As milícias nos Estados Unidos e a reação negra

por Elaine Tavares, em Palavras Insurgentes

Nos Estados Unidos são bastante comuns as milícias ou grupos paramilitares que reúnem centenas de pessoas em bandos fortemente armados para defender causas no geral relacionadas ao supremacismo branco. Como lá a compra de armas é liberada não é nada incomum dar de cara com esses grupos, vestidos a moda militar, carregando metralhadoras e fuzis de última geração. Atualmente são pelo menos 160 diferentes grupos de milícias que se auto intitulam “patriotas” em luta para que os Estados Unidos não sejam tomados por estrangeiros, negros e pobres. Eles são o braço armado de cerca de 630 outros movimentos civis que se apresentam como lutadores pelos direitos civis, o principal deles sendo o direito de andar armado. A maioria desses movimentos se diz contra o governo federal alegando que os governantes estariam vinculados a tramoias globais de ameaça à paz. Praticamente todos esses grupos têm suas raízes em organizações racistas e antissemitas, como a histórica Ku Klux Klan.

Pois nesse último dia da independência – 4 de julho – os estadunidenses foram surpreendidos com a aparição de uma milícia bastante diferente, também vestida a moda militar e fortemente armada, mas com uma diferença radical: todos negros. É a milícia NFAC, sigla para “Not Fucking Around Coalition”, algo assim como um “não brinque com a coalizão”. No dia em que os racistas costumam se manifestar em frente a uma estátua dedicada à Confederação num famoso parque da Georgia (berço da KKK) , milhares de negros surgiram em colunas, armados até os dentes para enfrentar os racistas em frente a obra que é considerada uma apologia ao racismo. 

Naquele dia, os manifestantes se colocaram em frente a escultura e provocaram: “Não estou vendo os boogie boys, os 3% e todo o resto dos racistas assustados . Estamos aqui! Onde vocês estão! Estamos aqui, na sua casa!” E quando os jornais falaram em manifestação dos negros, as lideranças da NFAC rebateram: ““Somos uma milícia negra. Não somos manifestantes. Não viemos aqui fazer discurso nem cantar. Não é isso o que fazemos”. E para deixar ainda mais claro, John Johnson – Mestre Jay – um dos líderes afirmou: “Não sou um manifestante, sou um general a mando da minha milícia”. 

Dias depois, no 25 de julho, a milícia realizou outra marcha, desta vez na cidade de Louisville, no estado do Kentucky, pedindo justiça para Breonna Taylor, uma mulher negra que foi assassinada dentro de seu apartamento por policiais à paisana. “Queremos saber o que está sendo feito sobre esse assassinato. Se não nos dizem nada vamos pensar que não estão fazendo nada”, salientou Jay. 

A NFAC está sendo comparada ao movimento dos Panteras Negras, uma organização urbana socialista e revolucionária, famosa nos anos 60, que patrulhava as cidades fiscalizando as ações da polícia. Ainda é cedo para essas comparações, mas que a força da milícia negra nessas duas últimas ações teve repercussão no país, isso teve. Tanto que vários “famosos” negros estão tuitando e falando com alegria sobre essa aparição. 

As coisas esquentam no país do Tio Sam, em pleno momento de eleição. 

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