Em 2019, número de pessoas baleadas em residências no Grande Rio aumentou 79%

Na última semana, Ana Carolina Neves, de 8 anos, foi atingida por um tiro na cabeça enquanto assistia TV em casa

Jaqueline Deister, Brasil de Fato 

No último sábado (11) ocorreu o velório de Ana Carolina de Souza Neves, de 8 anos. A menina foi baleada na cabeça na noite de quinta-feira (9), no bairro de Três Setas, em Belford Roxo, baixada fluminense, enquanto assistia televisão no sofá de casa junto à família. Ana Carolina foi a primeira criança vítima de bala perdida em 2020 no estado do Rio de Janeiro. 

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. De acordo com a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar, não havia operação do 39ºBPM (Belford Roxo) na região e os policias que faziam o patrulhamento nas redondezas foram chamados por populares para realizar o socorro da vítima que acabou não resistindo ao ferimento.

O caso de Ana não é isolado. No município de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, de dezembro até agora quatro pessoas morreram vítimas de bala perdida. O bairro de Jardim Catarina concentra metade dos casos.

Um levantamento divulgado na última semana pela plataforma Fogo Cruzado aponta que no ano passado houve um aumento de 79% no número de pessoas baleadas em casa na região metropolitana do Rio de Janeiro, se comparado com 2018. Segundo o relatório, 95 pessoas foram baleadas em lugares onde achavam estar seguras; 74 morreram e 24 foram vítimas de balas perdidas.

Os dados mostram ainda que no ano passado, 112 crianças e adolescentes foram baleados no Grande Rio. Deste total, 60 morreram. Para Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatório da Segurança, o levantamento do Fogo Cruzado confirma os resultados já esperados por quem atua na área de segurança pública. 

“Tudo o que no Rio de Janeiro tem de errado, e que mundialmente se sabe que não dá certo na área de segurança, foi radicalizado neste primeiro ano do governo Witzel. É muito tiroteio e pouca inteligência; muita política de confronto, de uso de armas de fogo e excesso policial e pouca prevenção e planejamento, que são as melhores receitas na área de segurança pública”, destaca Ramos.

Os casos também confirmam números levantados por pesquisa da Fundação Getúlio Vargas  (FGV) que aponta que as mortes violentas, antes concentradas na cidade do Rio, agora estão espalhadas por outros municípios do estado. O fenômeno chamado interiorização foi identificado como uma crescente entre os anos de 2003 e 2018. As mortes violentas incluem homicídio doloso, mortes por intervenção policial, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios contabilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). 

Expectativa

A expectativa para 2020 não difere muito da adotada em 2019. A Polícia Militar anunciou na terça-feira (14) recorde na apreensão de fuzis. Segundo a instituição, foram apreendidos 505 armamentos no Rio. Porém, o chamado efeito colateral das operações policiais que resultaram nesses números seguem sendo alvo de questionamento por pesquisadores da área de segurança pública. 

“O que aconteceu no Complexo do Alemão [morte da menina Agatha em setembro de 2019], assim como várias outras tragédias que ocorreram no Rio, em que as políticas de segurança resultam nas mortes de crianças, de idosos e de pessoas que não estão ligadas à criminalidade, nem à polícia e nem aos confrontos, vejo que é o pior dos horrores dessa política.  Eu espero que o governo recue desse tipo de orientação que já causou mortes, aumento do medo e do pânico, principalmente entre moradores de favelas”, salienta a coordenadora da Rede de Observatório da Segurança.

Edição: Mariana Pitasse

Imagem: Em 2019, 95 pessoas foram baleadas em lugares onde achavam estar seguras; 74 morreram e 24 foram vítimas de balas perdidas / Bryan R. Smith / Afp

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