NE – Após dez meses, investigações ainda não apontaram responsável por vazamento de óleo

Pandemia interrompeu, também, análises sobre impacto no ecossistema

Igor Carvalho, Brasil de Fato

Dez meses depois, o inquérito policial que apura a responsabilidade criminal pelo vazamento de óleo no litoral brasileiro, em agosto de 2019, ainda não foi concluído. Assim como a apuração sobre as consequências para o ecossistema, que foi foi prejudicada pela pandemia do coronavírus.

Responsável pela apuração criminal do vazamento, o Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte (MPF-RN) informou que o inquérito está em andamento e “não há, no momento, fatos novos a serem divulgados”.

O Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), consórcio formado pela Marinha, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foi dissolvido em março deste ano, também sem apontar os responsáveis pelo crime ambiental. O grupo também investigava o vazamento e realizava procedimentos de monitoramento das ações pontuais de limpeza dos vestígios.

As consequências do vazamento de óleo para o ecossistema é o motivo da criação do Comitê UFPE-SOS Mar, coordenado por Gilberto Rodrigues, professor de ecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os estudos realizados pela equipe foram interrompidos em abril deste ano, por conta da pandemia do coronavírus.

“Não conseguimos ainda identificar os impactos para os animais. Na costa de Pernambuco, que é pequena, temos cinco estuários que possuem manguezais, esses cinco estuários foram impactados. Ainda não conseguimos medir porque na medida em que o óleo chega ao manguezal, a densidade da água muda. Esse óleo desce e se mistura ao mangue”, afirma Rodrigues.

Outra preocupação dos ambientalistas era o impacto do óleo às regiões de corais do litoral brasileiro. Miguel Mies, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de Pesquisas do Coral Vivo, é otimista sobre a recuperação das áreas, mas pede prudência até que os estudos estejam finalizados.

“Como esse vazamento de óleo aconteceu muito longe, além da plataforma continental, em áreas oceânicas, pouco da fração solúvel (mais tóxica) deve ter chegado aqui, mas ainda observamos que tinha um pouco de fração solúvel no óleo que chegou na costa. A gente percebeu nos recifes brasileiros uma quantidade irrisória de óleo. Então assim, passamos muito bem. Ainda estamos avaliando o resultado da fração solúvel, ela perdeu força, mas ainda precisamos de teste”, diz Mies.

Mais petróleo

No último dia 25 de junho, manchas de óleo voltaram a aparecer em praias de Pernambuco, Bahia e Alagoas. De acordo com a Marinha, “os resíduos apresentaram perfis químicos compatíveis com o material que atingiu a costa brasileira, sobretudo no Nordeste, em 2019”.

Já o professor Gilberto Rodrigues aponta que “essas bolotas de piche foram avistadas em vários lugares no litoral de Pernambuco. Os moradores ficaram com os pés sujos do piche. O que achamos é que foi o óleo que ficou preso nos corais e está sendo liberado com a mudança de correntes”.

Histórico

O vazamento de óleo ocorreu em setembro de 2019 e atingiu 1.004 localidades em 11 estados, segundo o Ibama. A Marinha estima que 5 mil toneladas do líquido atingiram a costa brasileira.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Imagem: Óleo na praia de Pirambu, Foto: Agência Sergipe de Notícias /MPF

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