Por políticas e financiamento públicos para a democratização da informação ambiental

Por Vilmar Berna*

Para a informação que o público quer, se dispõe a pagar para ter, e dá audiência, existe o mercado.

E a informação que o público não quer, não se dispõe a pagar para ter nem dá audiência não deve existir?

Numa rápida visita a uma banca de jornal constata-se que enquanto existem dezenas de revistas diferentes sobre a vida dos famosos, beleza, culinária, automóveis, arquitetura, não existem publicações sobre educação ambiental, ou sustentabilidade, por exemplo.

O acesso a informação socioambiental é um dos direitos da cidadania, e um dever do Estado. Deixar tudo por conta do mercado, como está hoje, é negar o acesso da população a informação socioambiental.

Imagine o quanto de informações sobre a sustentabilidade está sendo perdida por falta de canais de divulgação!

Existem centenas, milhares de iniciativas e bons exemplos em sustentabilidade, informações sobre novas tecnologias limpas, que não encontram espaço de divulgação por que não existe interesse dos anunciantes – e por consequência, nem da mídia, que depende economicamente destes anunciantes.

A questão não é de mídia ou comunicação. É de interesse público, de interesse da democracia, urgentíssima, e civilizacional.

A atual geração encontra-se bem no meio da mudança entre um modelo ambientalmente predatório e injusto – que nos trouxe dos séculos passados até o presente -, e o futuro, onde o desenvolvimento, o progresso são muito bem vindos – por que precisamos de empregos, qualidade de vida e riquezas -, mas sob um novo enfoque, o da sustentabilidade.

Desenvolvimento que só gera concentração de riquezas e deixa atrás de si um rastro de destruição e de injustiças não terá mais lugar neste futuro.

O problema deixou de ser ambiental ou climático há muito tempo. O problema é civilizacional, se nossa espécie seguirá existindo ou não.

O Planeta, a natureza, por muito menos já se livrou de espécies muito mais bem sucedidas que a nossa, como a dos dinossauros, que dominaram por mais de 130 milhões de anos, por exemplo.

A espécie humana ainda não habita este planeta nem por um milhão de anos e já estamos a beira de um colapso civilizacional!!!

Se no passado a dominação das sociedades se dava pela força física de armas, correntes, chicotes, masmorras, hoje, se dá pelo controle dos meios de comunicação. Mais do que nunca informação é poder.

Para as informações que dão audiência, o mercado está aí para financiar e não requer regulação do Estado. Compra quem quer e pronto.

Para as demais informações é que as sociedades devem ter políticas públicas que assegurem o acesso as informações além dos mecanismos de mercado.

E não é o mercado que estabelece políticas públicas. Este é papel dos poderes executivo e legislativo, ouvido a sociedade organizada. O mercado apenas aproveita as oportunidades.

A lógica do mercado aplicada  a comunicação se baseia no CPM (custo por mil). Quanto maior a audiência e a tiragem, menor o custo do anuncio. Por exemplo, dez mil reais investidos numa mídia com tiragem de mil exemplares, significa que cada anúncio irá custar dez reais. Estes mesmos dez mil reais investidos numa mídia com cem mil de tiragem, o anúncio custará apenas dez centavos.

Na relação com o mercado, os governos podem até considerar o critério do CPM (custo por mil), ou outro que compense as políticas públicas.

Entretanto, os governos devem ir além e assegurar mecanismos financeiros que assegurem que o público tenha acesso também as informações sócio-ambientais em sua tomada de decisão seja de consumo, seja do exercício da cidadania.

Um desses mecanismos públicos pode ser o estabelecimento nas verbas de publicidade dos governos de cotas para a mídia socioambiental, por exemplo. E mais. Parte das verbas públicas de fundos ambientais deveria ser destinado a projetos de comunicação socioambiental de ONGs, prefeituras, etc.

*Escritor e jornalista. Fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental. É editor desde janeiro de 1996 da Revista do Meio Ambiente e do Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili.

Ilustração: Alejandro Santos

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