Covid-19: Grupo de cidadãos quer explicações sobre testes com vacinas na Guiné-Bissau

Na Lusa

Um grupo de cidadãos guineenses dirigiu hoje (19) uma carta ao ministro da Saúde, António Deuna, para pedir uma “explicação cabal” sobre os ensaios clínicos de vacinas contra a poliomielite na prevenção da covid-19 a 3.400 cidadãos do país.

A carta aberta, a que a Lusa teve acesso, é patrocinada pelo ativista social e ambiental, o sociólogo Miguel de Barros, a professora universitária Zaida Pereira e o jovem ativista e estudante universitário em Portugal, Sumaila Jaló.

A carta é assinada, entre outros, pela ativista social Adama Baldé, a bióloga Bianca Flamengo, o músico Manecas Costa, os artistas Nu Barreto, Welket Bungé e Bebetida Sadjo.

Os subscritores da carta aberta, que também é dirigida ao projeto de Saúde de Bandim, local da condução do estudo, compreendem a importância da “participação coletiva na busca de soluções” para a covid-19, mas realçam ser fundamental que tudo seja feito “na base de princípios da ética, direito à informação, transparência, respeito pela igualdade dos povos e direitos humanos”.

O Ministério da Saúde da Guiné-Bissau confirmou na quinta-feira, em reunião do Conselho de Ministros, que está a decorrer um estudo do Projeto de Saúde de Bandim sobre o uso de vacinas contra a poliomielite para combate ao novo coronavírus.

“O ministro da Saúde esclareceu que o que está em curso é um estudo promovido pelo Projeto de Saúde de Bandim, visando apurar a validade ou a pertinência científicas do uso de vacinas até aqui aplicadas no combate à poliomielite para o combate da nova pandemia” de covid-19, referem no comunicado divulgado.

O jornal brasileiro Folha do São Paulo revelou o caso e o ativista Miguel de Barros fez ecoar o alerta, colocando uma série às autoridades guineenses.

O estudo que deverá arrancar brevemente e durar seis meses será orientado por um consórcio de investigadores americanos e dinamarqueses.

Ao denunciar o caso, Miguel de Barros chama a atenção para o facto de já existir um aval ao estudo, dado por um conselho de ética sem que os cidadãos tenham sido devidamente informados, disse.

O Governo guineense informou que doravante ficou decidido que cabe ao Conselho de Ministros analisar e pronunciar-se sobre qualquer “decisão relacionada com a aplicação de vacinas em toda a extensão do território da Guiné-Bissau”.

Os autores da carta aberta querem esclarecimentos do Governo guineense, nomeadamente a justificação do estudo, quais as bases científicas ou vantagens para a sua realização na Guiné-Bissau, a solicitação de autorização feita pelos autores do mesmo, as datas de início e fim, bem como os lugares específicos onde será realizado, isto é, cidades e bairros.

Os subscritores da carta pretendem ver publicado o protocolo com informações relativas à participação dos 3.400 guineenses no estudo, possíveis efeitos colaterais, cuidados necessários, designadamente o acompanhamento, esclarecimento cabal das implicações e consequências dos testes e quais as experiências nos países dos membros do consórcio.

O grupo levanta todas estas dúvidas também por acreditar que a Guiné-Bissau não tem estruturas de acompanhamento e regulação de um estudo daquela natureza mas, sobretudo, devido à instabilidade institucional.

“Estes argumentos constituem riscos elevados para replicabilidade e garante da fiabilidade das conclusões do estudo”, realçam os subscritores da carta, eu foi enviada também para a Liga Guineense dos Direitos Humanos, Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização da Saúde da África Ocidental (OOAS) e Human Rights Watch.

O grupo lançou uma petição pública com o slogan: “Não a ensaio clínico na Guiné-Bissau, anós i ca ratos de laboratório (nós não somos ratos de laboratório)”.

A Lusa está a tentar obter esclarecimentos das entidades envolvidas diretamente na realização do estudo, mas ainda não obteve resposta.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili

Foto: Pixabay

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