O nome dela é Jhenyfer, ex-aluna de escola pública, negra e aprovada em medicina na USP aos 17 anos: ‘Universidade é para todos’

Jovem defende política de cotas e maior possibilidade de acesso de pobres e negros ao ensino superior.

Por Luiza Tenente, G1

Jhenyfer Rosa, de 17 anos, foi aprovada em medicina na Universidade de São Paulo pelas cotas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Eram 15 vagas reservadas a ex-alunos de escolas públicas que sejam negros, pardos ou indígenas. A jovem orgulha-se de estar nesse grupo e defende que as universidades deixem de ser elitizadas.

“A gente vem lutando há anos para incluir mais pessoas nas faculdades. O direito à educação é para todos, não só ricos e brancos. Gente de bairros marginalizados precisa ter a oportunidade de crescimento, de acesso ao conhecimento”, diz a garota. “As cotas da USP são necessárias. Uma coisa é poder fazer 4 anos de cursinho, até passar em medicina. Outra é ter só uma chance na vida”, completa.

Jhenyfer se declara negra. Seu pai, também negro, é técnico de segurança do trabalho, mas está desempregado. A mãe, branca, é técnica de enfermagem em uma clínica de hemodiálise. Inclusive, foi ela que inspirou a filha a seguir a carreira na medicina – além de séries médicas e vídeos de cirurgias, assistidos em maratona pela jovem.

Bolsa no cursinho

Jhenyfer dedicou-se e foi aprovada em uma escola federal disputada no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II. Para conseguir se matricular ali, é necessário prestar um concurso. “É muito concorrido, mas estudei bastante no 9º ano para conseguir. Fui aprovada também em outros dois institutos federais, mas que ofereciam o ensino médio técnico. Preferi o regular, para ficar focada no Enem”, diz.

E cumpriu seu objetivo. Durante os três anos, no Pedro II, preparou-se para o Exame Nacional do Ensino Médio. No primeiro semestre de 2017, ainda fez cursinho pré-vestibular – mas não conseguiu continuar pagando as mensalidades. “Passei a estudar sozinha, em casa, e a criar disciplina para isso. Via vídeos online e fazia exercícios das apostilas até 23h. No dia seguinte, acordava às 5h e ia para a escola”, conta.

Mas, como Jhenyfer sempre ficava em primeiro lugar nos rankings internos no cursinho, recebeu uma ligação da instituição. “Me ofereceram uma bolsa de 100%. E aí voltei a estudar lá, quando estava perto do Enem”, relata.

Mudança para São Paulo

Para realizar o sonho de Jhenyfer estudar na USP, a família inteira deve se mudar do Rio de Janeiro para São Paulo. A mãe da menina está tentando ser transferida para um emprego na capital paulista. E o pai acredita que o mercado de trabalho será melhor na nova cidade.

Eles procuram uma casa próxima a alguma estação de metrô, que seja de baixo custo. Ainda não encontraram. Mas nada que atrapalhe a comemoração.

“Meus pais contaram pra todo mundo que passei na USP. Ficaram malucos”, ri. “Até criei um canal no Youtube. Quero mostrar como vai ser meu dia a dia nessa nova etapa.”

Comments (2)

  1. É dever do Estado garantir educação para todos e as Cotas apenas reparam minimamente direitos que os negros e índios nunca tiveram. TODOS têm os mesmos direitos e, chega de privilégios aos que sempre tiveram muitos privilégios!
    QUEREMOS UM BRASIL MAIS JUSTO!

  2. Não adianta se dedicar ,se não houver a oportunidade ,e a política de cotas , é sem dúvida uma das melhores políticas q houve para a igualdade no acesso a universidade .
    Eu sou tbm um exemplo dessa porta aberta ,sou negra ,pobre ,tenho 51 anos e estou terminando uma graduação em História ,numa universidade pública em Pernambuco ,é só foi possível com o Sisu,estou realizando um sonho pessoal q só foi possível com essa oportunidade.
    A educação pública ,gratuita e de qualidade e um direito para todos ,não um privilégio para poucos
    Parabéns Jennifer e todos os negros e negras pela conquista .

    ????????

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