Assentamento em Gameleira (PE) pode sofrer despejo

Área de 1.000 hectares já conta com escola, igrejas, mais de 100 moradias e plantações

Rani de Mendonça, Brasil de Fato

Cerca 800 moradores do Assentamento São Gregório, o Alegre I e II, que fica em Gameleira, município da Mata Sul de Pernambuco, foram surpreendidos com uma liminar de ação de reintegração de posse. A ação foi pedida pela Usina Estreliana, antiga dona da terra e deferida pela 26ª Vara da Justiça Federal de Palmares. A área de mais de mil hectares é ocupada por mais de 100 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde 1995.

Na última quinta-feira (14), representantes da justiça de Palmares se reuniram com a coordenação do assentamento para avisarem sobre a medida de reintegração. O comunicado, segundo o assentado João Batista, era para que os moradores conseguissem se desfazer dos seus bens antes que a medida fosse colocada em prática. “Mesmo que não seja feita em 24h, de um dia para o outro, vai acontecer, porque nada muda o processo”, relembra. Vilma Maria, coordenadora da Regional de Gameleira, do MST, conta que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no ano passado, passou quase três meses fazendo um levantamento de tudo o que tem no terreno. “Eles sabem tudo que tem naquele lugar. Inclusive era o próprio Incra que queria derrubar um outro pedido de reintegração. Agora eles chegaram dizendo que vamos ter que sair”, afirma.

A região em litígio era pertencente à Usina Estreliana, famosa pela violência, muito antes da ocupação. Em 1963, um dos proprietários matou a balas cinco trabalhadores que foram à casa grande pedir o décimo terceiro não pago. O outro proprietário da época é apontado como assassino de um fiscal do Ministério do Trabalho, que foi apurar a falta de pagamento aos trabalhadores. Na época, ambos foram a julgamento, mas o golpe militar de 1964 fez desaparecerem as testemunhas e inocentou os latifundiários.

De lá para cá, a área é marcada pela disputa judicial, ainda mais quando a então Usina foi ocupada pelo Movimento Sem Terra, em outubro de 1995. No desenrolar de 7 despejos e uma extensa greve de fome, em fevereiro de 1997, os militantes receberam a emissão de posse, dada pelo Incra, como também foi dado ao Assentamento de Normandia, em Caruaru. São mais de 22 anos de construção. Atualmente, o Assentamento São Gregório possui escola, igrejas, uma unidade de posto de saúde e centenas de casas e plantações.

Sobre o sentimento dos que moram lá, João Batista, afirma que as famílias estão bastante preocupadas. “Nos despejos anteriores nós perdemos muitas coisas. Perdemos lavouras, construções e casas. Depois que saiu nossa posse, já tivemos crédito para habitação, crédito de apoio pelo Pró Rural e agora estávamos esperando o crédito de investimento. Ou seja, construímos nossa vida aqui. Tem família se sustentando com o que produz na sua terrinha. Aqui plantamos muita mandioca, milho, coco, banana e muito mais. Como vamos ficar? ”, questiona.

Edição: Marcos Barbosa.

Imagem: Os 800 moradores do assentamento na Zona da Mata Sul foram surpreendidos pela ação da Vara de Justiça de Palmares / PH Reinaux

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