Bolsonaro acusa golpe e convoca empresas a não anunciarem na Folha após denúncias

Para o presidente, “a Folha de São Paulo avançou a todos os limites, transformou-se num panfleto ordinário às causas dos canalhas”

Na Fórum

O presidente Jair Bolsonaro acusou o golpe. Após as denúncias de caixa dois em sua campanha, publicadas na Folha deste domingo (6), ele foi às redes sociais e fez uma ameaça velada às empresas “que anunciam nesse nesse jornaleco (sic)”.

Para o presidente, “a Folha de São Paulo avançou a todos os limites, transformou-se num panfleto ordinário às causas dos canalhas”. Ele afirmou ainda que “om mentiras, já habituais, conseguiram descer às profundezas do esgoto”.

Ao final, após inúmeras explicações, Bolsonaro diz: “o que mais me surpreende são os patrocinadores que anunciam nesse jornaleco chamado de Folha de São Paulo (sic)”.

Entenda o caso

Haissander Souza de Paula, ex-assessor parlamentar do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que na época era coordenador de sua campanha a deputado federal no Vale do Rio Doce (MG), disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”.

Em uma planilha apreendida em uma gráfica, nomeada como “MarceloAlvaro.xlsx”, há referência ao fornecimento de material eleitoral para a campanha de Bolsonaro com a expressão “out”, o que significa, na compreensão de investigadores, pagamento “por fora”.

A Folha voltou ao assunto nesta segunda-feira. O jornal afirma que a Polícia Federal (PF) sugeriu a abertura de uma segunda investigação em decorrência do caso de candidatas laranjas do PSL, desta vez especificamente para as contas de campanha do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

Boicote da Secom

O chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) de Jair Bolsonaro (PSL), Fabio Wajngarten, também usou suas redes sociais neste domingo para criticar a cobertura da imprensa sobre a denúncia de caixa dois na campanha eleitoral do presidente e sugerir um boicote publicitário aos jornais que, no seu entender, veiculam “manchetes escandalosas”.

No Instagram, Wajngarten comentou que “parte da mídia “ecoa fake news, ecoa manchetes escandalosas, perdeu o respeito, a credibilidade (e a) a ética jornalística. Que os anunciantes que fazem a mídia técnica tenham consciência de analisar cada um dos veículos de comunicação para não se associarem a eles preservando suas marcas”.

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Como Bolsonaro pretende destruir a Folha de S.Paulo

A Folha está na mira da perseguição sórdida, mesmo discordando da sua linha editorial, quem não vier a defendê-la nesta caçada estará conciliando com a censura e o silenciamento da liberdade de imprensa. Fórum não fará isso

Por Renato Rovai, na Fórum

A reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo (6), que vincula a campanha de Jair Bolsonaro para presidente ao esquema de caixa 2 e corrupção do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, caiu como uma bomba nas hostes e gangues bolsonaristas.

O ministro, eleito o mais votado para deputado federal em Minas Gerais, foi indiciado pela Polícia Federal, que vazou para a Folha uma planilha de recursos não contabilizados para a campanha presidencial.

Moro, que chefia a PF, foi um dos primeiros a se solidarizar com o PR (aff, isso é jeito de um Ministro da Justiça se referir a um presidente da República?). Mas Bolsonaro sabe que ele pode ser na verdade o Judas da história.

Isso agora, por incrível que pareça, é o que menos importa. Afinal, Bolsonaro ainda não tem como demitir Moro e eles travam uma guerra surda nos bastidores para ver quem pode mais.

Acontece que a matéria da Folha desencadeou um ataque ao jornal sem precedentes por parte de um governo. O chefe da Secom, Fabio Wajngarten, sugeriu que o governo e empresas estatais ou mistas não anunciem na Folha para não se contaminar com fake news. Isso é grave, mas é algo que a Fórum, um dos sites mais lidos de jornalismo do Brasil, enfrenta há tempos. A seleção ideológica das verbas é comum em governos tucanos e agora do PSL.

Mas o presidente foi além, num post pessoal, escreveu: “o que mais me surpreende são os patrocinadores que anunciam nesse jornaleco chamado Folha de S. Paulo”.

O post tem endereço claro, os anunciantes privados. Bolsonaro está alertando-os. Anunciou na Folha, conte com o meu ódio e perseguição.

É muito grave isso. E na Barão de Limeira os diretores comerciais já devem estar preocupados. Não ter anúncio do governo federal é preocupante, mas ter o governo em campanha pelo boicote a anúncios privados pode ser fatal para um jornal.

É uma atitude criminosa e perigosa de Bolsonaro. Mas, ao mesmo tempo, é importante que isso ocorra para que os veículos de comunicação percebam o monstro que criaram. Bolsonaro é um fascista e age como fascista.

Sua perseguição deliberada e anunciada à Folha é mais um capítulo deste seu projeto de “novo regime”. Se os outros veículos se calarem significa que o gênio já saiu da lâmpada. E depois que isso acontece é muito difícil colocá-lo de volta ao seu lugar de origem.

A Folha está na mira da perseguição sórdida, mesmo discordando da sua linha editorial, quem não vier a defendê-la nesta caçada estará conciliando com a censura e o silenciamento da liberdade de imprensa. Fórum não fará isso.

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