Tatiane Vargas, no Informe Ensp
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), por intermédio do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), inicio um projeto de assistência aos trabalhadores expostos ao amianto no contexto da pandemia de coronavírus. Tendo em vista a atual situação estabelecida pela Covid-19, o projeto prestará apoio e assistência, inclusive médica, aos trabalhadores expostos ao amianto e seus familiares.
Para isso, serão utilizadas plataformas de telessaúde e realizadas visitas domiciliares aos trabalhadores expostos ao asbesto, todos do grupo de risco para Covid-19. Nos casos identificados como suspeitos será realizada a testagem para Covid-19. Por conta do grande risco de transmissão intradomiciliar, serão também testados os contatos domiciliares sintomáticos dos trabalhadores expostos ao amianto.
O projeto, coordenado pelo diretor da ENSP, o pneumologista Hermano Castro, é financiado pelo Ministério Público do Trabalho (MTP), com base em uma ação civil pública, fruto de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Petrobras e intermediada pela Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (Abrea). A Abrea está responsável pela questão da higienização, por meio da distribuição dos kits de limpeza, aos trabalhadores e seus familiares. Os kits contêm: sabão de coco, sabão em pó, água sanitária, luvas de limpeza e álcool 70%.
Projeto beneficiará 2.500 pessoas
De acordo com Hermano, o projeto, com o objetivo de reduzir a transmissão e o contágio da Covid-19, não apenas distribuirá máscaras aos trabalhadores sintomáticos e seus familiares, como também irá adquirir material médico para avaliação segura dos trabalhadores sintomáticos (termômetros de infravermelho e oxímetros).
O projeto será executado em seis meses no Ambulatório de Pneumologia Ocupacional do Cesteh/ENSP, que acompanha 500 trabalhadores expostos ao amianto, em sua maioria com idade superior a 60 anos e portadores de comorbidades de risco para a gravidade da doença viral e a consequente mortalidade. “Devido ao potencial contágio e à gravidade do Covid-19, o projeto deverá acompanhar a presença da Síndrome Gripal do SARS-COV2 (Covid-19) em todo o núcleo familiar, o que significa o total aproximado de 2.500 pessoas”, explicou Hermano.
Como proposta, o projeto realizará, diariamente, via plataforma e via telefone, ligações para vigilância ativa dos trabalhadores que foram expostos ao amianto. A vigilância ativa segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para acompanhamento de pessoas no grupo de risco, com ligações a cada dois ou três dias. Os profissionais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas ou assistente social entrarão em contato por telefone com os pacientes ou familiares do domicílio.
A visita domiciliar (VD) será programada para todos os pacientes em acompanhamento no ambulatório de pneumologia do Cesteh, realizada por médico e enfermeira, todos devidamente paramentados e equipados para a proteção e prevenção dos profissionais de saúde. Os casos identificados como síndrome gripal aguda receberão atenção especial, atendendo o protocolo para casos leves, moderados e greves da OMS.
O assistente social dará todo o apoio às famílias no que diz respeito às questões sociais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), relacionadas aos benefícios e direitos dos trabalhadores expostos. Além disso, as equipes de médico e enfermeiro trabalharão em plantões de 12 horas em teleconsulta e 12 horas em VD.
Acompanhamento dos casos
Segundo o coordenador, durante a visita, os pacientes serão avaliados clinicamente. Casos considerados leves permanecerão em acompanhamento ou monitoramento por teleconsulta com o médico, diariamente de segunda a sábado. Serão fornecidos oxímetros e máscaras tipo cirúrgicas a todos os pacientes sintomáticos, facilitando o acompanhamento.
“A oximetria será avaliada ativamente todos os dias, e os pacientes receberão orientação para ligar para os profissionais em caso de alterações. Os pacientes classificados como possíveis casos de Covid-19 farão teste RT-PCR, no período entre o quinto e o sétimo dia ou realizarão teste sorológico IgM/IgG, rápido, após o sétimo dia de início dos sintomas, de acordo com protocolos e a avaliação clínica. A VD será repetida a cada 48 horas, exceto aos domingos, até a alta (após 14 dias de início dos sintomas ou pelo menos 72 horas para os assintomáticos). Além disso, a fisioterapeuta auxiliará na avaliação da função respiratória e na orientação de exercícios após a conclusão dos sintomas na consulta de alta e por telefone durante o acompanhamento”, descreveu.
Hermano enfatizou que somente o médico e o enfermeiro entrarão no cômodo onde estiver o paciente. “Ao entrar na residência, todos os profissionais deverão usar máscaras, luvas, capotes impermeáveis e toucas”, advertiu ele. Ainda de acordo com o coordenador do projeto, na condição de se avaliar um quadro clínico grave, seja por teleconsulta ou durante a visita domiciliar, será indicada imediata transferência ao serviço de emergência. Nesse caso, por serem trabalhadores cadastrados na Fiocruz, serão encaminhados para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
Por fim, serão distribuídas máscaras cirúrgicas para todos os sintomáticos respiratórios e seus familiares, e as famílias receberão kits de limpeza para auxiliar no controle da infecção dentro da casa, por meio da Associação Brasileira de Expostos ao Amianto do Rio de Janeiro (Abrea-RJ). “A consulta de alta será realizada após o 14º dia, estando o paciente há pelo menos 72 horas assintomático ou imediatamente após a alta hospitalar, para casos que tenham sido internados”, apontou Hermano.
Sobre o amianto
O amianto ou asbesto é uma fibra mineral cancerígena que causa fibrose pulmonar, bem como placas pleurais. Como consequência, os pacientes com doença relacionada ao amianto estão sob maior risco ao contrair a infecção pelo novo coronavírus.
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Imagem: Capa da Radis 29