015 desapropriava 3.195 hectares das terras da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA). No entanto, a pressão da bancada ruralista e latifundiários da região, junto ao judiciário fez com que esse documento fosse anulado, mesmo tendo passado por dois julgamentos que validaram a importante ação do governo de Minas Gerais.

“O avanço da ultra direita nessas eleições contra a classe trabalhadora, junto com a sanha do agronegócio, que apoiou a eleição do Bolsonaro, mostra o projeto que eles têm para o campo no Brasil. Essas ações de despejos que estão acontecendo em toda Minas Gerais vêm no sentido de criminalizar os lutadores populares e movimentos sociais. Querem acabar definitivamente com a pauta a Reforma Agrária, mas nossa história é resistir”, afirma Michele, da direção estadual do MST.

Fazendo da produção seu meio de contrapor as injustiças sociais e de denunciar os grandes latifúndios improdutivos, o Quilombo Campo Grande foi responsável pela produção de 55 mil sacas de milho, mais de 8 mil sacas de feijão e 8.500 sacas de café, na safra de 2017-2018. “O nosso grande proposito é produzir a partir da agroecologia, um alimento saudável e de qualidade, gerando segurança alimentar não só pra quem produz, mas para toda a população”, afirma Tuíra Tule, uma das responsáveis pela produção.

Uma das maiores riquezas do acampamento é justamente a sua produção de forma agroecológica, em especial do Guaií, café tipo arábica. Ele vem sendo comercializado para escolas, entidades públicas e através de feiras, lojas da reforma agrária, tudo com um preço justo para que o consumidor possa ter acesso a produtos de qualidade e sem veneno. Só em 2017 foram vendidos mais de 120 mil pacotes do café pela Cooperativa Camponesa.

Tendo em vista o risco iminente que as famílias correm de perder sua moradia e tudo o que foi conquistado até agora, os mesmos pedem que aqueles que sabem a importância e reconhecem o valor da luta por dignidade assinem a moção de apoio e enviem um e-mail para vara agrária de MG pelo e-mail [email protected], com cópia para [email protected] (entidade que está acompanhando o caso).

Foto Julia Gimenez

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

5 × um =