Dia Internacional dos Direitos Humanos: Vozes indígenas da América Latina ecoam na COP-25

Lideranças de diferentes povos somam esforços para defender os direitos indígenas e da natureza, no contexto das mudanças climáticas

Sucena Shkrada Resk, da 350.org Brasil

Em comemoração ao lançamento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948,  se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos, nesta terça-feira. Setenta e um anos depois, os desafios são cada vez mais intensos no planeta e os alertas vêm no lugar das comemorações. A violência especialmente contra os direitos de povos indígenas e tradicionais e da própria natureza tem aumentado.

Neste contexto, a 350.org América Latina, por meio do Program Indígena, e o Instituto Internacional Arayara, entre outras organizações, estão apoiando a Cúpula dos Povos Indígenas – Minga paralela ao evento oficial da COP-25, que teve início em 2 de dezembro e se encerra no próximo dia 13, em Madri, na Espanha.

São vozes como a de Marcos que estão participando do processo de construção da Carta Climática Indígena. Ao longo de 2019, a 350.org consultou diversas etnias e povos na América Latina para que eles apontassem suas principais demandas frente à emergência climática. São lideranças indígenas do Brasil, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Costa Rica, Venezuela, Caribe e México, que estão se manifestando no processo de escuta.

Durante estes dias, no evento em Madri, tem acontecido um processo intenso de diálogos e exposições, houve a marcha indígena, em Madri, com mais de 500.000 pessoas apoiando a frente indígena na COP25.

O Programa Indígena da 350.org em parceria com a Arayara e a Coalização Não Fracking Brasil e América Latina (COESUS) lançaram o documentário “Vozes Indígenas da América Latina: nós somos o documento da terra”, em que 24 indígenas dão depoimentos sensíveis e fortes em quase meia hora. Um conjunto de ações que visa a defesa dos direitos humanos e o protagonismo indígena, que está resultando na carta climática indígena latina. Com este propósito, em nossa delegação, há lideranças femininas e masculinas, que estão dando os seus recados, que envolvem também mobilizações contra a pressão exercida pela indústria fóssil. Confira alguns depoimentos:

Nós estamos aqui representando todos os povos indígenas e tradicionais ligados com o mar. Somos indígenas, pescadores, marisqueiras, caiçaras, todos nós que somos a extensão da natureza e merecemos respeito à nossa cultura, respeito ao nosso meio de vida. Quando empresas perfuram o para extrair o petróleo elas estão ferindo a mãe natureza e o resultado é devastador para nós”. (Andréia Takua Fernandes, coordenadora do Programa Indígena da 350.org e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Litoral Sul (Condisi Litoral Sul) e coordenadora do Fórum de Presidentes de Condisi – FPCondisi Nacional)

“O problema das mudanças climáticas não fomos nós, indígenas, que causamos, mas nós nos sentimos responsáveis por sermos protagonistas na defesa contra tudo que hoje é feito para destruir este planeta. Estamos em um momento que é preciso haver ações concretas… Falamos aqui da realidade que passamos, enquanto, que, governos, empresas e instituições estão tomando decisões que afetam nossas vidas. A verdade deve ser ampliada por cada um de nós, pois queremos ver nossos filhos e netos vivendo melhor. Se estamos aqui, é que não temos voz nos grandes espaços de decisões. Lá eles não conhecem nossa realidade e de nossa luta no Brasil e na América Latina, onde lideranças são assassinadas porque lutam contra megaprojetos e defendem uma vida melhor para as próximas gerações. As pessoas chamam a natureza de recursos naturais; para meu povo, são seres sagrados, que não se colocam à venda e têm de ser respeitados e protegidos” . (Ninawa Inu Huni Kuī, presidente da Federação do Povo Huni Kui, do Acre – FEPHAC)

“Em todos os biomas, vivem muitos povos indígenas, brancos…No Brasil tem acontecido desastres, como dos rompimentos de barragens de rejeitos, em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, em que muitas pessoas morreram. Vemos agora o vazamento de petróleo que atingiu boa parte da costa brasileira; sem falar nas queimadas e desmatamento na Amazônia, dos efeitos da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, do que está acontecendo com a transposição do São Francisco. Em muitas coisas, o Brasil quer copiar o que deu errado. Se for para minerar mais, explorar mais petróleo e gás, todos os biomas serão afetados. Minha luta é pelo meu modo de vida e de meu povo, que depende do rio, da floresta e do ar, de toda esta conexão com a divindade”. (Marcos Sabaru, do povo Tingui-Botó, em Alagoas.)

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