Encontro reúne mulheres atingidas defensoras da vida em Minas Gerais

Principais vítimas dos grandes empreendimentos hidrelétrico e de mineração no país, as mulheres atingidas sabem que não podem parar de lutar. Em dois dias de luta e encontro, elas denunciam as consequências dos crimes da Vale, Samarco e BHPBiliton em Minas Gerais, em momento de desabafo, solidariedade e organização.

Fernanda de Oliveira Borges, do Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB explica que a sociedade atual, capitalista e machista, explora trabalhadores e trabalhadoras, mas são as mulheres as principais vítimas.

O atual momento de retirar de direitos em que vive o Brasil é ainda mais difícil para a mulher. São ameaças diretas a Reforma da Previdência, congelamento de investimento e saúde e educação e aumento do custo de vida e principalmente da energia e do gás de cozinha.

E o mesmo ocorre em construções de barragens, que chegam às comunidades com esse mesmo modelo capitalista. “Elas violam direitos e trazem consequências para as populações atingidas. A barragens desestruturam toda a vida, e para as mulheres isso é ainda pior, por já sofrerem essa desigualdade social”, explica.

“As mulheres sempre trabalharam igual aos homens no Rio Doce, mas quando a lama veio essas empresas criminosas só queriam reconhecer os homens”, afirma Maria das Graças, atingida de Barra Longa. Gracinha, como é conhecida, conta que sua denuncia é só um exemplo dos muitos problemas que vivem as mulheres após o rompimento.

Estão entre as muitas denúncias a falta de reconhecimento da mulher como sujeita de sua própria vida e, portanto, como sujeitas da reparação de direitos. O direito à geração de renda, às condições necessárias para o exercício do trabalho é também violação constante às atingidas por barragens, que devem ter então garantida a reparação integral conforme explica Fernanda.

Ela reforça que a reparação só se dará de forma integral com a plena participação dos atingidos e atingidas, e é necessário que a população conheça seus direitos para ajudar nessa construção. “Ficamos sem direito nenhum depois do crime da Vale em Brumadinho, e hoje lutamos. Precisamos nos agarrar umas às outras, entendi que se eu lutar sozinha a Vale não vai me ouvir. Estamos aqui pelo direito de todas”, anima-se Ioná Magalhães, atingida moradora de Brumadinho.

Juntas, 250 mulheres de diferentes regiões do estado de Minas Gerais debateram seus direitos e formas de luta durante o segundo dia do Encontro, entre os dias 25 e 26 de outubro. Após uma ciranda onde elas reforçaram seu compromisso com a luta em defesa dos direitos humanos e da vida, elas retornam para suas comunidades ainda mais fortes.

O encontro teve um ato solidário às famílias das vítimas em Brumadinho no dia 25, marcando os 9 meses do crime, seguindo de uma marcha pela reestatização da Vale. No dia seguinte, o encontro debateu a pauta das mulheres e a defesa dos direitos humanos, com denúncias das consequências dos crimes em Minas Gerais e o fortalecimento da luta.

O Encontro é parte da Jornada de Lutas: “A Vale Destrói, O Povo Constrói”, com diversas atividades entre o mês de outubro de 2019 e janeiro de 2020, reforçando os marcos de 4 anos do crime no Rio Doce e no 1 ano do rompimento em Brumadinho. 

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