“A arte nos torna mais sensíveis e criativos para pensar nossas formas de luta”

Luana Oliveira, do Coletivo de Cultura do MST, destaca a importância da Escola de Arte para o Movimento

Por Gustavo Marinho, na Página do MST

     
No desafio de aprofundar o debate em torno da arte e da cultura no conjunto do MST, bem como do estudo nas linguagens artísticas, cerca de 80 militantes de todos os estados do Nordeste realizam em Campina Grande, na Paraíba, a 1ª Escola de Artes do MST na região.

Durante dez dias de realização das atividades, os militantes Sem Terra são provocados na tarefa do enraizamento da cultura no Movimento.

Em entrevista para a Página do MST, Luana Oliveira, do coletivo nacional de cultura do Movimento, ressaltou o papel das Escolas de Artes que têm sido desenvolvidas em todo o país, provocando o conjunto da militância Sem Terra no fazer e no debate artístico.

Segundo Luana, a Escola de Artes pretende “organizar processos contínuos de formação nas linguagens artísticas, entendendo o papel que a arte assume na luta política”, explicou.

Luana ainda abordou o papel da arte e da cultura na atualidade, como elementos importantes na luta política.

Acompanhe a entrevista completa:

O que levou o MST a realizar as Escolas de Artes?

Fundamentalmente a compreensão do papel da arte na luta política. Não é de hoje que a arte existe no Movimento Sem Terra, logo da construção do MST a gente já começa a pensar nossa simbologia, entendendo o papel desses elementos na construção da nossa identidade Sem Terra, seja na nossa bandeira, nosso hino ou nossas músicas, desde sempre o Movimento tem a arte forte no seu processo formativo e na identidade do ser Sem Terra.

No entanto, nesse último período o MST tem intencionalizado a formação artística. E é isso que a gente objetiva com a relação das Escolas de Artes, organizar processos contínuos de formação nas linguagens artísticas, entendendo o papel que a arte assume na luta política.

Falamos que a arte assume alguns papéis. A arte é animadora, a arte é mobilizadora, organizadora, propagandeia e forma, reeducando nossos sentidos, nos faz desenvolver habilidades que o sistema capitalista nos nega. Isso humaniza nossos sentidos de forma geral, que são importantes para o MST que pensa os sujeitos como um todo.

A Escola carrega o lema de “todo e toda Sem Terra fazendo arte”, o que isso representa para o MST?

O sistema capitalista nega a possibilidade de fazer arte para a classe trabalhadora, separa desde o processo da divisão social do trabalho a arte como algo para poucas pessoas, como um dom para poucas pessoas, nos colocando no papel de consumidor do que é produzido. O lema “todo e toda Sem Terra fazendo arte”, primeiramente, se propõe a fazer o sujeito trabalhador Sem Terra entender que ele também é um produtor de arte. Esse é um passo importante para a construção da pessoa como sujeito histórico e transformador de sua realidade.

Sobretudo nesse momento histórico, em que a arte tem um potencial de diálogo com o povo trabalhador, a gente se vê e se entender como artista, nos possibilita potencializar esse diálogo, bem como na transformação dos sujeitos, no sentido da formação humana.

O Movimento tem reafirmado que o Programa de Reforma Agrária Popular é o Projeto Cultural do MST, como se dá essa relação?

No 4º Seminário “O MST e a Cultura” tínhamos uma ânsia de construir um Projeto Cultural para o MST e discutindo nos dias do Seminário, chegamos a conclusão de que a gente não precisa de um novo projeto de cultura, uma vez que a gente luta pela Reforma Agrária Popular.

Quando a gente dá esse salto da Reforma Agrária Clássica para a Reforma Agrária Popular, a principal diferença desse salto qualitativo é a dimensão cultural que a gente passa a considerar nessa passagem.

A gente passa a entender a terra em seu sentido amplo, primeiro na luta pela terra para ter direito de nela trabalhar, mas segundo, dos tipos de relações que a gente quer ter naquela terra, entre homens e mulheres, entre a natureza e o conjunto dos sujeitos que estão naquele território: as crianças, os jovens, idosos, homens, mulheres, sujeitos LGBT. Isso tudo são transformações sociais e culturais que precisam acontecer em nossos territórios e em nossas relações para, de fato, construirmos algo diferente.

Esse projeto consiste em relações mais justas e igualitárias entre os sujeitos nos processos de trabalho e do fruto do trabalho, diz respeito a nossa produção de uma forma diferente, pensar a nossa relação com a terra, no sentido do cuidado com a terra e não de uma relação destrutiva como é a do capital. Isso é uma cultura diferente, por isso o programa cultural do MST é a Reforma Agrária Popular.

Quando a gente entende a Reforma Agrária Popular como uma proposta de uma nova matriz produtiva e cultural, como as transformações necessárias para alcançarmos nossos objetivos, a gente sabe que é necessário uma revolução cultural. É nessa perspectiva do cultural que está o projeto cultural do MST.

Como você enxerga, nessa conjuntura, o papel da arte e da cultura na luta pela Reforma Agrária e na construção da resistência da classe trabalhadora?

Entender a cultura como o modo de entender e reproduzir a nossa existência e entender que conhecer nossa história e valorizar a nossa identidade e nos reconhecermos enquanto trabalhadores e trabalhadoras negras, quilombolas, indígenas, valorizar e respeitar nossa diversidade cultural é fundamental para pensarmos qual o projeto a gente quer para o futuro.

A arte, nesse período histórico, nos torna mais sensíveis e criativos para pensar nossas formas de luta. Nossas formas de luta e de diálogo com a sociedade já cabem na ordem do sistema capitalista e se queremos enfrentá-la, a gente tem que sair dessa ordem, sair dos marcos que o capital nos impõe e a arte tem esse potencial.

Você não produz arte sem ser criativo e criatividade é fundamental para as nossas lutas nesse período.

Foto: “A arte é animadora, a arte é mobilizadora, organizadora, propagandeia e forma, reeducando nossos sentidos”, Luana Oliveira, do Coletivo Nacional de Cultura do MST

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