Conflito com a China expõe a irresponsabilidade invencível dos Bolsonaro, por Luis Nassif

O Ministro das Relações da Itália conseguiu salvar milhares de italianos, sabendo onde e como negociar com os chineses

No GGN

Ontem, no Twitter, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, tuitou a seguinte mensagem:

“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”.

Eduardo é filho e conselheiro de seu pai Jair, foi cogitado para ser embaixador nos Estados Unidos e preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal

A resposta do embaixador chinês, foi drástica:

“@BolsonaroSP, As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam famililares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vrius mental, que está infectando a amizade entre os povos”.

Não apenas deu resposta dura, como retuitou mensagem críticas pesadas aos Bolsonaro:

Vamos entender melhor o que representa a China e o que poderia significar uma disputa diplomática decorrente das atitudes de um imbecil.

Hoje em dia a China é de longe a maior comprador de produtos brasileiros e o maior superávit comercial do Brasil. Há um enorme potencial de capital chinês – financiado por seu banco de desenvolvimento – para obras de infraestrutura no Brasil.

Não apenas isso. Na atual crise da coronavírus, a China se tornou o principal fornecedor de equipamentos médicos vitais para enfrentar a praga. Nos últimos meses empreendeu um notável esforço de guerra que a transformou na maior produtora de equipamentos médicos de segurança. Com isso, ofereceu suporte médico para a Itália, Espanha e outros países em desenvolvimento.

Segundo o South China Morning Post, antes do surto, a China produzia 20 milhões de máscaras por dia. Em m 29 de fevereiro bateu nos 116 milhões, graças a uma política industrial extraordinariamente eficaz.

Para aumentar a produção, o governo chinês montou uma operação de guerra. Primeiro, direcionou suas estatais para liderar o esforço de fabricação de máscaras por todo o país.

Maior produtora de petróleo e gás da China, a Sinpec aumentou a produção de polipropileno e cloreto de polivinil, matérias primas para máscaras. Na semana passada, montou duas linhas de produção em Pequim, para produzir tecidos especiais. Conseguira, então, produzir 1,2 milhão de respeitadores N95 ou 6 milhões de máscaras cirúrgicas por dia.

Outra estatal, o Chengdu Aircraft Industry Group, fabricante de aviões, reformou parte de sua fábrica para projetar uma linha de produção de máscaras. 258 dos engenheiros da empresa passaram três dias acelerando o desenvolvimento de uma linha de montagem com mais de 1.200 componentes.

Em cima dessa base, o governo montou estímulos fiscais e creditícios, na forma de subsídios, impostos mais baixos, empréstimos sem juros, aprovações rápidas para expansão e ajuda para aliviar a escassez de mão-de-obra.

Conseguiu a adesão de 2.500 empresas, das quais 700 empresas de tecnologia, incluindo a Foxonn (montadora do iPhone), a Ziaomi e a Oppo.

Graças a esse esforço, pode disponibilizar para o governo italiano 1.000 ventiladores, 2 milhões de máscaras, 200.000 respiradores, 200.000 roupas de proteção e 50.000 kits de teste da China.

O acordo foi fechado com um simples telefonema do Ministro das Relações Exteriores italiano, Luigi Di Maio, na mesma semana em que França e Alemanha proibiram a exportação de máscaras devido à baixa produção doméstica.

Nos próximos meses, a China será a grande fornecedora mundial de equipamentos contra o coronavírus. E o Brasil será o grande demandante, devido à sua população e à imprevidência. Esses equipamentos mexem com vida e morte de pessoas.

O Ministro das Relações da Itália conseguiu salvar milhares de italianos, sabendo onde e como negociar com os chineses. Com o Brasil à beira de um cataclismo sanitário, as relações com a China ficam ameaçadas por um boyzinho de periferia, arrogante e desinformado, tendo como pai um irresponsável.

Repito: com os Bolsonaro à frente, não haverá a menor possibilidade do Brasil se sair bem nessa guerra.

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