Professor afastado: Deputados pedem esclarecimentos a Colégio Militar

O docente de geopolítica foi afastado do cargo nesta semana após criticar atuação da Polícia Militar e citar o fascismo durante aula remota

Por Agatha Gonzaga, no Correio Braziliense

A bancada do Psol na Câmara dos Deputados protocolou um pedido de esclarecimento endereçado ao Colégio Militar de Brasília (CMB) sobre o afastamento de um professor, identificado como Major Cláudio, devido a “opiniões emitidas”, segundo consta o documento. 

Na segunda-feira (1º/06), o docente criticou a ação da Polícia Militar na manifestação do dia anterior, em São Paulo, onde torcidas de futebol se uniram em uma marcha pela democracia e tiveram confronto com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O professor também fez uma associação da ação com o fascismo e falou sobre cor de pele. (Veja o vídeo). 

O pedido dos deputados considera as prerrogativas de liberdade de expressão, além do pluralismo político assegurado como um dos fundamentos do país e os princípios do ensino no Brasil, de  “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas […]” (CF, art. 206, III) e o “respeito à liberdade e apreço à tolerância” (Lei nº 9.394/1996, art. 3º, IV). 

O documento ainda pede que os dirigentes do Colégio “não ignorem os mandamentos constitucionais – tampouco os princípios que regem a educação nacional – e retifique, em prol da pluralidade e do diálogo, as injustiças cometidas na avaliação do caso tratado neste ofício”.

“O Estado, portanto, não pode censurar um Professor que está exercendo a sua atividade de acordo com os princípios Constitucionais que deve reger todas as esferas da administração pública, sobretudo em um momento de propagação de tanto ódio e intolerância. O Professor, pela sua fala relatada nos tópicos antecedentes, deveria ter sido homenageado, e não punido”, concluem.

O texto foi assinado pelos deputados federais Fernanda Melchionna , líder do Psol na Câmara, Edmilson Rodrigues (Psol/PA), Marcelo Freixo (Psol/RJ), Sâmia Bomfim (Psol/SP), Áurea Carolina (Psol/MG), David Miranda (Psol/RJ), Glauber Rocha (Psol/RJ), Ivan Valente (Psol/SP), Luiza Erundina (Psol/SP), Talíria (Psol/RJ).

O afastamento

Na terça- feira, um dia após a live do professor, o Coronel Carlos Vinícius Teixeira de Vasconcelos, Comandante e Diretor do Colégio Militar de Brasília, fez o comunicado do afastamento do major. “Já determinei a abertura de um processo administrativo para esclarecer a situação e apurar as responsabilidades”, afirma. (Veja o vídeo) 

Manifestações 

Ex-alunos organizam um carta de apoio ao professor e estenderam um abaixo assinado aos atuais estudantes para a reintegração do docente ao calendário de aulas. “Como ex-alunos do Colégio Militar Brasília, escrevemos ao comando dessa instituição, querida por muitos de nós, para manifestar a nossa dessatisfação com os últimos eventos relacionados ao afastamento aparentemente injustificado de um docente, a partir da exposição, em sala de aula, de fatos recentes”, cita.Continua depois da publicidade

 “Acompanhamos atentos o posicionamento do comando do CMB com relação à abertura de processos administrativos para professores ou funcionários com base em justificativas insuficientes ou arbitrárias sobre o trabalho destes profissionais.” completam. 

Outros professores da unidade de ensino também se manifestaram. Em carta aberta, os docentes defendem a profissão e destacam os o esforços na carreira militar. 

“O desrespeito aos professores e às professoras, no nosso país, tem ultrapassado o limite do aceitável. Apesar de formarmos todas as outras profissões, recebemos os mais baixos salários, somos atacados por todos os lados e, mesmo assim, nos levantamos todos os dias e ensinamos para muitos”, cita um trecho.

“Em especial, queremos prestar solidariedade àqueles e àquelas que dedicam sua vida ao ato de ensinar na instituição Colégio Militar de Brasília. A despeito do tratamento, muitas vezes equivocado, e dos ataques infundados que aparecem de ângulos inimagináveis, esses profissionais esforçam-se em produzir suas aulas, milhares delas, em ensinar o básico para aqueles que carregam, às vezes, unicamente preconceitos e senso comum”, completam.  

Major Cláudio Fernandes. Colégio Militar Brasília. Foto: Arquivo Pessoal

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