MST protesta e ocupa por reforma agrária em 13 estados e em Brasília

Ministério da Agricultura, sedes do Incra e terras griladas estiveram entre os alvos; camponesas que voltavam de ônibus do DF para o Piauí foram presas; pelo menos seis das catorze manifestações ocorreram no Nordeste

Por Yago Sales, em De Olho nos Ruralistas

Em Brasília, a ocupação do Ministério da Agricultura — classificada por sites de direita e extrema-direita como vandalismo — foi a mais chamativa entre os protestos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) nesta segunda-feira (09), um dia após o Dia Internacional da Mulher. Um ônibus que voltava da Esplanada dos Ministérios para o Piauí foi abordado pela Polícia Federal e as camponesas chegaram a ser presas — e liberadas no início da tarde.

Segundo o MST, mais de 10 mil pessoas mobilizaram-se em catorze Unidades da Federação, em meio à jornada nacional de lutas, como desfecho dos atos em torno do Dia Internacional da Mulher. De Olho nos Ruralistas identificou doze delas. Além do Distrito Federal, houve protestos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no  Pará  e  Tocantins e em seis estados do Nordeste:  Alagoas,  Bahia,  Ceará,  Paraíba,  Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Algumas manifestações tiveram apoio de outros movimentos. Em Porto Alegre, por exemplo, a ocupação de sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) contou com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Em São Paulo, o ato em frente de uma unidade do Ministério da Economia teve participação da Frente de Luta Por Moradia e do povo Guarani da região do Pico do Jaraguá. O ato saiu da ocupação Mauá até a sede da pasta.

As manifestações paulistas também ocorreram no Pontal do Paranapanema, região de conflitos no oeste do estado, em mobilização dos assentamentos da região para discutir temas como democracia e terras devolutas. Em Ribeirão Preto, uma das capitais do agronegócio no país, foram ocupadas terras da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), segundo o MST utilizadas atualmente para a produção de cana de açúcar.

O movimento informa que houve ações em dez órgãos federais, durante a jornada relacionada ao I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, na semana passada, em Brasília. Os protestos contra o Incra ocorreram em Porto Alegre, Florianópolis, Araguatins (TO), Maceió, Fortaleza, João Pessoa e, com mulheres da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no Recife. No Pará e no Rio Grande do Norte, foram fechadas rodovias. Em Juazeiro (BA), as mulheres foram às ruas.

EM BRASÍLIA, PROTESTO CONTRA PRIVATIZAÇÃO DE TERRAS

Pelo menos 3.500 sem-terra de 24 estados ocuparam o Ministério da Agricultura contra o que chamam de “privatização das áreas de reforma agrária” promovida pelo governo Bolsonaro. Após espalhar tinta vermelha no chão, as mulheres saíram do local pacificamente. Elas seguiram em passeata pela Esplanada dos Ministérios até a entrada do Congresso. Depois, voltaram de ônibus aos seus estados.

Segundo o MST, a mobilização é a forma que as mulheres encontraram para questionar intervenções desvantajosas às comunidades do campo pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Uma delas, incluída em palavras de ordem e cartazes, seria a “distribuição de titularidades individuais dos lotes de terra para os assentados de reforma agrária, a chamada titularização das terras, que visa a privatização das áreas”.

Ainda conforme a nota do MST, os protestos buscam evitar, ou pelo menos denunciar, cortes nos investimentos públicos e a liberação desenfreada de agrotóxicos pelo governo. As camponesas também discutiram a liberação recente de pesticidas. Apenas em 2019, segundo o próprio Ministério da Agricultura, 474 agrotóxicos foram liberados, uma das maiores ofensivas nos últimos 15 anos.

Uma das prioridades na pauta que levou as mulheres às ruas, a MP 901/19 foi lembrada. O objetivo do governo com a medida é a exclusão da proteção ambiental de 4.745 hectares da flora nos estados do Amapá e Roraima, abrindo essas áreas para a mineração. Ainda segundo a nota do MST, os protestos ocorreram para “denunciar as políticas nefastas do governo Bolsonaro em relação à economia, terra e agricultura”.

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