Por conta da militarização da resposta governamental ao desmatamento e às queimadas na Amazônia, o Ministério da Defesa foi o principal favorecido na distribuição de R$ 630 milhões recuperados pela Lava Jato. No Estadão, André Borges informou que 84% desse montante (cerca de R$ 530 milhões) foram repassados para a pasta e distribuídos para as Forças Armadas.
Por decisão do STF de setembro de 2019, o valor obtido pela Lava Jato deve ser usado exclusivamente para financiar a fiscalização e o combate às queimadas na Amazônia. No entanto, a Corte não especificou de que maneira os recursos deveriam ser aplicados, o que liberou o governo Bolsonaro a dividi-los a seu critério.
A Defesa argumenta que o dinheiro está apoiando sua presença “estrutural” na Amazônia, onde conduz a Operação Verde Brasil 2 desde maio passado. O restante do valor acabou sendo dividido entre Ibama, Incra e o Ministério da Agricultura. Órgãos como ICMBio e Funai não receberam repasse.
Alessandra Cardoso (Inesc) critica a concentração de recursos e o baixo volume destinado para órgãos de fiscalização e controle ambiental: “O governo não só perdeu a oportunidade de usar os recursos da Lava Jato para reforçar a política de controle do desmatamento na Amazônia que estava funcionando, como atuou para desmontá-la ainda mais.”
Como o Estadão ressaltou em seu editorial de ontem (12/8), o governo segue batendo cabeça e falando o que não deve, sem apresentar qualquer resultado que possa ser útil para sustentar sua argumentação. “O governo tem muito a dizer. Só que tudo o que diz despeja combustível nas chamas que devoram os biomas e as oportunidades do país”.
Em tempo: O BR Político destacou a reação do Greenpeace Brasil à fala fantasiosa de Jair Bolsonaro, sobre as queimadas da Amazônia serem “uma mentira”. “Ignorar e distorcer a realidade não a tornará diferente. Um presidente da República deveria saber disso”, disse a organização, em nota. “Mentira é dizer que há empenho do governo para combater o crime ambiental, enquanto servidores comprometidos estão sendo sumariamente demitidos, intimidados e silenciados, e as estruturas de proteção ambiental desmontadas”.
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Queimada próximo a Porto Velho (RO), em agosto de 2019 (Foto: Victor Moriyama/Greenpeace)