Enquanto alguns setores da agropecuária apresentaram lucro nos últimos meses, outros amargam prejuízos. Agricultores familiares estão entre os mais prejudicados.
por Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, em CPT
A produção agropecuária está presente na nossa vida, no cafezinho que tomamos para começar bem o dia, no churrasco de domingo e em muitas outras situações. Ela é a responsável pelo longo percurso dos alimentos até chegar à feira mais próxima. Esse setor tão importante para a economia brasileira, assim como os outros setores, vem sendo impactado pela pandemia do coronavírus. Mas esses impactos têm ocorrido de forma desigual. Enquanto alguns segmentos da agropecuária apresentaram alta no período, outros vêm registrando baixas.
O episódio 57 do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, ouviu especialistas para entender como a pandemia afeta o setor agropecuário brasileiro e por que, apesar da crise, ele tem se saído melhor até aqui do que outras atividades econômicas. O programa também conversou com trabalhadores rurais, que relatam os impactos do novo coronavírus para a saúde e o bolso da categoria.
Sobe e desce
De acordo com dados do IBGE, o PIB do setor agropecuário somou, em 2019, 322 bilhões de reais, que corresponderam a 5,2% do PIB do Brasil. O PIB, ou Produto Interno Bruto, é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Esses números indicam a participação significativa da produção agropecuária na economia brasileira. O setor abrange todo o processo de produção agrícola e pecuária, desde o início do trabalho na fazenda até a chegada do alimento a supermercados, bares e restaurantes para nosso consumo.
Vários segmentos compõem o setor, e eles vêm sendo afetados de maneira desigual pela pandemia. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, no acumulado de janeiro a junho deste ano, a agroindústria, por exemplo, apresentou uma baixa de 0,24 por cento no PIB, enquanto, no mesmo período, o segmento de produção de insumos apresentou resultado positivo de 1%.
Essas disparidades são analisadas, no primeiro bloco do programa, por Renato Fontes, professor de Economia Rural da Universidade Federal de Lavras, e Bernardo Campolina, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. Os pesquisadores também explicam por que, ao contrário de outras atividades econômicas, a agropecuária tem registrado aumento no número de contratações e deve fechar o ano de 2020 em alta mesmo com a pandemia.
Trabalhadores rurais: o elo mais frágil da cadeia
Engana-se quem pensa que os trabalhadores do campo, por estarem mais distantes das grandes metrópoles, estão livres dos impactos do novo coronavírus. Por garantirem a produção de alimentos que abastece as cidades brasileiras, eles não tiveram direito ao isolamento social. E se regras, decretos e vistorias sanitárias para conter a doença já são complicados no perímetro urbano, no campo, a fiscalização é ainda mais precária.
O crescimento do número de casos de covid-19 com a interiorização da doença pelo país, a dificuldade de acesso ao SUS e ainda o temor do agravamento de violações aos direitos humanos no campo, como trabalho escravo, se tornaram problemas para os trabalhadores rurais. A pandemia também tem pesado no bolso da categoria, principalmente no caso de quem trabalha por conta própria e sentiu na pele a redução do escoamento da produção em razão de problemas diversos.
Os relatos dessa segunda parte do programa foram feitos por Xavier Plassat, agente há mais de 30 anos da Comissão Pastoral da Terra Araguaia Tocantins, em Araguaína, Lucimar Martins, agricultora quilombola do município de Simonésia e coordenadora geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar em Minas Gerais, e Lucivanda Rodrigues da Silva, trabalhadora rural e integrante da direção nacional do Movimento de Mulheres Camponesas.
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Mesmo com a falta de incentivo à agricultura familiar, campanha nacional do MST já doou 1.200 toneladas de alimentos nas periferias do país – Tomaz Silva/ Agência Brasil
