Em carta aos líderes do G20, ativistas antiamianto mundiais apelam por ação global para proibir a fibra assassina

Viomundo

Acontece de 30 de novembro a 1º de dezembro, na Argentina, a cúpula do G20.

Ela reunirá em Buenos Aires os chefes de estado e de governo das 20 maiores economias do mundo, como os presidentes Donald Trump (Estados Unidos), Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China), além de Michel Temer (Brasil).

Integram o G20 a União Europeia e estes 19 países: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Reino Unido, África do Sul e Turquia.

Diante disso, ativistas  antiamianto estão enviando aos líderes do G20 uma carta, pedindo uma ação global para proibir a fibra assassina.

O documento  em quatro idiomas é assinado pelas principais lideranças e organizações antiamianto do mundo.

“Nós apelamos aos líderes do G20 que apoiem o fim dos usos da fibra maldita, cancerígena”, enfatiza a engenheira Fernanda Giannasi, símbolo dessa luta no Brasil.

Fundadora da Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto), Fernanda integra a Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto.

Seguem as cartas.

Apelo aos líderes do G20 para uma ação global para proibir o amianto

24 de novembro de 2018

No dia 30 de novembro, V. Excias. estarão reunidas em Buenos Aires para uma reunião crucial do G20.

V. Excias. estarão considerando os muitos desafios que o mundo enfrenta e se esforçando para encontrar o melhor caminho a seguir.

Os desafios mais amplamente reconhecidos incluem disputas comerciais, mudança climaática, instabilidade econômica e ameaças de guerra.

Menos amplamente conhecido é o impacto devastador da exposição ao amianto.

Em 2017, mais de 230.000 pessoas morreram de doenças causadas pelo amianto, o nível mais alto já registrado.

Enquanto a maioria dessas mortes resultou de exposições ocupacionais, muitas vieram também de exposições ambientais. Além do terrível impacto humano, há também um enorme custo econômico relacionado.

Um recente estudo oficial canadense estimou o custo anual do câncer relacionado ao amianto apenas naquele país em mais de $2,3 bilhões de dólares canadenses (correspondente a 6,49 bilhões de reais).

Podemos supor que o custo mundial seja muitas vezes superior a esse valor.

Nos mais de 50 países que proibiram o amianto, estas mortes derivam principalmente de exposições ocorridas até os anos 90; mas uma outra epidemia de doenças relacionadas ao amianto está se desenvolvendo nos países que ainda não proibiram o amianto.

Países como a Índia, China e Rússia, para citar apenas alguns, têm significativas populações expostas.

Suas curvas de mortes por amianto são alarmantes – na Índia, por exemplo, houve um aumento de mais de 300% entre 1990 e 2017. Todas essas mortes poderiam ter sido evitáveis.

Os perigos do amianto são bem conhecidos desde a década de 1960, se não antes.

E existem boas alternativas para todos os principais usos do amianto. Mesmo o Canadá, historicamente o maior minerador e exportador de amianto, implementará uma proibição em 30 de dezembro de 2018.

Se essas estatísticas resultassem de um grande conflito armado, V. Excias., como líderes, estariam fazendo o máximo para responder e pôr um fim a isso. E banir o amianto é muito mais fácil do que resolver os problemas, muitas vezes complexos, que levam a guerras.

O caminho da transição do uso do amianto para alternativas seguras é bem definido pelos países que implementaram a proibição décadas atrás.

É verdade que, no curto prazo, alguns empregos e empresas podem ser afetados, mas, com os apoios apropriados, eles farão essa transição.

À luz da terrível contagem de mortes, o argumento de que os empregos devem ser salvos a todo custo simplesmente não é mais defensável, nem humanamente aceitável.

No contexto dos diversos problemas que V. Excias. abordarão em Buenos Aires, o amianto se destaca como uma questão excepcionalmente bem documentada e focada, onde muito progresso tem ocorrido no mundo e onde os países que baniram o amianto estarão prontos para apoiar outros que desejem seguir o mesmo caminho.

V. Excias. também têm o exemplo do seu anfitrião, a Argentina, e de outros países latino-americanos que têm sido líderes na proibição do amianto.

Chegou também a hora de listar a crisotila (amianto branco) na próxima reunião de 2019 da Convenção de Roterdã sobre Consentimento Prévio Informado (PIC) para o comércio internacional de substâncias perigosas.

Todos os outros tipos de amianto já estão listados.

Vítimas suficientes, sofrimento suficiente!

Nós, abaixo-assinados, pedimos que V. Excias. tomem medidas decisivas para banir o amianto em todo o mundo.

Nós representamos as amplas e visíveis forças sociais que se uniram em todo o mundo para proibir o amianto, que incluem sindicatos, empregadores, grupos de vítimas do amianto, organizações de saúde pública, pesquisadores de saúde, grupos ambientalistas e muitos cidadãos interessados.

Fontes:

The Lancet. O amianto mata 232.000 em 2017 no mundo (somente exposição ocupacional), p.1942. Em https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(18)3222

Instituto para o estudo do trabalho e da saúde sobre a carga econômica do mesotelioma relacionado ao amianto e do câncer pulmonar no Canadá: novembro de 2017. E https://www.iwh.on.ca/newsletters/at- work/90/study-update-new-cases-of-mesothelioma-and-asbestos-related-lung-cancer-from- one-year

Estatísticas de fatalidade do amianto na Índia: do mesmo artigo do The Lancet – 1990 – 2.646 mortes por amianto, 2017, 8.858.

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