Documentário pra inglês ver o que o Brasil não quer ver

A emissora britânica BBC conta em três episódios a ascensão da direita brasileira desde as jornadas de 2013 até a eleição de Bolsonaro em 2018

Por Marcelo Menna Barreto, no Extra Classe

“Uma campanha eleitoral conturbada, ofuscada por notícias falsas e violência, levou à vitória do candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, polêmico por seus pontos de vista sobre a homossexualidade, raça, mulheres, tiroteios policiais e as forças armadas”. Diz trecho da sinopse de What Happened to Brazil… (O Que Aconteceu Com o Brasil…) da BBC World News, canal de notícias da inglesa British Broadcasting Corporation, e dá o tom da mais nova produção da agência que é considerada a mais assistida no mundo, à frente da americana CNN.

Veiculado nesse domingo, 13, às 19h30 em Londres e às 01h30 no dia 14, pelo horário de Brasília, o primeiro episódio da série  teve como título The Dream Dies (O Fim do Sonho) e pode ser acessado no Brasil nos canais pagos da Sky (172), da Vivo TV (62 e 410) e da NET (202). Produzidos pelo jornalista brasileiro Kennedy Alencar, mais dois episódios pretendem completar o olhar e os questionamentos da emissora do Reino Unido, que tem uma grande reputação internacional, apesar de ser vista por alguns críticos como parcial em sua defesa do liberalismo.

O documentário que compreende três episódios de 30 minutos cada cobre o período que vai das chamadas jornadas de junho e julho de 2013 à eleição presidencial de 2014; as grandes manifestações de rua no Brasil que culminaram com o impeachment de Dilma Rousseff até a eleição e posse de Jair Bolsonaro.

E fatos jornalísticos e boa análise é o que não falta para a BBC: a Operação Lava Jato, a greve dos caminhoneiros, o governo Temer, a intervenção militar no Rio de Janeiro, o assassinato da vereadora Marielle Franco, a prisão de Lula, as fakenews que dominaram as eleições, a vitória de Bolsonaro e a ida de Sergio Moro para o Ministério da Justiça também não escaparam da lupa do grupo britânico.

Para isto, foram entrevistados quatro ex-presidentes: Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer. Como os produtores não conseguiram autorização para entrevistar Lula presencialmente, tendo o pedido que foi feito após as eleições negado pela juíza de primeira instância, Carolina Lebbos, que é encarregada da execução da pena, a solução encontrada foram respostas por escrito.

Com a decisão questionada e até o momento ainda sem manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF), em um país onde narcotraficantes como Fernandinho Beira Mar já concederam entrevistas em penitenciárias de segurança máxima, o cerceamento só corrobora a imagem percebida por muitas e importantes lideranças políticas internacionais de Lula como um preso político.

Além dos ex-presidentes, personagens como o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF na época do impeachment, e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot também concederam entrevistas. Janot inclusive surpreende ao declarar que as pedaladas fiscais foram uma “desculpa para o impeachment”, enquanto Lewandowski, sobre o episódio da liberação de áudios de uma conversa privada entre Dilma e Lula para a Rede Globo pelo então juiz Moro, fulmina: “Flagrantemente ilegal. Um juiz, um funcionário público ou qualquer pessoa que gravasse um presidente da República seria, num país civilizado, um crime contra a segurança nacional antes de mais nada”.

A BBC ainda ouviu e registrou cidadãos que viveram a crise dos últimos cinco anos. Tanto Bolsonaro quanto Moro foram procurados para entrevistas mas se recusaram. Moro, tomando ciência da entrevista por correspondência de Lula, optou também por responder por escrito à carta do ex-presidente que era o franco favorito nas eleições de 2018, caso não fosse condenado em um dos processos mais ágeis da Justiça brasileira.

Dando continuidade à série What Happened to Brazil…, a BBC exibirá no próximo sábado, 19, às 00h30 no horário de Brasília, o episódio Carwash and “the coup” (A Lava Jato e “o golpe”), concluindo com o Divided Nation (Nação Dividida), que vai ao ar no dia 22 de janeiro. O hotsite do documentário para mais informações é AQUI

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