Após denúncias, PFDC pede esclarecimentos à Funarte sobre critérios adotados na seleção de espetáculos

Fundação teria censurado exibição de obra de cunho político crítico. Espetáculo estrearia neste mês no Complexo Cultural da Funarte em SP

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC)

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, deu prazo de dez dias para que a Fundação Nacional de Artes (Funarte) em São Paulo esclareça quais são os critérios que adota na seleção de espetáculos que compõem a programação do espaço, e se procedem denúncias de que estaria censurando a exibição de obras de cunho político.

O pedido de informações foi motivado por notícia veiculada pela imprensa segundo a qual a então coordenadora da Funarte SP, Maria Ester Moreira, teria sido exonerada do cargo após se opor a veto a um espetáculo previsto para ser exibido no Complexo Cultural da Fundação.
Na ocasião, um conjunto de 19 entidades da área artística chegou a encaminhar à Presidência da Funarte uma carta acerca do episódio e na qual indicam que o espetáculo vetado seria a peça RES PUBLICA 2023, do grupo Motosserra Perfumada, e cuja estreia estava prevista para outubro de 2019, na Funarte SP. O próprio grupo chegou a publicar uma carta-denúncia em que trata da questão.

De acordo com esses documentos, o veto teria sido um “filtro” de censura imposto pela Fundação em razão de a peça ter cunho político crítico e tratar da “triste memória do período ditatorial”. O espetáculo RES PUBLICA 2023 foi eleito o 4º melhor texto inscrito na Mostra Dramaturgia em Pequenos Formatos do Centro Cultural São Paulo (CCSP) e faz remissão a um Brasil Tropical Fascista em 2023, como hipótese de um futuro duro aos artistas, gays, travestis, prostitutas, imigrantes e adictos.

No pedido de esclarecimentos feito ao presidente da Funarte, Miguel Proença, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão destaca que a Constituição Federal preconiza, em seu art. 5º, a liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação.

O órgão do Ministério Público Federal ressalta, ainda, que tais liberdades já foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal como um direito que goza de preferência em relação a outros interesses juridicamente tutelados.

O ofício também menciona recente decisão do presidente do STF, nos autos da Suspensão de Liminar 1248/RJ, segundo a qual “o regime democrático pressupõe um ambiente de livre trânsito de ideias, no qual todos tenham direito a voz. De fato, a democracia somente se firma e progride em um ambiente em que diferentes convicções e visões de mundo possam ser expostas, defendidas e confrontadas umas com as outras, em um debate rico, plural e resolutivo”.

Promoção e incentivo à cultura – Criada em 1975, a Fundação Nacional de Artes é o órgão do Governo Federal brasileiro cuja missão é promover e incentivar a produção, a prática, o desenvolvimento e a difusão das artes no país. A Fundação é responsável pelas políticas públicas federais de estímulo à atividade produtiva artística brasileira, a fim de que a população possa cada vez mais usufruir das artes.

Atualmente vinculada ao Ministério da Cidadania, a atuação da Funarte tem previsão de alcançar as áreas de circo, dança e teatro, além de música e de artes visuais, assim como a preservação da memória das artes e a pesquisa na esfera artística. A Fundação Nacional de Artes é a única instituição no Estado brasileiro com as atribuições e especialidades necessárias para tratar desses campos de atividade.

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

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