VI Assembleia de Mulheres da CLOC – Via Campesina, realizada no dia 26 de junho durante o VII Congresso da Coordenadoria Latinoamericana de Organizações do Campo, em Cuba, divulga sua Declaração Final. As mulheres destacam no documento que: “as mulheres rurais lutamos por uma sociedade justa e igualitária, que transforme as relações de poder que marcaram a subordinação das mulheres e, especialmente, das que vivemos em áreas rurais, em condições de pobreza e discriminação a que temos sido submetidas pelas políticas patriarcais, pelos sistemas de exploração do agronegócio transnacional, pelos deslocamentos, migrações forçadas e pela violência. Durante essas duas décadas de formação sociopolítica, dedicamos estudo diligente às categorias de gênero, de classe e étnica / racial, entendendo que as desigualdades que afetam as mulheres são estruturais de uma sociedade capitalista, patriarcal, colonialista e racista. Estamos certas de que a opressão, dominação e exploração de gênero e raça não podem ser eliminadas sem eliminar a opressão de classe. Na construção do feminismo camponês e popular, a partir de nossa evolução e definição política, propusemos levantar com força a proposta de que desde nossa diversidade e auto-reconhecimento construamos o compromisso político de uma identidade feminista, camponesa e popular”. Confira:
tradução: Cristiane Passos – CPT
Dez anos após o momento histórico que, a partir deste espaço da Escola Niceto Pérez da Articulação Nacional de Pequenos Agricultores e Agricultoras de Cuba (ANAP), em que a CLOC-Via Campesina definiu que os camponeses e camponesas da América Latina abririam caminho para o socialismo, as mulheres se levantaram e a plenos pulmões gritaram: SEM FEMINISMO, NÃO HÁ SOCIALISMO.
Reunidas na VI Assembleia de mulheres camponesas no âmbito do VII Congresso da Coordenadoria Latino-Americana de Organizações do Campo (CLOC – Via Campesina), em Güira de Melena, na cidade de Artemisa, em Cuba, mulheres de 21 países, delegadas de nossas organizações, motivadas pelos avanços históricos das mulheres cubanas, inspiradas pelo espírito revolucionário de Vilma Espín, Celia Sánchez e seu povo, somos chamadas a continuar aprofundando em nossos caminhos históricos que mantiveram viva a resistência das mulheres camponesas contra o sistema capitalista e patriarcal.
Nós, da VI Assembleia de Mulheres da CLOC-Via Campesina, estamos cientes do ataque do capitalismo em nossa América, que continua a saquear nossos bens comuns da natureza e explorar nossas terras sob a cumplicidade de governos lacaios, que violam as vidas dos povos campo e, principalmente, das mulheres, que vêm batalhando há décadas contra todas as formas de exploração, discriminação e subordinação. Neste sentido, temos o compromisso de fortalecer a unidade na diversidade para mudar o sistema capitalista e neoliberal, que coloca os interesses do capital sobre os direitos dos povos ao bem viver, à proteção e cuidado da mãe terra e à soberania alimentar.
As mulheres rurais lutamos por uma sociedade justa e igualitária, que transforme as relações de poder que marcaram a subordinação das mulheres e, especialmente, das que vivemos em áreas rurais, em condições de pobreza e discriminação a que temos sido submetidas pelas políticas patriarcais, pelos sistemas de exploração do agronegócio transnacional, pelos deslocamentos, migrações forçadas e pela violência.
Durante essas duas décadas de formação sociopolítica, dedicamos estudo diligente às categorias de gênero, de classe e étnica / racial, entendendo que as desigualdades que afetam as mulheres são estruturais de uma sociedade capitalista, patriarcal, colonialista e racista. Estamos certas de que a opressão, dominação e exploração de gênero e raça não podem ser eliminadas sem eliminar a opressão de classe.
Na construção do feminismo camponês e popular, a partir de nossa evolução e definição política, propusemos levantar com força a proposta de que desde nossa diversidade e auto-reconhecimento construamos o compromisso político de uma identidade feminista, camponesa e popular. Embora o feminismo tenha diversas visões, reconhecemos a partir das organizações camponesas que o feminismo tem prestado contribuições valiosas para transformar a vida das mulheres em nível político, social e econômico. Para a CLOC – Via Campesina esse esforço se torna uma ação política que é também dirigida à formação de uma sociedade socialista.
Nesse processo de construção feminista, que emerge dos territórios e dos povos do campo, o debate anda de mãos dadas com a ação e a luta contra a violência contra as mulheres no campo, contra o agronegócio e os agrotóxicos. É a luta pela vida; pela defesa das sementes, que são patrimônio de nossos povos à serviço da humanidade; pelo direito igualitário à posse da terra, contra a exploração, contra a violência e os maus-tratos no trabalho; e por salários justos e iguais. A agroecologia como um sistema de produção ancestral para garantir a soberania alimentar é uma importante contribuição que as mulheres da CLOC – VC realizaram, com vista a fazer avançar a transformação da sociedade, e é a luta de todos do movimento camponês em todo o mundo. Tudo isso são contribuições para a construção do feminismo camponês e popular.
Os grandes desafios são: continuar avançando no fortalecimento de nossas organizações; construir unidade e alianças a partir dos movimentos; continuar a formação política que fornece a oportunidade, juntamente com toda a militância de organizações camponesas, indígenas e afrodescendentes, a participar à altura de debates em que emergem as bases para a nossa proposta de uma sociedade socialista, unidas na diversidade, e que nos leve a transformações sociais com consciência de gênero e geracional.
Manter nossos olhos na unidade da luta de gênero e de classes é importante para enfrentarmos as ações do império, do capital e do patriarcado e, assim, ser capaz de identificar e confrontar nossos inimigos.
Saudamos e nos comprometemos a continuar uma grande onda feminista que emerja com a força das mulheres, confrontando o machismo e o patriarcado, o abuso e o assédio sexual, o direito de decidir sobre nossos corpos e o direito à saúde sexual e reprodutiva. Defendemos que essas forças se juntem à luta por mudanças radicais em nossa sociedade, que nos leve a viver com dignidade, igualdade e justiça. A partir de nossa identidade e concepção feminista, camponesa e popular, contribuiremos para esse avanço das visões feministas.
Nós, delegadas de 21 países nesta VI Assembleia de Mulheres da CLOC-Via Campesina, nos pronunciamos e condenamos severamente as agressões contra o povo irmão da Venezuela e as tentativas de desestabilizar o país por da direita reacionária na Nicarágua, rejeitamos a Lei Helms-Burton que reforça o bloqueio e o embargo contra a revolução cubana. Da mesma forma, condenamos as agressões a todos os povos da América que vivemos o feroz ataque do capitalismo. Rejeitamos as estratégias de desestabilização e de submissão dos países da América Latina, como a militarização dos territórios e o sequestro e rapto de nossos Estados.
Pedimos aos povos do mundo que se unam em uma única voz de rejeição a essas ações internacionalistas que buscam subjugar nossos povos.
Condenamos as centenas de assassinatos de líderes sociais camponeses e indígenas em nossa América, e nos pronunciamos a favor de continuar fortalecendo os acordos de paz na Colômbia.
Convocamos os governos do triângulo norte da América Central, México e EUA para que respeitem os direitos humanos das milhares de famílias que realizaram as caravanas de migrações, especialmente as mulheres e meninas.
As mulheres do campo CLOC-LVC encerram nossa VI Assembleia afirmando:
Com feminismo construímos o socialismo!
Desde nossos territórios, unidade, luta e resistência, pelo socialismo e pela soberania dos povos!
Artemisa, Cuba – 26 de junho de 2019.