Há 11 anos a rede Justiça nos Trilhos (JnT) vem denunciando as violações cometidas na região do Corredor Carajás pela cadeia de mineração e siderurgia, em especial pela Vale S.A. Para se ter uma ideia, mais de cem comunidades são impactadas direta ou indiretamente por operações da mineradora Vale S.A nos estados do Maranhão e Pará, muitas delas seculares e que incluem povos indígenas e quilombolas.
Tragédias como a de Mariana (MG) e Brumadinho (MG) chocam o mundo pela exposição clara exploração predatória de minerais e, sobretudo, pelo descaso da empresa em investimentos que visem a segurança dos trabalhadores/as, comunidades próximas aos empreendimentos e ao meio ambiente. Na região de Carajás, estes e outros impactos são sentidos pelas comunidades. A falta de segurança na travessia da EFC acarreta mortes desnecessárias e banais todos os anos, a poluição do ar e sonora abala a saúde das pessoas, os igarapés destruídos por obras da Vale S.A, as casas rachadas e com risco de desabamento pela trepidação causada pelos trens de minérios que circulam dia e noite pela EFC e muitos outros. No Pará está a maior mina de minério de ferro do mundo, a S11D, com impactos graves na vida das comunidades locais.
Toda a destruição que vimos com o rompimento das barragens em Minas Gerais ocorre em conta gotas, diariamente, no Corredor de Carajás. É um atropelamento, uma passarela que cai, um igarapé destruído, casas rachando, são violações diárias que destroem a natureza, deixam mortos, mutilados e desabrigados. Com o título “Documento revela descaso da Vale com o risco de morte em ferrovia”, a reportagem da Agência Pública demonstra bem o “jeito Vale de atuar”, colocando em perigo as vidas e os territórios por onde passa. A reportagem, publicada no dia 04 de fevereiro de 2019, confirma o que a JnT e as comunidades locais e muitos outros atores país afora vêm denunciando há anos: a busca desenfreada por lucros cada vez maiores repercute na irresponsabilidade criminosa com as medidas de segurança que deveriam ser adotadas em suas operações. O descaso da empresa também se reflete no seu descompromisso com a reparação integral dos danos socioambientais ocasionados pela sua atuação. A reportagem teve acesso a mais de mil pedidos de afetados pela ferrovia Carajás no Pará e Maranhão, em um desses casos, a mineradora considerou não atender demanda, mesmo com risco de acidente fatal. Esse é o modelo de operação assumido pela Vale S.A, que destrói vidas, territórios e meio ambiente.
Solidarizamo-nos com as vítimas e seus familiares em Minas Gerais, e reforçamos com eles/as o coro de que é preciso que os olhos se voltem para o rastro de destruição diária deixada pela Vale S.A em Minas Gerais, no Maranhão, no Pará e assim como em todos os outros cantos do mundo onde a Vale atua. Não nos calaremos e seguiremos denunciando as violações de direitos cometidas diariamente e lutando pela reparação integral dos danos causados.
Leia a matéria da Agência Pública
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Foto: Esdras Vinicius /BBC