Terra Preta: livro desvenda principal recurso arqueológico da Amazônia

A história, a destruição desenfreada e os desafios de preservação dos sítios arqueológicos formados por terra preta, ricos em fragmentos pré-coloniais que remontam a trajetória da ocupação humana na Amazônia, são apresentados no livro “Terra Preta – Passado, Presente e Futuro”, do arqueólogo, jornalista e fotógrafo Edvaldo Pereira. Editada pela Imprensa Oficial do Estado (IOE) em 2018, quando foi lançada no Salão do Livro do Baixo Amazonas, realizada em Santarém, a obra terá lançamento em Belém nesta sexta-feira, 30 de agosto de 2019, às 18h30, na 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que acontece no Hangar Centro de Convenções, na capital paraense.

Abundante em toda a Amazônia, a chamada Terra Preta Arqueológica (TPA) ou Terra Preta de Índio (TPI) é resultado da interação das sociedades indígenas pré-coloniais com o solo da região, geralmente pobre em nutrientes que garantem a fertilidade. De formação milenar, este solo apresenta coloração escura, fragmentos de material cerâmico, artefatos líticos, carvão e elevados teores de elementos como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono. Tais características a tornam altamente fértil e, portanto, cobiçada para atividades agrícolas e de jardinagens.

O livro denuncia a exploração comercial da terra preta na Amazônia, em especial na região de Santarém, no oeste do Pará, sem o devido desenvolvimento de pesquisas mais aprofundadas com esse tipo de solo, inclusive para seu aproveitamento de forma sustentável na agricultura, bem como em relação aos incontáveis artefatos arqueológicos nele encontrados, e que, inclusive, foram registrados por cronistas e naturalistas desde o século 16.  

Edvaldo Pereira reforça que Santarém está plantada sobre uma rica e extensa malha de sítios arqueológicos pré-históricos que guardam vestígios de ocupações pretéritas milenares ainda pouco estudados. “É quase impossível cavar um pedaço de chão em Santarém e região e não perceber a existência da Terra Preta e dos cacos de cerâmica misturados com este solo. Isso salta aos olhos, mesmo de uma pessoa leiga no assunto”, argumenta.

Segundo o autor, o interesse pelo tema se deu a partir da percepção quanto à identificação da população santarena com o seu patrimônio arqueológico e à ausência de políticas públicas municipais sobre o assunto. “Fiz um levantamento da legislação santarena ao longo de sua história. É como se a Terra Preta e os demais recursos arqueológicos milenares do município não existissem, e isso é assustador”, pontua Pereira.

“As terras pretas estão distribuídas em toda a Pan-Amazônia, no entanto, a terra preta de Santarém é famosa por ter sido a primeira a ser descrita por pesquisadores, ainda no século 19. Porém, ainda hoje não conseguimos desvendar todo o processo de interação que resultou na formação da terra preta”, afirma a geoarqueóloga Lilian Rebellato, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que orientou a pesquisa.

A geoarqueóloga Dirse Clara Kern, do Museu Paraense Emilio Goeldi, que assina o prefácio do livro, destaca a importância da publicação neste campo da ciência. “Esta obra possibilita ao leitor passear pelas Terras Pretas ao longo dos séculos, até os dias atuais, através do ponto de vista dos naturalistas viajantes que por aqui passaram, mostrando a importância e o fascínio que ainda hoje esses solos exercem sobre a sociedade”, ressalta Kern.

Fruto de uma pesquisa inédita, o livro também aponta caminhos para criação e aperfeiçoamento de instrumentos de gestão, sejam eles urbanísticos, jurídicos e tributários, capazes de reconhecer o patrimônio arqueológico e suas implicações sociais e econômicas. “É preciso buscar a participação de toda a sociedade na proteção da terra preta, enquanto componente imprescindível do patrimônio cultural e da biodiversidade regional. Além da compreensão do passado, também está em jogo a construção de um futuro melhor, ecologicamente equilibrado e sustentável”, reforça Pereira.

Breve perfil do autor:

Edvaldo Pereira é arqueólogo, formado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e presta consultoria científica para empresas de Arqueologia Preventiva com atuação em todo Brasil. Em 2017 obteve a segunda colocação no concurso nacional de monografias Prêmio Luiz de Castro Faria – 5ª edição, promovido pelo Centro Nacional de Arqueologia e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNA/Iphan) com o trabalho “Terra Preta em Santarém (PA): Usos, percepções e apropriações”, que deu origem ao presente livro.

Possui ainda experiência na área de Comunicação, tendo atuado como jornalista e repórter fotográfico em diversos veículos nacionais e regionais. Foi editor de fotografia do jornal Diário do Pará. Desenvolve um trabalho de documentação fotográfica na Amazônia, registrando sua população e as manifestações diversas de sua cultura.

Serviço:

Lançamento do Livro TERRA PRETA – PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Autor: Edvaldo Pereira

Editora: Imprensa Oficial do Estado do Pará

Local: 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes – Hangar Centro de Convenções – Belém (PA)

Data: 30/08/2019

Horário: 18h30

Comments (2)

  1. Prezado Edvaldo, parabéns. Muito importante seu livro. Mande, por favor, um exemplar para o Museu do Índio (FUNAI/RJ), pois creio que lá não tem. Eu sou indigenista da FUNAI (trabalho no Museu do Índio) e pesquisador (doutorando) em Ciencias Ambientais e Conservação pela UFRJ e não vi seu livro lá. Para nós da FUNAI e para os povos indigenas é muito importante o seu trabalho. Tudo de bom. Muito grato. Deus o abençoe!

  2. Caro colega Edvaldo Pereira, parabéns por elaborar uma obra que esclarece o que é arqueologia e que ela faz parte do cotidiano das pessoas, nossos lugares. A região Amazônica precisa muito de pessoas politizadas e combativas que explicitem a importância do passado e dos seus vestígios, protegendo-os para um futuro melhor e saudável. A TPA-terra preta arqueológica é sinal de passado, patrimônio cultural de longa duração e de vida. Não pode ser destruída pelo agronegócio, muito menos por interesses individuais e escusos. Os incêndios absurdos que vêm ocorrendo estão matando muitas e muitas vidas, além destruir vestígios variados do passado. Sim, é preciso buscar a participação de toda a sociedade na proteção da terra preta, celeiro da biodiversidade regional, visando equilíbrio, harmonia e sustentabilidade.

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