Presidente disse que Brasil é quem mais preserva meio ambiente, mas índice internacional situa o país na 69ª posição
Lu Sudré, Brasil de Fato
Além de breve, o discurso de Jair Bolsonaro (PSL) no Fórum Econômico Mundial de Davos, nesta terça-feira (22), foi baseado em informações incorretas. “Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós”, disse o presidente. No entanto, dados do Índice de Desempenho Ambiental (Environmental Performance Index – EPI), ranking bienal feito pelas Universidades de Columbia e Yale, que conta com apoio do próprio Fórum Econômico Mundial, mostrou que, entre 180 países, o Brasil ocupa a 69ª posição.
O relatório analisa a performance dos países com base em 24 indicadores de categorias sobre ações de proteção da saúde do meio ambiente e da vitalidade do ecossistema. Na verdade, a Suíça, país que sedia o encontro, é quem ocupa o primeiro lugar.
Ainda, em contradição com o que Bolsonaro afirmou, em 2016 o Brasil ocupava a 46ª posição no mesmo ranking. Ou seja, em dois anos, houve piora na proteção do meio ambiente no país.
O presidente ainda afirmou que “nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós”. Porém, segundo dados do Banco Mundial, o país com a maior área florestal do mundo é a Rússia. O Brasil é o país com maior biodiversidade do mundo, segundo relatório do Ministério de Meio Ambiente para a Convenção de Diversidade Biológica da ONU. No entanto, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, de 1990 até 2015 o Brasil foi o país com maior taxa de desmatamento do mundo.
Contradições
Apesar de um discurso ao mundo que tentou destacar o meio ambiente, as primeiras iniciativas e propostas de Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente têm sido muito contrárias à ideia de preservação. O novo governo anunciou rever a Terra Indígena Raposa Serra do Sol; colocou na presidência da FUNAI um general que trabalhou recentemente para uma mineradora em conflito com indígenas; transferiu a identificação, delimitação e demarcação de terras indígenas e quilombolas para o Ministério de Agricultura; e colocou à frente do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles, réu acusado de descumprir leis ambientais e manipular mapas de manejo ambiental do rio Tietê, em São Paulo.
Bolsonaro foi o primeiro chefe de Estado latino-americano a discursar na abertura do Fórum, que reúne cerca de 250 autoridades do G20, que reúne as vinte principais economias do mundo.
O discurso do presidente brasileiro durou menos de dez minutos. Com poucas cifras e dados, a fala do político do PSL foi caracterizada por uma defesa contundente de abertura comercial e submissão aos interesses internacionais.
Edição: Mauro Ramos
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Foto: Mayke Toscano/Gcom-MT